Duvidar da inteligência de Arnaldo Jabor? Não. Dê um microfone e uma câmera de televisão a ele que você verá que, como poucos, facilmente ele fará uma festa. Infelizmente, porém, não o move o jornalismo, mas servir a algo ou alguém e a necessidade dos holofotes. Muitos artistas, escritores, poetas, jornalistas e políticos fazem isso com extrema competência.
Há poucos anos fui convidado para fazer parte de um belo evento de endodontia. Era, na verdade, a segunda vez que iria participar dele. Na primeira, cada professor deu a sua aula e pronto.
Dessa vez, não. Seria diferente (e interessante). Éramos seis brasileiros e 2 estrangeiros. A cada dupla de professores (falando de um mesmo tema, “defendendo e atacando”), todos éramos chamados à frente para participar de um debate. Após cada confronto, como queria o evento, ficávamos debatendo.
Confesso que no início fiquei um pouco preocupado e explico porque. O professor que faria o “confronto” comigo era daqueles bons de gogó. Até aí, sem problema. Ocorre que era daqueles que jogam para a arquibancada. Até aí, sem problema. Ele era inteligente. Aí está o problema.
“Enfrentar” profissionais inteligentes que jogam para a arquibancada é sempre um risco. Você está voltado para apresentar um tema, defender um ponto de vista, colocar argumentos consistentes… Ele está voltado para o seu erro. Ele não pensa em defender um ponto de vista, às vezes nem o tem. Ele quer agradar, dizer o que a plateia deseja ouvir. É comum serem bons comunicadores e é isso que os torna perigosos.
Entretanto, passei a desejar cada vez mais que houvesse o “confronto”. Queria ver até que ponto ele era bom na arte de dissimular. Não houve. Por uma razão qualquer, ele terminou não indo e foi outro professor no seu lugar. Mas, mesmo assim, foi um belo evento.
Alguns sabem como poucos como atrair os holofotes e se adaptam facilmente às circunstâncias. Novo instrumento, nova técnica, nova possibilidade de solução irrigadora, novo material obturador, funcionam muito mais como oportunidade de atrair os holofotes do que qualquer desejo de fazer avançar a endodontia. É comum haver uma grande distância entre o desejo e o real. Entre o que gostariam que fosse e o que realmente é.
Estão espalhados por aí.