Construiu-se um ídolo. A história do pobre menino negro que vencera na vida e agora, além de ocupar um dos cargos mais importantes da república, tornara-se o exemplo de austeridade. E virou capa da Veja com o título acima.
Havia, entretanto, alguns indícios que pareciam querer sugerir que, mais uma vez, cautela era recomendável. Na verdade, aspectos comportamentais, por exemplo, pareciam querer mostrar, ou já mostravam com alguma clareza, que cautela era bem mais do que recomendável, era inteiramente necessário. Não é necessário ser nenhum perito em comportamento humano para ficar com a famosa pulga atrás da orelha em algumas situações e essa era uma delas.
As ações, reações, atitudes, gestos, exibicionismo, arrogância, a desqualificação de oponentes, tudo era tão forte que parecia querer dizer; tem coisa aí.
Quando se juntava tudo isso a “pequenas” informações que surgiam, claro que devidamente escondidas pela nossa eternamente grande pequena imprensa, o caldo para a farsa estava pronto.
Já tive heróis. Ou eram do mundo dos gibis (para os bem jovens revista em quadrinhos) ou eram do cinema. Ainda que na adolescência alguns deles insistissem em existir, já eram poucos. Mas, já ali, na adolescência, manifestava-se em mim uma certa aversão por heróis. Porque, não sei. Foram desaparecendo da minha vida.
Adulto, aprendi a ver como se forjam os heróis. Falo agora não mais daqueles dos gibis e do cinema, mas os da vida real. Os heróis de hoje, que circulam Brasil afora.
Vi alguns surgirem com relativa rapidez, com a qual também desapareceram. Com a mesma facilidade e velocidade com que subiram o pedestal dos ídolos, desceram.
Confesso, porém, que nunca tinha visto o surgimento de um herói de forma tão rápida e avassaladora. Joaquim Barbosa, sem dúvida, foi o herói de surgimento mais rápido que pude presenciar. Na minha infância teria sido um acontecimento fantástico e certamente me teria feito muito bem: um pobre menino negro que com muito esforço teria galgado um dos mais altos postos da nação brasileira representa um estímulo incomparável a uma criança. Irretocável.
Já me queixei aqui outras vezes. Com a minha infância maravilhosa ficou para trás, lamentavelmente, a minha inocência. Joaquim Barbosa chegou na minha vida num momento em que nela já não cabem os heróis. A perda da infância fez essa maldade comigo.
Tempos difíceis. Tempos em que o assassinato de reputação é uma marca forte de órgãos de comunicação que deixaram de lado o ofício de informar. Homens e mulheres são destruídos, e consequentemente suas famílias, por razões pequenas, que têm por trás grandes interesses.
Homens e mulheres sobre os quais se colocam pechas com as quais morrerão. Homens e mulheres que, à simples menção dos seus nomes, vem de imediato a associação com a condição de ladrões/bandidos à mente de milhões de pessoas. Mais triste ainda é saber que desses milhões muitos milhões não conseguem conter o prazer e a alegria de que são possuídos.
Devagar com o andor que o santo é de barro
Ah, a velha e boa sabedoria popular. Já viram alguma procissão no interior? O cuidado que se tem para carregar o santo é tocante. Todos sabem que, diante de um tombo, pode-se quebrar o santo, algo de grande peso para as pessoas de muita fé.
Não tiveram os devidos cuidados com o andor de Joaquim Barbosa. Mas, justiça seja feita, não foi culpa só de quem o carregava. O próprio santo em nada ajudou.
Da mesma forma que disse jamais ter visto construção tão rápida de um santo, perdão, de um ídolo, também jamais vi tão rápida desconstrução.
Aqueles que vêem com dois olhos e não só com um já tinham percebido. O andor, feito muito às pressas, não tinha boa estrutura. O santo, por sua vez, pior ainda.
Dizem que a vaidade é um sentimento incontrolável, o preferido do Diabo, razão da desgraça de muitos homens. Dizem os entendidos que ela cega.
Consta que o sistema cria o herói e diz a ele: você é herói para “eles”. E não diz mais nada. Quem entende a mensagem permanece mais tempo como o novo deus.
O excelentíssimo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dr. Joaquim Barbosa, não entendeu. Não percebeu o papel que lhe tinham reservado e imaginou ser de fato aquilo que fizeram ele parecer. E se perdeu.
Não percebeu, por exemplo, que a sua grande e única função e importância estavam no papel que lhe deram para desempenhar no julgamento do mensalão. Uma vez desempenhado es
se papel, pelo qual foi guindado ao posto de herói, não lhe seria atribuído nada mais de importante.
A sua eterna e flagrante deselegância, que o fez destratar advogados, juízes, desembargadores e mesmo os colegas do STF inúmeras vezes, sempre mostraram o seu despreparo, despreparo apontado desde cedo por profissionais da área. O seu desequilibrado emocional, arrogância e truculência eram um prenúncio do que viria. Os desatinos foram muitos.
Agora, chegado o momento do julgamento em que mudanças nas penas impostas podem ocorrer, os seus criadores relembram: você é herói para “eles”. E emitem sinais de que podem facilmente desconstrui-lo. Como? Não faltam meios aos criadores. Um deles, deixar “vazar” algumas matérias.
Mas, independente disso, outras surgem nos blogs, como a do Cafezinho (que também pode ser vista aqui) em que documentos mostram que ele receberia salário da UERJ sem trabalhar.
Agora, mais uma, sobre a compra de um apartamento em Miami no valor estimado de 1 milhão de reais. Detalhe; recorrendo a mecanismos incompatíveis com o seu cargo. Joaquim Barbosa criou uma empresa nos Estados Unidos para fugir dos impostos. Algo parecido com o que fez a Globo com a Copa do Mundo de 2002. O Presidente do Supremo Tribunal Federal flagrado burlando a lei brasileira para não pagar imposto.
Aproveito o comentário de Edú Pessoa no Blog de Nassif sobre a sociedade de Barbosa em uma offshore nos EUA. A reportagem da Veja criando o novo herói brasileiro tinha o título “O Menino Pobre que mudou o Brasil”. Edú sugere que a Veja faça uma nova reportagem: “O Menino Pobre que se mudou do Brasil”.
A sombra do impeachment recai sobre Joaquim Barbosa.