Prisioneiro de si mesmo

Por Ronaldo Souza

No seu livro, “A Revolução dos Bichos”, o escritor inglês, George Orwell, um socialista democrático, faz uma metáfora muito inteligente sobre a União Soviética de (Joseph) Stálin.

Um grupo de animais resolve tomar e assumir a gestão de uma fazenda de humanos.

Os animais mais inteligentes assumem os postos de comando.

Ao longo da história, entretanto, os comandantes, que aos olhos dos outros animais pareciam inteligentes e dignos, avançam sobre os direitos de todos e a corrupção de hábitos e normas passam a ser a tônica. 

A esperteza, frequentemente confundida com a inteligência, mostra sua cara. Ali estava a verdadeira condição daqueles que agora estavam à frente do destino dos animais.

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

Animais tomaram posse e assumiram a gestão da fazenda Brasil.

Diferentemente do que todos dizem, já digo há muitos anos que o poder não corrompe; o poder mostra o homem.

Mais cedo do que se podia imaginar, eles se mostraram.

Por que falei “avançam sobre os direitos”?

Avançar sobre algo ou alguém é uma forma de exercer a força, jamais evolução da espécie.

Evoluir é desenvolvimento. Só humanos desenvolvem.

Dominar é instinto. Uns dominam, outros são dominados.

 

Direitos são fruto de anos de lutas e conquistas. Representam um mecanismo de proteção aos indivíduos da sociedade.

Sociedades civilizadas protegem o indivíduo e permitem a ele o direito de viver sob o manto protetor da justiça.

Em ambientes em que níveis de superioridade são determinados sobre os direitos do indivíduo, perde-se o verdadeiro sentido da vida humana.

A obdiência imposta jamais será compatível com o real desenvolvimento humano, por conseguinte, com o real desenvolvimento de um povo.

Quando se diz “estamos nas trevas, estamos vivendo na escuridão”, o que se está dizendo é que não estamos vivendo à luz do nosso bem maior; o direito do indivíduo.

Estamos nas trevas, estamos vivendo na escuridão.

Um clarão no céu

E de repente, um raio de luz rompe o céu brasileiro.

O clarão foi muito forte.

Mentes e corações se iluminaram de uma luz muito intensa.

Foi imediata e consensual a reação da sociedade brasileira.

Artistas, jornalistas, políticos, empresários, todos se renderam ao discurso de Lula.

“Lula falou como um estadista, como candidato à presidência e com a experiência de quem já governou o Brasil. Em seu discurso, focou em vários pontos falhos do governo Bolsonaro”.

Inacreditável, mas isso foi dito por Miriam Leitão, jornalista da Globo.

A própria Globo também se rendeu à força do discurso.

Não, não, podem parar.

Não pensem que sou tolo.

Ao dizer que Miriam Leitão e a Globo não resistiram ao discurso de Lula não estou imaginando que a Globo agora é Lula.

Esqueçam.

Sem chance.

Foi a Globo quem pariu o ovo da serpente.

E foi ela quem criou a manada.

A manada é obra da Globo.

Os demais órgãos de imprensa só foram e continuam sendo periféricos da Globo e disso não passam.

Foi a Globo que fez vocês vestirem aquele ridículo luto como etapa preparatória para o golpe em Dilma.

E vocês sabem quem são esses vocês de quem falo.

Foi a Globo que tentou destruir Lula, o PT, Dilma e quem mais pertencesse a esse grupo, estigmatizando-os como os pecadores do mundo.

Foi a Globo que não poupou as famílias dessas pessoas, particularmente a de Lula.

Foi a Globo que tripudiou sobre a mulher, filhos e netos de Lula.

Demais órgãos da imprensa, empresários, boa parte do judiciário brasileiro, Moro, Dallagnol, procuradores, Lava Jato, ministros, juízes…, todos, não passaram de meras ferramentas da Globo.

E o gado?

Esse então!

Em outras palavras, a Globo e Miriam Leitão continuarão sendo o que sempre foram.

Nossa arma é a vacina

Diante desse panorama, tudo era possível.

Mas quem poderia imaginar que um milagre também acontecesse depois da fala de Lula?

De repente, o distanciamento social e o uso da máscara passaram a ser aceitos e vistos no presidente da república e na sua equipe e por eles estimulados. Assumiu-se o reconhecimento de que as drogas milagrosas recomendadas para prevenção e cura da Covid-19 não têm comprovação.

De repente, a imprensa foi tratada de maneira gentil e o lockdown passou a ser defendido, com o presidente se gabando de te-lo defendido desde o início!

De repente, aparece um globo sobre a mesa em que Bolsonaro faz suas lives. Ali tivemos a convicção de que a sua equipe, tão importante nas iniciativas de combate à pandemia, tinha descoberto que a Terra era redonda!

E eu que já estava me acostumando com a sua imagem Bolsonariana!

Meu deus, de maneira absolutamente inacreditável, até a vacina deixou de ser coisa de maricas e passou a ser defendida.

Criou-se até um lema no governo, bastante compartilhado, inclusive pelo seu trio genial de assessores: zero um, zero dois e zero três.

Não é uma verdadeira maravilha?

Um milagre!!!

Na sua sabedoria e bondade, o povo costuma ter um olhar complacente e talvez deva ser assim.

E de uma certa forma tem sido assim.

O olhar mais compreensivo sobre os carentes não só tem sido estimulado como costuma ser muito bem-vindo.

Ao mesmo tempo, porém, ele, o povo, percebe que momentos de carência refletem grande fragilidade emocional e psicológica.

Nessas horas o povo também é capaz de surrpreender. Ele sabe que o imitador, por mais que tente, jamais será o original!

Preso ao seu destino, Bolsonaro desdiz o que acabou de dizer, desfaz o que acabou de fazer.

Não são correntes nas suas pernas ou nos seus braços.

Ele está acorrentado à deformação na sua vida.

Observem no seu semblante um homem eternamente acuado, com medo (confira no vídeo acima).

Não se consegue viver com uma tormenta incontornável na mente e na alma!

O homem encarcerado na mente e na alma é autofágico.