Por Ronaldo Souza
O mico foi enorme.
Foi feita uma ‘reunião de emergência’ com o presidente eleito, o general Augusto Heleno, Sérgio Moro e Ernesto Araújo para que Cesar Battisti passasse pelo Brasil rumo à prisão na Itália.
Uma prisão que nada teve a ver com a competência da polícia federal brasileira. Pelo contrário, o que saltou aos olhos foi a incompetência do órgão de inteligência do Brasil e da polícia federal de Moro pela tranquila e serena fuga de Cesare Battisti, daqui para a Bolívia.
Realizada na Bolívia, a sua prisão se tratava de acerto entre governo italiano e boliviano.
Mas, Battisti tinha que passar por aqui. Era a grande oportunidade de mais um espetáculo e o general Heleno assegurou que já estava tudo certo.
Não bastasse isso, Moro mandou um avião da polícia federal para Corumbá para trazer o tão sonhado troféu.
As autoridades citadas quiseram pegar carona no trabalho da polícia italiana e tentaram armar o circo mais uma vez.
A luz dos holofotes seduz e escraviza homens vazios com compreensível facilidade.
O avião como foi, voltou.
Sem a taça.
O que esperar de uma reunião entre o presidente eleito, o general Augusto Heleno, Sérgio Moro e Ernesto Araújo em se tratando de assunto tão complexo e delicado envolvendo outros países?
Vamos lá.
O presidente eleito é o que é, dispensa comentários.
O general Augusto Heleno é o autor daquela analogia “jenial” sobre a liberação de armas no país.
“A posse da arma, desde que seja concedida a quem está habilitado legalmente, e essa habilitação legal virá por meio de algum instrumento, decreto, alguma lei, alguma coisa que regule quem terá direito à posse da arma, ela se assemelha à posse de um automóvel. Está em torno de 50 mil (o número) de vítimas de acidente de automóvel. Se formos considerar isso, vamos proibir o pessoal de dirigir. Ninguém pode dirigir, ninguém pode sair de casa com o carro, porque alguém está correndo o risco de morrer porque o motorista é irresponsável.”
Que país do mundo tem um chefe de inteligência com tamanha inteligência e sensibilidade?
Recentemente, ele atacou Dilma Rousseff gratuitamente, aliás, algo muito fácil de fazer atualmente, ainda mais com relação à mulher.
Nesse sentido, a nossa classe média, com toda sua leveza e bagagem sociocultural, talvez seja imbatível, ou só perca para a classe média americana.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), como o nome diz, existe para se antecipar a movimentos “estranhos” à segurança institucional do país.
O general Heleno disse que o sistema de inteligência brasileiro foi “derretido” por Dilma, uma vez que a “senhora Rousseff não acreditava na inteligência”.
Como acreditar num serviço de inteligência com ele à frente?
Mas, na sua sabedoria o povo já diz há muito tempo; “quem diz o que quer, ouve o que não quer”.
A resposta de Dilma foi dura.
Declarou que ao longo de seu mandato vivenciou “várias situações de manifesta ineficácia do GSI e do sistema de inteligência a ele articulado, como os grampos ilegais feitos em seu gabinete, no avião presidencial e na Petrobrás pela agência de inteligência dos EUA, a National Security Agency (NSA); tais exemplos mostram porque a inteligência do governo ainda não é credível”.
Ninguém lembra da viagem para encontro com Obama que Dilma cancelou como protesto à espionagem da NSA no Brasil?
Segredos importantes da indústria brasileira, dos conhecimentos adquiridos pela Petrobrás em exploração de petróleo em águas profundas (Pré-Sal), know how que ninguém possui como o Brasil, indústria naval…, tudo isso faz parte desse “pacote” chamado Segurança Institucional da Presidência da República.
Identificar essa espionagem era responsabilidade do GSI, sob o comando do general Augusto Heleno.
Assim, fica mais fácil entender a facilidade da fuga de Battisti do Brasil.
Depois da resposta de Dilma, trucidado, ele se calou.
E ressurgiu agora das cinzas (por favor, não confunda com a Fênix, seria uma ofensa à mitologia grega) no episódio do automóvel-bala.
Uma “jenialidade” que merecerá página especial nos livros de Antropologia, Sociologia, Direitos Humanos, Sócio-Política…
Outro personagem da reunião, em breve Sérgio Moro, como o seu presidente, chegará ao patamar daqueles que dispensam comentário. Esforço não está lhe faltando.
Às suas reconhecidas limitações intelectuais somam-se os seus gestos e atitudes mais recentes, que não deixam mais nenhuma dúvida sobre o seu caráter e a sua ambição desmesurada. Um homem que não possui integridade no que faz, aliás, dito por ele mesmo.
Ele é merecedor de um post só para ele.
Outro dia.
Em condições normais o ministro Ernesto Araújo não é um homem normal.
A quantidade de sandices que ele consegue gerar é absurda e na hora da tal reunião de emergência devia estar com a cabeça na viagem que deverá fazer em busca da Terra Plana, a Terra prometida pelo guru do governo, Olavo de Carvalho.
Viagem organizada por um grupo seleto de “intelectuais”, do qual fazem parte alguns do porte de Ernesto Araújo e, claro, Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro e os três mosqueteiros.
A continuar assim, todo o Brasil torcerá para que, ao chegar na beirada da Terra, o transatlântico caia no despenhadeiro do Éter e por lá navegue por todo o sempre.