Quando a inteligência nos compromete

No encerramento de uma conversa/entrevista com estudantes e recém formados em jornalismo, perguntaram a Nelson Rodrigues; que conselho você daria a esses jovens? A resposta foi imediata: envelheçam.
 
As minhas opções políticas não divergem simplesmente, colidem com as de Nelson Rodrigues, mas, independente de terem ideias contrárias às minhas, sempre parei para ler e ouvir os homens inteligentes, os que acrescentam. O sentido que Nelson Rodrigues deu ao envelhecer é bem claro.
 
O presidente do Bahia não é um homem estúpido, pelo contrário, podemos dizer que é inteligente. Faltam-lhe, entretanto, muitas coisas, entre elas, sensibilidade e sabedoria. Por isso, arrisco-me a dizer que, presente naquela conversa, talvez ele não conseguisse alcançar o significado que Nelson Rodrigues emprestou à palavra envelhecer e muito menos inclui-lo no seu repertório.
 
Ao trazer Joel Santana de volta para o Bahia, é possível que a inteligência de Marcelo Guimarães Filho tenha se manifestado.
 
Não, não, por favor, não me bata, pare, tenha calma, respire fundo, vamos conversar, deixe eu explicar.
 
Esqueça que é um técnico fora de sintonia com o futebol atual e que cada um de nós vai ter três enfartes por jogo, esqueça tudo. Estou falando de outra coisa. 
 
Em primeiro lugar, talvez nenhum outro técnico conheça o atual plantel do Bahia melhor do que ele. Não há como negar-lhe experiência no futebol. Não há como negar que o seu “envelhecimento” acentuou uma característica importante que ele possui; conversar e saber envolver os jogadores. Acho que das muitas coisas que o time precisa, neste momento essa é uma das mais importantes.
 
O time está dividido. Há um grupo comandado por Souza, que está arrebentando o time, e outro (será que existe mais?), do qual fazem parte Fahel, Helder e outros, que não participaram desse vexame. Observe que com esse mesmo plantel o Bahia venceu jogos importantes no ano passado. Por que? Porque teve vontade, determinação. A falta de qualidade era compensada pela “família” (não é assim que eles gostam de dizer quando o time está unido, forte). Não sendo uma família, um time sem talento, como é o caso do Bahia, não consegue jogar.
 
À parte a reconhecida irresponsabilidade de Souza, imperdoável, e a atitude imatura, estúpida e inconsequente de Titi, Marcelo Lomba e Neto (e de quem mais tenha participado), é possível que Joel saiba lidar com esse problema. É claro, entretanto, que isso não significa que o time vai nos encantar. Quanto a isso, sem chance. Longe de ser o ideal, quem sabe não seja má ideia a sua vinda. Que os deuses do futebol nos protejam mais uma vez.
 
Que fique bem claro, no entanto, que o presidente do clube está visando única e exclusivamente o campeonato baiano, que, por incrível que possa parecer, o Bahia ainda tem chance de ganhar. Se acontecer, teremos que engolir Joel dizer que “deu” mais um título ao Bahia. E, pior, atura-lo no Campeonato Brasileiro. Nossa Senhora!
 
O presidente do Bahia já deu provas de que não é de todo um bobo e é por essa razão que evito chama-lo de incompetente. Preferia que fosse. Trazer Joel e ganhar o campeonato poderá ser interpretado como demonstração de ousadia e até de inteligência. É justamente aí que ele se complica mais ainda. Alguém não saber o que faz é e será sempre aceitável e por vezes perdoável. Porém, quando você sabe o que fazer, mas interesses menores, pequenos, sobrepujam o fazer certo, aí não é aceitável, e muito menos perdoável.
 
Não sei porque, mas sempre tenho a impressão de que o mal do Bahia não é incompetência. Aí a minha imaginação vai longe e tudo é possível pensar.
 
PS. Presidente, assisti hoje ao novo programa do ESPN, o Bola da Vez (muito bom por sinal), e o entrevistado, sabe quem foi? O Presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil. Isso presidente, ele mesmo, um dos poucos que tiveram coragem de tentar evitar a lambança da Globo naquele triste episódio em 2012 em que os presidentes dos clubes brasileiros abandonaram a licitação ganha pela Record e correram para a Globo, garantindo a ela a continuidade do monopólio do futebol brasileiro até 2018. Presidente, chegue aqui, mais pertinho cara. Aqui pra nós, bem baixinho; passei mal de tanta inveja que tive do Atlético Mineiro.