A recente história política do Brasil está repleta de casos que mostram que alguns homens se perdem nos labirintos da vida com relativa facilidade.
Há quem conheça minimamente a política brasileira que possa duvidar da dignidade e da importância de Plínio de Arruda Sampaio? Simplesmente, não. Entretanto, admirador dele que sempre fui, confesso que a sua participação na campanha presidencial de 2010 me frustrou um pouco.
Em determinado momento, diante da iminente vitória de Dilma Roussef no primeiro turno, houve uma “necessidade” de segundo turno. A grande (?) mídia, para muitos o grande partido de oposição no Brasil, percebeu que, se dependesse de José Serra, não teria nenhuma chance de fazer valer o seu objetivo; chegar ao segundo turno e, com ele, tentar impedir a vitória que se anunciava.
Com todo o seu poder, deu espaço para dois outros candidatos. Um deles, Plínio de Arruda Sampaio. Entendo as mágoas do PT de homens como ele, Chico Alencar e alguns outros, e daí a dissidência e a fundação do PSOL. Mas, foi chocante a sua performance, principalmente nos debates, sob a luz dos holofotes. Ah, esses holofotes.
Ali não era o candidato que os anos de vida e a experiência política aconselhavam uma postura sóbria, como sempre fora a dele. Do alto dos seus 80 anos, fez até piadinhas, das quais ouviam-se claramente os aplausos e risos na platéia. Particularmente, um candidato era o mais atacado por ele. Com elegância, a candidata Dilma Roussef respondia aos seus questionamentos e provocações. Ela respeitou a história de Plínio de Arruda Sampaio. Por esse respeito, ela entendeu que naquele momento ele se transformara em uma ferramenta da mídia. Em nenhum momento o agrediu.
Na verdade, era o outro candidato a grande alternativa para a possibilidade do segundo turno. De origem humilde, lutadora, história de vida arrebatadora, Marina Silva foi esse instrumento. Apesar da inconsistência da sua fala, apesar da fragilidade do seu conhecimento dos males do Brasil, foi convenientemente conduzida ao pedestal salvadora do país. Ganhou um espaço na mídia jamais imaginado. Jamais teve a menor chance de chegar lá, mas, ela fez o segundo turno de 2010.
Pelos tapetes vermelhos postos aos seus pés, imaginou que seria ela. Permitiu que José Serra chegasse ao segundo turno e por sua vez mostrar toda a sua inconsistência-fragilidade-incompetência. Mas, isso era pouco. Mostrou de vez o seu caráter. Mas, isso é outra história.
Onde está Marina Silva? Por onde anda ela? Por que não a vemos mais? Devidamente adubada, uma fruta da qual, depois de chupada, só restou o bagaço à beira da estrada.
Há um conceito de que aquele que vence profissionalmente é um homem bem sucedido. Não é à toa que todos brigam por cargos “importantes”. Não é à toa que todos ostentam as suas posições, os seus carros, as suas belas casas; são vencedores. Recorro outra vez a um grande homem, Oscar Niemeyer: “o cara às vezes até cresce profissionalmente, mas não toma conhecimento da vida”.
Como não imaginar as dificuldades enfrentadas por ele para chegar aonde chegou. De origem humilde, negro, venceu profissionalmente e ocupando um dos mais importantes cargos do país, pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que o Sr. Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal, é um homem muito bem sucedido.
Ao permitir histórias como a do Ministro Joaquim Barbosa, alguém que, apesar das dificuldades que enfrenta, vence na vida, o mundo parece querer mostrar que não é tão desumano. Porém, ao fazer o que faz de homens como ele, o mundo se mostra (e aí também se mostra o homem).
Os tapetes vermelhos o conduziram ao pedestal. É lá onde mora o reconhecimento da Casa Grande. Inocência? Digo há muito tempo que o poder não corrompe o homem, o poder mostra o homem. Agora, personagem de várias reportagens, capa de revista, “o menino pobre que mudou o Brasil” é a mais nova fruta a ser saboreada, cujo destino já sabemos qual será. Há sempre uma estrada à espera de um bagaço de fruta jogado pela janela.
O menino pobre, nordestino, pau de arara, semianalfabeto, que não fala inglês, que, ao mudar a vida de 40 milhões de brasileiros mudou o Brasil, foi quem levou Joaquim Barbosa ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, primeiro negro a ocupar esse posto. O menino pobre, nordestino, pau de arara, semianalfabeto, que não fala inglês, que conduziu o menino pobre Joaquim Barbosa ao cargo de ministro tornou-se um homem generoso, qualidade que nem os seus inimigos (não são adversários) negam. O menino pobre que se tornou ministro simplesmente se vinga da vida.
O Ministro Joaquim Barbosa não soube tirar da sua trajetória pessoal algo que o tornasse de fato um vitorioso, um vencedor de verdade. Este, o vencedor de verdade, não se torna um homem pequeno, rancoroso, alguém que se vinga da vida. Pelo contrário, como ser humano tem como característica principal a generosidade de quem, de fato, venceu.
Nos arquivos da História, ele será registrado como um homem de origem humilde que se tornou poderoso. Jamais como um grande homem.