Por Ronaldo Souza
Não é a primeira vez que isso acontece.
De vez em quando me deparo com um texto que escrevi e nunca postei. Simplesmente deixei para faze-lo em outro momento e terminei esquecendo.
Depois é comum não publicar mais.
Claro que há a possibilidade de reler e, se ainda está atual, analisar se vale a pena publica-lo.
Mas confesso que não me lembro de ter feito isso.
Ao buscar um texto para citar no que estava escrevendo, achei este que está aí embaixo e aí percebi que ele não foi postado aqui no site endodontiaclinica.odo.br
Procuro lembrar se o postei no Facebook, mas no site não foi.
Li e achei legal.
Mesmo tendo sido escrito há mais de 3 anos (2015), achei que poderia traze-lo, até porque, por uma feliz coincidência, terminei-o com uma frase que é o tema de um artigo que acabei de escrever e que devo postar ainda neste final de semana.
Vamos lá.
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1959, o começo da glória
Por Ronaldo Souza
– Pai, manda esse menino desligar o rádio que eu quero dormir.
Foi assim que, sem fazer a menor ideia do que já estava acontecendo, nasceu a minha paixão pelo Bahia.
Vindos de Juazeiro (BA) e morando em Salvador há pouco tempo, já vestíamos as cores tricolores.
Mas eram cores de lugares mais distantes, distantes dos olhos.
Mas o amor não precisa de olhos que não sejam os do amor.
Era o amor pelo tricolor das Laranjeiras, o tricolor do Rio de Janeiro; o Fluminense.
Como era comum acontecer, pelo maior alcance das rádios cariocas no interior do Nordeste torcia-se pelos times do Rio.
Como também é comum acontecer, esse amor foi passado de meu pai para o meu irmão mais velho e para mim, o do meio.
Foi o caçula, cuja infância já acontecia em Salvador, que se “rebelou” e nos fez conhecer outras cores.
Criança, não tinha como ver o time que já começava a fazer parte da sua vida. Só podia ouvir. E ainda encontrava o irmão chato do meio para “impedir” que assim o fizesse.
– Pai, manda esse menino desligar o rádio que eu quero dormir.
O que fazem os pais?
Incomodado com a situação, meu pai começou a levar o filho caçula à Fonte Nova.
Cumpria o papel de pai.
Mal sabia que iria além.
E foi, muito além.
Irmanados, pai e filho já não conseguiam ficar sem ir à Fonte Nova.
Já não conseguiam viver sem o Bahia.
O amor pelas cores tricolores que o pai já conhecia trocava o verde do Fluminense pelo azul do Bahia.
E algo muito mais forte do que pode parecer a simples troca de uma cor surgia na vida dele.
Quando não se consegue viver sem, deixa de ser só amor e se transforma no mais fantástico e perigoso dos sentimentos; a paixão.
Aquele mesmo pai que já sabia o que significavam amor e paixão juntos, porque os dedicava aos seus filhos, particularmente a aquele “pirralhinho”, sentia nascer, crescer e tomar conta dele uma nova forma de amor e paixão.
Surgia ali o amor e a paixão de meu pai pelo Bahia.
Tornou-se um apaixonado.
Quantas vezes viajou para acompanhar o time!
Acredito firmemente que ali, na arquibancada, vendo o Bahia jogar, completava-se o homem completo.
Amor e paixão por tudo que fez na vida.
Nesses últimos tristes anos em que quase acabaram com o time e que, ainda que pleno, a idade já limitava as suas idas ao futebol, já sabíamos.
Assim que terminava um jogo em que o Bahia ganhava, o celular tocava. Era ele com a sua inesquecível frase:
– Torcer, só pra time bom.
O irmão caçula, entre tantos méritos, teve também esse; fez surgir no pai uma enorme paixão, acompanhado pela minha mãe, que também passou a torcer pelo Bahia.
Dessa vez, o filho guiou o pai.
Que bom que meu irmão não desligou o rádio quando eu pedia.
Enquanto baixava o volume, sugestão do pai para satisfazer aos dois filhos, explodia dentro dele a paixão pelo Bahia.
O que fez o irmão do meio?
Pegou carona e passou a fazer parte do time.
Devo aos dois, irmão e pai, ambos de saudosíssima memória, o mesmo amor e paixão pelo maior time do Norte e Nordeste brasileiro:
O Bahia.
Hoje, 29 de março de 2015.
Há exatos 55 anos, em 29 de março de 1960, o Bahia ganhava o seu primeiro título nacional.
A Taça Brasil de 1959.
Ainda que num momento em que paga um altíssimo preço por administrações vergonhosas, às quais só resistiu pela sua força, o Bahia é isso:
O maior time do Norte e Nordeste.
E voltará a ser um dos maiores do futebol brasileiro.