Os ovos da serpente

Globo e ovos da serpente

Aroeira ovos da serpente'

“O ovo da serpente”

Por Ronaldo Souza

Um dos filmes mais lindos que vi na minha vida foi “Morangos Silvestres”, de (Ingmar) Bergman, premiado cineasta sueco. 

Seguramente está entre os 10 melhores filmes a que já assisti.

Eu devia ter entre 17 e 18 anos de idade e era o segundo ou terceiro filme de arte que via.

Fiquei fascinado.

Narra a história de um professor que faz uma viagem de carro para receber um prêmio pela obra realizada.

Filme em preto e branco, uma verdadeira obra prima.

Por que escrevo isso?

Ontem, antes de terminar a votação da admissibilidade de encaminhamento do impeachment ao Senado, veio a vontade de escrever alguma coisa.

Já tendo tomado um belo banho (peguei uma chuva forte ontem no começo da noite no Farol da Barra), sentei para escrever.

Tomando um vinho…

Um parêntese.

Sim, os petralhas também tomam vinho.

E o pior de tudo.

Gostam.

Voltando a tomar meu vinho, li o texto abaixo de Pablo Villaça que uma das minhas filhas (que tinha ido comigo ao Farol), acabara de me enviar.

Pablo Villaça é um jovem cineasta brasileiro e a associação foi quase imediata.

Lembrei-me de Bergman e seu filme “O ovo da serpente”.

“O ovo da Serpente” é um filme que fala do surgimento do nazismo.

Ia postar direto o texto de Villaça, mas resolvi fazer esse breve comentário por ver uma enorme semelhança entre a obra de Bergman e o momento que estamos vivendo.

Dei-lhe então o primeiro título lá em cima (intencionalmente colocado no plural) e aqui no texto pus o título do filme e postei as duas imagens.

A charge é de Aroeira.

Vamos ao texto de Pablo Villaça, no seu Facebook

No momento em que escrevo este texto, 21h17 do dia 17 de Abril de 2016, o placar da votação na Câmara se encontra 252 a 81 a favor do golpe. Não há como negar o óbvio: perdemos. Eles terão NO MÍNIMO 360 votos.

Até agora, o que as câmeras no plenário exibiram foi um show de hororres: deputados que parecem pregar em um templo e que justificam seus votos dedicando-os a “Deus”, à suas famílias, “aos cristãos”, “aos maçons” (juro), “pelo direito de ir e vir” (hã?!) e, principalmente “contra a corrupção”.

Votam “contra a corrupção” para removerem uma presidenta que não foi acusada de crime algum e para colocarem, em seu lugar, Michel Temer e Eduardo Cunha. Votam “contra a corrupção” ignorando, entre outras coisas, que deveriam estar votando as tais “pedaladas fiscais”.

É sintomático, aliás, que apenas uns cinco ou seis deputados tenha mencionado as “pedaladas” em seus votos; ora, por que deveríamos esperar o contrário? Afinal, eles estavam julgando exatamente isso, não? Teve até deputado que, num ato falho perfeito, disse estar “cassando O BRASIL em nome do Pará”. Teve menção a Olavo de Carvalho. Teve voto contra a “ditadura comunista” (reparem: VOTO contra a DITADURA).

Muito bem… show de horrores à parte, o fato é que perdemos. E agora, o que acontece? Desespero? Pânico? Dores incapacitantes?

Nada disso. Ao contrário do que muitos deputados disseram durante seus votos (indicando seu despreparo para a tarefa), a Câmara não julgou o processo de impeachment, mas a ACEITAÇÃO de que esta seja enviado para o Senado. Quem decide se o processo será ADMITIDO e, então, JULGADO, são os senadores.

Os próximos passos são a formação de uma comissão no Senado para emitir um parecer sobre o processo – parecer que será julgado e terá que obter maioria SIMPLES (ou seja: 41 dos 81 senadores).

Dilma, então, perderia o cargo? Não. Seria afastada por 180 dias enquanto defesa e acusação são preparadas e apresentadas no Senado. A seguir, o processo seria enfim julgado, precisando obter 2/3 de aprovação (54 dos 81 votos) para que Dilma sofra o impeachment.

Em outras palavras: o golpismo venceu uma batalha importante, mas definitivamente NÃO venceu a guerra.

A partir de agora, tomar as ruas se torna ainda mais fundamental. É preciso que se torne impossível, pro Senado e pra mídia, ignorar nossas vozes (embora a mídia certamente vá tentar ao máximo). Além disso, há um elemento positivo na votação de hoje: os discursos dos deputados pelo “sim”. Como apontei acima, ficou transparente que não julgaram as “pedaladas”, mas questões ideológicas, religiosas e financeiras.

Não há mais como negarem a natureza golpista do que fizeram – houve até deputado dedicando seu voto pelo sim aos MILITARES DE 64.

O espetáculo na Câmara hoje foi tão grotesco que o único efeito possível é mobilizar de vez quem luta contra o golpe. Para completar – e isso é MUITO importante -, eles estão ignorando algo fundamental e que representa um elemento perigoso aos seus propósitos golpistas: os movimentos sociais, trabalhistas e das periferias.

E se posso fazer uma previsão é a de que estes se tornarão maiores e mais fortes. Outra coisa impossível de ignorar.

O dia 17 de Abril de 2016 entra pra História do Brasil como uma mancha. Mas tenhamos orgulho por saber que persistimos do lado certo.

Portanto, lindezas, lambam as feridas hoje. Chorem. (Eles não adoram dizer que “o “cholo é livre”? Aproveitemos a generosidade deles.) Esmurrem as paredes. Digam palavrões enquanto tomam banho. Quebrem um prato ou um copo (só um; lembrem-se de que terão que catar os cacos depois e isso é um saco). Só não entrem em brigas ou trocas de insultos, pois isto não é produtivo e somos, afinal, seres racionais.

Em seguida, ergam a cabeça, respirem fundo e olhem adiante. Este caminho que estão vendo à sua frente significa algo fundamental: que a luta continua.

Obs. Este texto foi postado no dia 18/04 e foi removido no dia 20/04 porque estava procurando a causa do problema que surgiu com a internet e a impossibilidade de postar aqui no site. Pensei ser vírus e como esta tinha sido a última postagem resolvi remove-la para conferir. Hoje, 21/04, o problema foi resolvido e esta não era a causa. Como se pode observar, o texto foi republicado.