Heróis que se desmancham com as primeiras chuvas

BolsonaroMoro

Por Ronaldo Souza

O Dr. Moro sempre disse que a imprensa ajudaria muito à Lava Jato, como de fato ajudou. Na verdade, foi essencial. Se não fosse ela, Moro simplesmente não existiria.

Parabéns, portanto, à gloriosa mídia brasileira, à frente a Rede Globo.

Por questão de justiça, não podemos deixar de lembrar o importante e decisivo papel desempenhado pelos eleitores ambulantes, aqueles que vagam pelas noites perdidas da política.

A Globo mandava eles exigirem padrão FIFA pra tudo, eles exigiam (até que estavam certos, afinal a FIFA é padrão mundial de honestidade, todos sabemos), mandava eles irem para as avenidas paulistas do Brasil, eles iam, mandava eles vestirem preto, eles vestiam (ah, que orgulho tem a classe dos professores dos seus membros que, bonecos de ventríloquo sem graça, ficaram de luto naquele dia; um baita de orgulho),  mandava eles…

Uma sintonia perfeita.

O Dr. Moro, que jurou de pés juntos que seria desonra para ele tornar-se político (leia aqui A fratura exposta da estupidez), agora é político de carteirinha, carteirinha essa assinada pelo não menos brilhante presidente eleito.

Presidente que deverá tomar posse em breve. Não se sabe ainda quando, mas não deve demorar. Impacientes para ver o presidente eleito governar, a equipe do governo está só esperando a confirmação da vinda de Trump para então marcar o dia da posse tão aguardada.

Moro censura pesquisas

Pois é, o democrata Moro não está gostando nada de alguns movimentos da imprensa.

Depois de nomear a nora de Miriam Leitão no setor de comunicação do seu ministério (é bobo ele?), numa clara censura ao DataFolha disse que “pesquisas sobre o tema que indicam mais riscos com a liberação do armamento são controversas”.

“Se a política de desarmamento fosse tão exitosa, o que teria se esperado era que o Brasil não batesse ano após ano o recorde em número de homicídios”.

Agora veja essa pérola.

“Havia uma ideia inicial para os municípios, mas com o tempo pareceu melhor não haver a distinção só por municípios. Tivemos a compreensão que existe uma parcela da população que manifesta seu desejo de ter a posse de uma arma em sua residência. Com isso essas pessoas têm uma sensação de segurança maior e por outro lado essa arma pode funcionar como mecanismo de defesa”.

“O porte, por exemplo, não está sendo estudado. Não temos nenhum plano a esse respeito”.

O que ele tenta fazer é uma justificativa para o absurdo em si da posse de armas, promessa inicial à sociedade que o governo descumpriu porque já vem na sequência a do porte de arma. Na verdade, armas, porque são duas e não uma.

O presidente eleito disse que vem sim na sequência a liberação do porte.

Quer mais?

Para quem tem de 25 pra cima anos serão liberadas quatro armas.

Alguém pode dizer qual foi o estudo que demonstrou a necessidade de quatro armas para qualquer cidadão comum?

Pelo critério, acredita-se que aos 70 anos você já deverá ter umas 15 armas.

O encantador de rebanhos

Não se pode esquecer que ele, Moro, encantou os eleitores ambulantes, aqueles que, sem ideais e, portanto, sem rumo, perambulam pela vida em busca de uma sombra que os acolha e proteja.

Já foram de Aécio e depois se transformaram em fundamentalistas do mito e que na busca incessante de… de que mesmo? Ah, sim, na busca incessante da eliminação de nine, o apedeuta, votam em quem aparecer pela frente.

Dispensa-se qualquer valor.

Pode ser um tapado, um completo sem noção, um asno, corrupto como os demais, uma anomalia, que nada faz além de passar o dia no twitter dizendo que vai metralhar aquele grupo, que o “cara” vai apodrecer na cadeia, coisas que exigem grande esforço mental para serem concatenadas.

Sim, o “cara” é aquele que encantou o mundo e deixa todo o sistema em pânico a cada vez que chega perto da porta e ameaça sair.

Ao pô-lo na cadeia, Moro o tirou da campanha eleitoral em que, mesmo preso, apresentou todo o tempo o dobro das intenções de voto do segundo colocado.

