Uma farsa no ar

É possível que você não tenha concordado e até tenha ficado assustado quando eu disse lá como cá, há uma farsa no ar. Não lhe culpo. Mas, tenho minhas razões.

Poderia dar alguns exemplos, mas vou lembrar um que você deve conhecer porque já abordei anteriormente. Já comentei aqui sobre a “indignação” de um colega pelo perigo que passa o ensino da endodontia no atual momento (só não tinha dito que ele foi meu aluno em um curso de aperfeiçoamento em uma cidade do interior da Bahia há alguns anos). Como você definiria a postura desse colega?

Recentemente, mais precisamente há 3 semanas, uma ex-aluna da especialização esteve em um encontro de endodontia. Bem jovem ainda, primeiro evento fora da Bahia, entusiasmada, conhecendo outras pessoas, feliz da vida. Vendo os preços de instrumentos e materiais, surgiram conversas. Continua o diálogo no stand com a pessoa que estava à frente do evento:

– Você é de onde?
– Sou de Salvador.
– Que trem bom sô, já é formada?
– Sou…
– Gosta de endodontia?
– Gosto muito.
– Vai fazer curso de especialização?
– Já fiz.
– Uai, com quem?
– Com Ronaldo
– Ah, não vai ganhar dinheiro…
– ???
– Você tem que fazer o curso do… Aí você vai aprender como se ganha dinheiro.

Mesmo sabendo de quem se trata, devo confessar a minha total surpresa quando soube desse diálogo. Juro que eu pensava que um curso de especialização em endodontia deveria ensinar… endodontia.

Temos eventos da especialidade com plateias numerosas, sites, blogs, fóruns, face-book… importantes meios de comunicação, concorda comigo? Espaços inigualáveis para expressarmos a nossa indignação com o atual ensino da endodontia, com os rumos que ela está tomando, para propor a realização de eventos para discutir sobre o destino da graduação e pós-graduação (preocupação digna de grandes educadores), a preocupação com os nossos alunos, etc. Espaços inigualáveis para disseminar a nossa imagem de professores/ministradores/dadores de curso preocupados com o ensino da endodontia.

Mas, nada melhor do que uma conversa informal, sem “câmeras de televisão” por perto, não é mesmo?

Não é difícil encontrar profissionais com essa postura (na verdade, isso é observado com muita frequência atualmente). Na frente das câmeras, abnegados, verdadeiros altruístas, e por isso reverenciados como grandes mestres. Por trás da cortina…

Como é que você chama isso?