Pobre Joel

estupidificação coletiva é um processo lento e gradativo e a televisão tem papel fundamental nesse processo. Ao longo dos anos foi desavergonhada e gradativamente baixando o nível de tal maneira que fez boa parte da sociedade perder a noção de bom senso. Ela se supera a cada dia e não bastassem os BBBs da vida, surgem programas como “As ricas” da Rede Bandeirantes. Não vi, mas li sobre.

Não seria o futebol a exceção. O recente episódio que envolveu Joel Santana (técnico de futebol), o Bahia (a sardinha) e o Flamengo (o tubarão) foi de fazer chorar.

O Bahia, bi-campeão brasileiro, o primeiro time a ser campeão brasileiro e a disputar a Libertadores das Américas, o time que tem a maior quantidade de títulos regionais do Brasil (se estiver errado, por favor, corrijam), com uma das maiores e mais apaixonadas torcidas do futebol brasileiro, certamente não é uma sardinha. Ao passar sete anos entre as séries B e C (por razões que o Brasil desconhece, o que é natural, e que não cabe comentar aqui), perdeu parte do seu prestigio, da sua força, mas, certamente, não é uma sardinha. A prova mais recente disso é o fato de que o Bahia foi um dos times brasileiros escolhidos pela Nike, a maior empresa de material esportivo do mundo, para fazer parte de um grupo seleto. Bahia, Corinthians, Coritiba, Internacional e Santos fazem parte desse “clube”, juntamente com a Seleção Brasileira.

Mas, por mais que ele tenha tentado provar o contrário ao fazer juras de amor eterno, beijado mil vezes a sua bandeia, foi como sardinha que Joel se referiu ao Bahia naquele fatídico “Entre amigos”, programa de esportes do SPORTV.

Abro um parêntese para dizer que não assisto ao referido programa. Já há alguns anos sou portador da síndrome “não consigo ouvir Galvão Bueno”, diagnosticada como incurável. Diante da repercussão que teve o programa, vi na internet a parte referente ao momento específico em que Joel atinge o ápice da (estou em dúvida se chamo de estupidez ou uso uma expressão mais sutil, como insensatez). Gargalhadas ecoaram.

Aproveito para abrir outro parêntese. Aquele momento foi de extrema infelicidade e grosseria para com um time de futebol com as tradições do Bahia, como teria sido com qualquer outro. Aquelas gargalhadas refletiram algo que faltou também aos jornalistas presentes; sensibilidade. Confesso, porém, que não me surpreendeu. Uma coisa que aprendi há muito tempo foi que as aparências enganam.

É claro que a torcida do Bahia ficou horrorizada, como qualquer outra ficaria, ao ver aquele momento de grosseria imperdoável com o seu time. Também fiquei, mas não por essa razão. Fiquei horrorizado pela pobreza de espírito que reinou naquele momento.

Nesse processo de estupidificação, Joel não percebe que muitas vezes, sutilmente ou não, episódios como aquele são usados para tornar “folclóricos” os seus personagens. Do folclórico para o ridículo é um passo. Nesse episódio, o passo foi dado.

A mídia se enganou, e não foi pouco, ao colocar que a torcida do Bahia “chorava” a saída de Joel do Bahia. Muito pelo contrário, ela festejou. Por que? Porque ela tem a mesma percepção que a própria imprensa tem e deixou clara nesses últimos dias; Joel é um técnico ultrapassado (se quiser ser mais sutil, diga como disse Lédio Carmona no seu blog, um técnico de “ideias anacrônicas”).

Os resultados do Bahia com Joel no Campeonato Brasileiro de 2011 foram iguais aos de Renê Simões, a quem ele substituiu, com uma diferença: com Renê o time jogava melhor. Atribuir a ele a conquista da vaga na Copa Sul-Americana em 2012 é, no mínimo, equivocada. Uma combinação de resultados, inclusive aquele absolutamente inesperado Cruzeiro 6X1 Atlético Mineiro, contribuiu muito para isso.

Os resultados de Joel neste início do Campeonato Baiano foram pobres (em parte aceitáveis por ser início de temporada), mas muito pobre e inaceitável foi a forma como o time jogou em todas as partidas. O presidente do Bahia, que deve ter as suas razões, não, mas a torcida festejou a saída de Joel.

A torcida chorou, isso sim, pela forma melancólica como ele deixou o time. O seu comportamento aqui em Salvador nos dias que antecederam a ida para o Flamengo teria sido pueril, se fosse um jovem técnico diante da possibilidade de ir para o Flamengo, para o Rio de Janeiro, de estar ao alcance da imprensa carioca, vitrines irresistíveis. Não se pode aplicar a palavra pueril para alguém com a experiência de Joel Santana. Foi muito mais do que isso.

A questão ética, na verdade a ausência dela, foi outro desastre, ainda que se argumente que no futebol é assim. Tudo foi tramado com Vanderlei Luxemburgo ainda técnico do Flamengo. Aliás, os não flamenguistas estão adorando ele ter ido para o Flamengo. Acreditam eles que Joel Santana, Ronaldinho carioca e Patrícia Amorim (presidente do Flamengo), juntos têm grande chance de arrebentar o clube, Zico que o diga. Como dizem que o verdadeiro projeto dela, Patrícia Amorim, é candidatar-se a algum cargo político, possivelmente vereadora (pelo menos por enquanto), esse projeto parece andar meio ameaçado.

Ronaldinho carioca não consegue mais se conter diante da força que tem no Flamengo e é autor de frases que falam por si: “Agora, quem manda obedece”. O que ele faz com a presidente do Flamengo e a sua diretoria nos dá a sensação de pena e tristeza. Pena por ver pessoas se submeterem ridícula e publicamente a essa total inversão de valores e hierarquia e tristeza por ver um clube com a tradição do Flamengo aceitar tudo isso.

Atribui-se ao técnico de futebol a missão de comandar o time. Com todos os seus defeitos e virtudes, do alto do seu currículo, Vanderlei Luxemburgo não conseguiu. Brigou com o dono do time. Perdeu o cargo de comandante do time. Qualquer técnico inteligente que fosse sondado para substitui-lo, no mínimo deveria pensar que, ao aceitar ser comandado por um comandado, a carreira de comandante estará ameaçada.

Com o seu comportamento “pueril”, Joel não percebeu uma coisa elementar, de profundidade menor do que piscina para bebê. Ao aceitar a condição de técnico do Flamengo neste momento, o seu descrédito pode vir como prêmio. Já se sabe quem vai mandar. E não será ele. Os jornalistas que disseram que &ld
quo;Joel será um bombeiro” não quiseram dizer exatamente isso.