Os meninos tomaram as ruas.
Motivo. Protesto contra o aumento de 20 centavos no transporte coletivo de São Paulo.
A Veja, o Estadão, a Folha, órgãos de imprensa de São Paulo exigiram das autoridades uma repreensão a altura porque estavam tumultuando o dia-a-dia das pessoas. Foram agredidos pela polícia do estado de São Paulo. A Globo, do Rio de Janeiro, apoiou a medida.
Além do apoio e dos comentários de jornalistas beirando a genialidade, como Merval Pereira (talvez um gênio, com grande poder de comunicação – dicção, entonação de voz, desenvoltura, postura, presença diante das câmeras, poder de síntese e incomparável capacidade de explicação, tudo nele é perfeito), Carlos Alberto Sardenberg (quase tão brilhante quanto Merval) e outros prestaram apoio a ação da polícia de São Paulo.
Mas foi, sem dúvida, quando entrou o apoio de Arnaldo Jabor, esse sim, gênio, que o movimento popular apanhou mais. Comentarista de política, economia, música, culinária, ensino fundamental, médio e superior, caça e pesca, aviação comercial e militar, gastronomia, enólogo, sommelier (de todos os tipos de bebida), folclore (do qual é ativo participante), etc, é também um experiente conselheiro espiritual usando como técnica a filosofia zen e o bom senso.
Uma ação restrita a São Paulo. Polícia de São Paulo batendo nos manifestantes. De repente, espalhou-se por todo o Brasil.
Ah, perdão, quase esqueço. São Paulo, como estado modelo em alternância de poder, é comandado pelo PSDB há 20 anos.
Mudança de rumo
O protesto pelo aumento de passagens em São Paulo era agora um movimento nacional protestando… por que mesmo?
Apartidário, acima dos partidos, contra os partidos, contra os políticos, incêndios, encapuzados (quantas vezes você viu encapuzados em campanhas como a Diretas Já?), invasões, roubalheira, depredações… contra tudo e contra todos.
Podia ser tudo, mas não mais o que disseram no início, um movimento sem líder. Uma liderança surgira. Oculta, inteligente, indutora e condutora, articulada, forte, surgira durante as manifestações, trabalhando na escuridão de manifestações que pareciam querer ter sempre o Sol como fonte de luz. Os donos do movimento sem donos já tinham ido para casa, denunciando que grupos estranhos tinham se apossado das manifestações.
Vídeos em inglês, com produção profissional e patrocinadores que não moram no Brazil. Tinha dono. E tinha objetivo: “Foda-se o Brasil”, gritava um entusiasmado estudante, possivelmente orientado pelo novo líder, diretamente das páginas amarelas da Veja para as ruas.
Fodam-se os ônibus, fodam-se as passagens, fodam-se os 20 centavos, fodam-se os motoristas, fodam-se os cobradores, foda-se a PEC 37 (ei, ei, oh meu, o que é essa porra de PEC 37?? – sei não), foda-se a PEC 37, fodam-se vocês… não importava o que ou quem. Afinal, não era contra tudo e contra todos? Estavam mudando o Brasil, que nunca estivera tão bem no cenário mundial. Era uma tomada de consciência. Era muita consciência.
Fora Dilma, impeachment já, fora… opa, acho que me perdi, me desconcentrei. Eu estava falando de que? Ah, lembrei, estava falando das manifestações contra o aumento do transporte coletivo em São Paulo, era isso. Mas por que meti Dilma na conversa?
E por falar nisso, por que meteram Dilma nisso aí? Não estou perguntando quem, todo mundo sabe quem foi. Aliás, porque também.
Promessas, reuniões, sugestões, propostas, dias passando, tempo correndo. Tempo, aí está um problema. Algumas pessoas sabem lidar com o tempo.
Políticos profissionais lidam muito bem com o tempo. Às vezes passam a impressão que têm um time (tempo agora é time) perfeito das coisas. Tanto que abusam. Nem bem o cadáver tinha esfriado, já foram dizendo que não tem esse negócio de consultar o povo (plebiscito), acaba com isso, é autoritarismo (devo reconhecer que os caras são bons, consulta ao povo é autoritarismo!!!). A gente faz tudo, mostra e faz de contas que pede a opinião deles (referendo).
Tudo resolvido, vamos embora que ‘tá na hora do jogo. Renan Calheiros, Joaquim Barbosa, Henrique Alves… pegam aviões pagos com o dinheiro do povo para ir a casamentos e jogos de futebol. Voltamos à paz. Como era antes.
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Onde estão os garotos do Movimento do Passe Livre que estavam mudando o Brasil? Onde estão os coxinhas, como estão sendo chamados? E aí galera, quando está programada a próxima mudança? Quando será a nova balada?
Para a Copa do Mundo? Melhor. Para desmoralizar o Brasil, nada melhor do que “mudar” o Brazil num momento em que todo o mundo esteja olhando. Maneiro. Avisa com antecedência pra ir a galera toda. Vamos bombar (opa!!) mais ainda.
Mas por favor, acabem com esse negócio de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Querem expulsar os donos da festa? Para com isso.
O vídeo abaixo é uma homenagem aos coxinhas da classe média.
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