Perdemos o campeonato baiano e provavelmente seremos desclassificados da Copa do Brasil pelo Luverdense na próxima quarta-feira. Você pode não querer admitir “em público”, mas sabe muito bem que não temos time para ganhar de ninguém com 3 gols de diferença. Na sequência, como você também sabe, há grandes chances de voltarmos para a segunda série do campeonato brasileiro. Apesar de, ainda com alguma cautela, o que é natural, alguns comentaristas nacionais dizerem isso, não precisamos deles para saber que hoje o Bahia é o pior time da série A.
Aceita-se perder um campeonato, afinal é impossível ganhar todos. O Bahia já perdeu outros campeonatos, mas cada vez mais isso se torna uma rotina na sua outrora gloriosa vida. Pior, agora ele não perde, é humilhado.
Logo após a volta para a série A, no mesmo ano em que o Vitória caiu, o presidente do Bahia usou os mesmos pobres e ridículos argumentos que Osório Vilas Boas e Paulo Maracajá (na sua eterna pobreza de espírito) usavam com frequência: o Bahia é isso, aquilo, enquanto que o nosso rival… O que disse o presidente? Que o clube tinha planejamento, não era como certos clubes, que ia voltar a ser campeão seguidas vezes, etc, etc. Era O Bahia de ontem com roupa de hoje.
De lá para cá o time foi sempre ridículo; duas quase quedas no campeonato brasileiro, participações desastrosas na Copa do Brasil, não lembro se chegou a jogar a Copa Sul Americana… ah, espere aí, tem alguém aqui do lado me soprando que jogou sim, duas partidas memoráveis contra o São Paulo (o presidente achou o máximo a ida para essa copa). Só em dois momentos, dois momentos, ele foi alguma coisa melhor. Vamos a eles.
Quando Falcão assumiu o time (2012), da noite para o dia parecia que era o Barcelona; compactação, grandes exibições e goleadas. Não me pergunte como aconteceu, não faço a menor ideia.
Também não me pergunte por que, mas o time começou a cair. Chegou aos tropeços às finais do campeonato (lembra do gol de Rafael Donato no jogo contra o Vitória da Conquista?). Chegou às finais, contra o Vitória, para quem já tinha perdido uma partida e empatado outra. Foi campeão sem ganhar para o seu maior rival. Todo mundo viu, já não era o mesmo time. Se o campeonato demora um pouco mais, sei não.
O outro momento que nos trouxe um pouco de alegria foi a chegada de Jorginho no segundo turno do Campeonato Brasileiro do mesmo ano, 2012. Caminhando a passos largos para a segundona, confirmando o que falei acima, que o time estava em franca decadência, Jorginho reverteu o processo e… ufa, escapamos. Em cada um jogo daqueles eu via uns 15 enfartes na arquibancada, só eu tive uns três.
Lembram de quando o presidente, no seu eterno bom senso (a sensibilidade dele é algo comovente), deu as “boas-vindas” aos times que tinham subido para a série A, o Vitória entre eles? Uma gozação absolutamente sem sentido, como se o Bahia fosse frequentador garantido na série A por todos os anos anteriores. Era, de novo, o Bahia de ontem com roupa de hoje com todo o gás. As mesmas “grandes” sacadas de Osório e Maracajá, o mesmo provincianismo.
Natal, Reveillon, estávamos todos alegres, felizes da vida, e ficamos mais ainda quando vimos Jorginho e alguns jogadores renovarem os seus contratos.
“O Bahia tem um time muito bom, não vamos correr para o mercado, o mercado está aquecido, vamos fazer só contratações pontuais…”. Fiquei preocupado. Meu Deus, ajude a me lembrar, tenho certeza de que já ouvi isso, mas onde foi? Ele me atendeu, mas com uma condição; não diga que fui Eu que lhe disse: foi Angioni.
Mas tínhamos uma garantia; Jorginho. O que ele tinha feito com aquele time era milagre. Imagine agora, com aquelas grandes contratações pontuais que sabíamos que o nosso grande gestor ia fazer.
Jorginho ficou. Porém, já tinha deixado bem claro, às vezes sutilmente, às vezes não, que precisava de reforços. Tenho certeza que, como nós, ele também acreditava no nosso grande gestor de futebol, Paulo Angioni.
Se já tínhamos nos dado muito bem com Kleberson, Zé Roberto, Mancini, Claudio pitbull e outros tantos, que sempre chegaram prontos para jogar (não precisamos ter pressa, esse “prontos” para jogar era dali a 2 ou 3 meses, até pegar forma, era um senhor planejamento), sabíamos que estava tudo sob controle. Assim chegou, por exemplo, Obina.
