Os erros de hoje vão se repetir amanhã?

Escudo do Bahia

Por Ronaldo Souza

Nesse sentido, méritos para Marcelo Sant’Ana e sua diretoria. Com acertos e erros, conseguiram tirar o nosso time de uma situação inimaginável até poucos anos atrás.

Fiz este comentário há poucos dias no texto Futebol, política e o Bahia.

Para que as coisas fiquem bem claras, votei em Marcelo Sant’Ana, mas fiz muitas críticas à sua gestão. E para que fiquem mais claras ainda, algumas dessas críticas foram contundentes, mas não foram postadas em lugar nenhum. Todas foram encaminhadas para o site oficial do clube, através da seção Fale Conosco. Como torcedor, não queria fazer comentários que pudessem tumultuar o meu próprio time.

Como qualquer outra administração, acertos e erros caracterizam a administração de Marcelo Sant’Ana e sua diretoria.

Deixemos bem claro. Há um grande e inquestionável mérito na sua gestão. O Bahia se reorganizou sob vários aspectos e, pelo menos em parte, voltou a ser respeitado no cenário nacional. Esse mérito ninguém pode tirar dele.

Os seus erros, que não foram pequenos, praticamente todos se deram no campo.

Para não me prolongar muito, cito um momento quase fatal e recente.

Não compartilho com quem o critica pela contratação de Jorginho quando da saída de Guto Ferreira. Em enquetes feitas, percebia-se facilmente que a maioria dos torcedores queria a contratação do ex-lateral direito da seleção brasileira. Inclusive eu.

No entanto, decepção com Jorginho à parte, a demora com Preto Casa Grande como interino e, muito pior ainda, a sua efetivação foi um desastre.

Ali ficou configurado que Marcelo e sua diretoria nada tinha aprendido com o episódio Charles, o que era, convenhamos, inaceitável.

Talvez há pouco mais de um ano e meio Preto se tornara auxiliar técnico do Bahia. Sem jamais ter sido técnico de futebol na vida, sem jamais ter sido auxiliar em qualquer outro time, aquela era a sua única experiência.

E aí Marcelo e sua diretoria efetivam Preto como técnico de futebol da maior força e tradição do Norte/Nordeste, num momento em que eram evidentes os riscos de rebaixamento.

Um time cujo histórico recente mostra com clareza a enorme distância que o separa daquele que até pouco tempo era a 13ª força do futebol brasileiro.

Ou ninguém se lembra do Clube dos 13?

E para complicar, uma torcida apaixonada como poucas, aliás, assim reconhecida por Carpegiani, com sua larga experiência em grandes times de futebol.

Mas do mesmo jeito que apaixonada, exigente. E, com feridas recentes ainda abertas, a torcida percebeu o erro absurdo cometido pela diretoria.

Àquela altura um erro imperdoável. Pontos preciosíssimos foram perdidos naquele momento.

Chegou Carpegiani.

E nos salvou.

Do pesadelo à quase Libertadores.

O time que com folga conseguiu escapar do rebaixamento já estava batendo à porta da Libertadores da América.

Mas…

O que corre à boca pequena é que, diante dessa possibilidade, os jogadores foram à diretoria pedir um “bicho” melhor caso chegassem lá.

Certo ou errado, não cabe agora entrar no mérito, mas a verdade é que o futebol tem suas próprias regras.

Consta que qualquer possibilidade de negociação, de uma boa conversa, de uma qualquer coisa, foi imediatamente descartada. A diretoria simplesmente disse não.

Um não cujo primeiro eco se deu no estádio do Arruda, quando de forma estranhamente apática aquele Bahia vibrante e entusiasmante, razão de elogios de toda a imprensa nacional, conseguiu perder para o Sport.

Na sequência a Chapecoense e o São Paulo.

Diante das perspectivas que se abriram e dos resultados nos três últimos jogos, dispensam-se comentários.

Volto um pouco no tempo.

Quando há alguns meses Renê Júnior já mostrava seu futebol e importância para o time, que terminaram confirmando-o como o jogador mais importante do elenco. Seu futebol e regularidade foram impressionantes.

A torcida percebeu e acusou; “não podemos perder Renê Júnior”.

Quantas vezes a diretoria foi cobrada para antecipar as conversas para a sua renovação de contrato?

O que fez?

Nada.

Outro erro imperdoável.

E o erro da diretoria do Bahia estava agora se concretizando de duas formas.

Pelo descaso por não lidar com o problema a tempo, uma vez que o jogador só confirmou a excelente fase e despertou o interesse de outros times, como com a forma como o “concluiu”.

Li ao final da tarde de ontem, terça-feira, que Renê já iria hoje, quarta-feira (06/12), para São Paulo fazer exames médicos no Corinthians.

Alguém pode tentar contra-argumentar dizendo que o Bahia não poderia competir com o Corinthians. Concordo, mas se tivessem conversado com ele antes, quando a torcida já deixava bem claro o seu desejo, ele se sentiria valorizado e aí teríamos mais chance.

Renê Junior agora era um jogador livre. Nada mais o prendia ao Bahia ou à Ponte Preta.

Aí sim, não tínhamos a menor chance de competir com o clube paulista.

E o vento levou.

Renê se foi.

Segundo erro da diretoria.

Bellintani e Renê Júnior

Somente há poucos dias fiquei sabendo que Guilherme Bellintani, candidato à presidência do Bahia, foi flagrado conversando com Renê Júnior, foto que você vê acima.

Negociando a sua permanência?

Por que foi dado a um presidenciável a chance de negociar com o jogador?

E os outros?

Se ele fosse bem sucedido, seria um trunfo para a campanha pela presidência? Já pensou a imprensa dizer; “Bellintani nem bem chegou já conseguiu segurar Renê Júnior no Bahia”.

Esquisito, não?

Os erros cometidos pela atual diretoria no futebol estão deixando para a torcida um gosto amargo de fel neste final de ano, quando já começávamos a experimentar o gosto do mel da Libertadores e da manutenção de parte do atual elenco.

Irão se repetir?

Bellintani, candidato apoiado pela atual gestão, ao assumir as negociações com Renê Junior e fracassar não nos deixa outra perspectiva.

Se pensou em largar na frente, não mostrou competência justamente naquilo que foi o grande pecado da administração de Marcelo Sant’Ana; não saber lidar com o futebol.

“Manter o atual elenco, bem sucedido, em grande parte, para os próximos anos. Isso é fundamental.”

Esta é uma das suas promessas.

Nessa largada, deu um tiro no pé.