Com o caminho livre e apoio total do mesmo sistema, a eleição do segundo colocado, o sem noção, foi assegurada.

Tendo cumprido a missão que lhe foi dada, Moro tratou de garantir o cargo prometido no governo eleito, jogando na lata do lixo a falsa história que se criara em torno dele.

Além do ineditismo na história do judiciário brasileiro, já, por si só, tão carente de credibilidade, o projeto pessoal de Moro o transformava na mais pura e explícita demonstração de que nunca um herói de barro foi tão de barro.

E agora, ridicularizado por gente como Onyx Lorenzoni, família Queiroz e a própria família presidencial, estrategicamente se esconde.

Bolsonaro e personal trainer

Como ele consegue adotar a passividade e a indiferença diante da descoberta de que a filha de Queiroz era secretária parlamentar do deputado federal Jair Bolsonaro em Brasília, quando, na verdade, ela residia e era personal trainer no Rio de Janeiro, inclusive de atores da Globo?

O presidente eleito disse que não sabia!!!

Sensacional!

Logo ele, que com deputados e senadores, imprensa e judiciário brasileiros, condenaram José Dirceu e José Genoino com a acusação de “como vocês podem alegar que não sabiam de nada do que ocorria na Petrobrás se eram pessoas subordinadas a vocês…?”.

Digamos que fosse assim.

Será que o presidente eleito consegue imaginar a diferença entre o tamanho do universo que envolve a Petrobrás e aquele do gabinete de um simples deputado federal?

Não, ele não consegue.

Será que os seus eleitores conseguem imaginar…, esqueça.

BolsoQueiroz''

O mais recente episódio da família presidencial com Queiroz (o bom samaritano, que além de depositar dinheiro em contas de pessoas necessitadas, agora também faz festa para “dar alegria a uma tristeza que se tomava conta dentro da enfermaria…”) foi a confissão de culpa de Flavio Bolsonaro ao pedir que o stf (supremo tribunal federal) determinasse a suspensão das investigações das maracutaias com os Queiroz.

Claro, foi atendido.

Tendo se acostumado com a presidência da república de Curitiba, será que na sua ambição de ser presidente do Brasil (ou pelo menos ser indicado para o stf, o que for possível), Moro, o paladino da justiça, vai continuar “não vendo” nada?

Certamente, a resposta será a de sempre; não vem ao caso.

Não se pode esquecer, entretanto, a grande ajuda do Dr. Dallagnol, “The Great Power Point Presenter”.

Por falar nisso, já viu o novo vídeo em que ele pede para interferir na eleição do presidente do Senado e da Câmara dos Deputados para fortalecer a luta contra a corrupção?

Veja, está ótimo.

Se o guardião da moral e dos bons costumes dos homens de bem que são descendentes dos ingleses e não dos portugueses (ufa!), o procurador-pastor que tem linha direta com Deus não tivesse sido flagrado em muitas coisas, quem sabe tivesse alguma credibilidade,

Ser, entre outras coisas, flagrado como proprietário de duas casas do Minha Casa Minha Vida, não ter como argumentar e dizer que era para… investir, é uma coisa que não lhe dá nenhuma moral para ser o guardião da moral e dos bons costumes dos homens de bem que são descendentes dos ingleses e não dos portugueses.

Mas, sinceramente, acredito que não devem ser muitas as pessoas que ainda o levam a sério. Seria abusar da inocência (veio outra palavra, mas me contive).

Confesso, porém, que ainda estou confiante e esperando pela sua super didática aula com o Power Point sobre o BolsoGate, episódio que envolve o bom samaritano brasileiro, Queiroz, o que será de nós, com a família presidencial.

Acredito firmemente que após essa aula, que deverá acontecer (tenho certeza, se não Dallagnol não se chama Dallagnol e só confirmaria o procurador medíocre e abominável que só faz iludir os tolos), tudo ficará muito bem esclarecido.

Os próximos capítulos dirão se a ambição pessoal de Moro fará com que ele continue autêntico, deixando claro que “não tá nem aí” para essas bobagens de corrupção, como faz agora, ou se voltará a ser o pequeno herói de barro que não se sustenta em pé.