Completamente fora de forma. Mas, surpresa, já treinando entre os titulares. Jorginho sabia o que estava fazendo. Malandro escolado, mestre no futebol, sabia que não podia contar com determinados jogadores, aqueles que, mesmo jogando pouco ou nada, são nocivos ao grupo, péssimos exemplos. Porém, mesmo escolado, conhecedor das malandragens no futebol, Jorginho não se deu bem. Mexeu com os donos do time. Conhecemos o resultado.
Esqueçam Joel Santana; dessa vez ele não tem culpa de absolutamente nada.
Não perdemos o título no domingo, dia das mães. Não perdemos o titulo no começo do campeonato. Perdemos os títulos desde que os homens que dirigem o Bahia há mais de 10 anos assumiram o clube.
Chego a pensar que não há mais o que fazer. Como pode permanecer uma diretoria em que o presidente, ele próprio, põe nas redes sociais fotos em que está fazendo farras com os jogadores. Em vários desses momentos o Bahia já estava mal e ele pelas noites com aqueles jogadores que estavam destruindo o time.
E os jogadores?
Lomba, você lembra quando seus pais estiveram aqui pela primeira vez (em Pituaçu) e foram recebidos com todo carinho pela torcida do Bahia? Lembra o que disse sua mãe? “Agradeço a essa torcida maravilhosa por todo o carinho e amor que ela tem dedicado ao meu filho. Isso é tudo que uma mãe deseja. Como mãe só tenho a agradecer. Que Deus abençoe todos vocês”.
E o que você fez com essa torcida, Lomba? Traiu a sua confiança. A sua opção foi apoiar a atitude de um cara chamado Souza, por quem hoje a torcida tem desprezo. O paredão, o titular absoluto, o ídolo, transformou-se em um dos principais agitadores do time, que simplesmente destruiu a única coisa que segurava o time; a união do grupo.
Lomba, nesse jogo que terminou se revestindo de grande importância, porque é possível que a partir dele as coisas tomem outro rumo, as câmeras da televisão deram vários closes em você. Percebia-se claramente, o seu desânimo, a sua apatia, a sua falta de forças. É possível até que a expressão do seu rosto tenha refletido a percepção do tamanho do mal que você fez ao Bahia, e quando falo do Bahia falo da sua torcida, porque é a única coisa digna que resta. Por quanto tempo você sofrerá as consequências da sua atitude é absolutamente imprevisível, mas não será por pouco tempo. Porém, uma coisa é certa: sua carreira está manchada.
Ex-capitão Titi, vou relembrar um momento muito bonito que você protagonizou. Lembra quando você foi no Calabar (um bairro de Salvador) e as pessoas daquela comunidade, particularmente as crianças (algumas das quais você carregou nos braços), fizeram uma festa? Não sou de me emocionar facilmente com alguns gestos porque sei o que está por trás de muitos deles, mas confesso que aquele me tocou. E o pior, achei que você também foi tocado, você ficou emocionado.
Pois é Titi, você traiu todo aquele povo. As crianças, que vivem no maravilhoso mundo da pureza e da inocência, ao qual só elas têm acesso, não perceberam e não entendem nada do que estamos falando. Mas os pais, Titi, esses perceberam e entendem tudo direitinho. Aquelas vaias que você e Lomba estão ouvindo são deles. Vocês dois são pais e sabem que os pais se preocupam muito com os exemplos que os filhos seguirão. Será que vocês são capazes de imaginar que eles não deixarão mais que os filhos deles tenham vocês dois como ídolos?
Torcedor, e Souza? O que vamos fazer com ele? No terceiro ano de Bahia, o que ele fez de fato pelo nosso time? Com seu altíssimo salário, quantas vezes ele entrou em campo com as condições físicas mínimas necessárias para jogar uma partida de futebol como jogador profissional? Em que momento ele se respeitou? Em que momento ele respeitou a torcida, ao viver a maior parte do tempo entregue ao departamento médico pelas razões que sabemos? E agora, que ele foi o grande capitão que comandou o movimento no plantel que fez do Bahia o que hoje ele é, um time sem alma, covarde, humilhado, o que fazer com ele? Você acha que ele ainda tem alguma condição de vestir a camisa do Bahia, definitivamente manchada por ele com o seu suor fétido?
Torcedor do Bahia, não permita que mudem o foco. Os culpados não são os jogadores, só alguns deles. E esses terão que pagar pelo que fizeram. Torcidas uniformizadas poderão fazer de conta que buscam por justiça e dignidade e até se tornarem agressivas de mentirinha, de forma bem direcionada sobre eles. Não caia nessa. O foco principal é o presidente, a sua diretoria e alguns conselheiros. São eles os grandes responsáveis por tudo isso.
Torcedor do Bahia, está em suas mãos.