O malandro

Sexta-feira, cervejinha gelada, tira-gosto, jogando conversa fora, relaxamento, eu também sou filho de Deus. É muito bom. Descontração total, esquece-se de tudo, vive-se o momento. Quer coisa melhor?

Ouve-se também de tudo. Kaká é melhor do que Messi, ‘cê tá louco!!! Messi é melhor do que Pelé, você é maluco, é? Aquela mulher é um avião, não acho isso tudo não. Aquele cara é viado, ‘cê tá brincando!!!

Mesa vizinha, muito próximo, não pude deixar de ouvir que as pessoas não falavam muito bem do atual Presidente da República. É, mas temos que reconhecer que o cara é inteligente.

Inteligente, não, ele é malandro, ele é malandro.

Que se façam restrições a isso ou aquilo, que se façam restrições às limitações culturais (não confundir com inteligência), que se diga que não pertence à encantadora elite brasileira, que se diga que é um semi-analfabeto, que se diga que não daria um voto a ele, ou a quem quer que apoie, que se diga o que quiser, mas chamar de malandro o homem eleito o estadista do mundo (faço um esforço danado e não consigo lembrar de outro político brasileiro, de qualquer época, que tenha recebido essa honraria), para mim é um legítimo atestado de…

Não há mais o que dizer, trata-se de algo que só Freud conseguiria explicar.

Por duas vezes pelo menos, em épocas diferentes, o jornalista Luis Nassif foi bastante elogiado pelas pessoas Brasil afora por um texto que lhe foi atribuído, um texto de uma agressividade enorme contra o presidente. Percebi então que elas tinham um grande respeito pelo jornalista, a ponto de elogia-lo e espalhar o seu texto pela internet.

Nas duas oportunidades Nassif negou no seu blog a autoria do texto (qualquer um que o conhecesse minimamente veria que nem de longe, pela linguagem usada, poderia ser dele). Para mim, entretanto, ficou registrada a credibilidade que ele tinha diante das pessoas.

Recentemente, sob o título “Índia apoia Lula para a ONU”, essa notícia foi veiculada:

Após a derrota de seu candidato para o sul-coreano Ban Ki-moon em 2007, o governo indiano avalia que terá no ano que vem mais chances de indicar o próximo secretário-geral das Nações Unidas. Mas se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiver entre os postulantes, abriria mão da disputa por ver nele a personificação dos países emergentes e da capacidade de mediação entre ricos e pobres, disse ao UOL Notícias um diplomata ligado à Índia e à ONU.

Aproveito a credibilidade de Nassif para usar um comentário, agora sim, feito por ele (para confirmar a veracidade clique aqui), sobre essa notícia:

É possível criticar a política diplomática brasileira com profundidade ou com besteirol – como, por exemplo, chamar Lula de “simplório”  e Celso Amorim de “trêfego”, como fez o notável analista Otávio Frias Filho*.
Mas não há como bater contra os fatos. Hoje em dia o Brasil tem posição ativa no cenário diplomático internacional – muito maior, aliás, que a projeção da sua força. E Lula tornou-se um dos líderes mundiais mais respeitados e, seguramente, o mais admirado.

Como o mundo se engana. Estadista, não, ele é malandro, ele é malandro.

* Um esclarecimento: Na verdade, Luis Nassif foi irônico ao chamar de notável analista o Sr. Otávio Frias Filho, dono do jornal Folha de São Paulo. Quem acompanha as coisas da política fora do eixo da “grande mídia” sabe o que ele quis dizer.