Por Ronaldo Souza
Meu voo estava atrasado.
Ainda teria que esperar algum tempo para embarcar para o estado onde ia ministrar um curso.
Na praça de alimentação do aeroporto, em um dos locais para lanche ou refeição mais rápida a televisão mostrava que o debate estava começando.
Era uma noite de outubro de 2012 e o debate era entre o neto de Antônio Carlos Magalhães, candidato do DEM, e Nelson Pelegrino (PT), na disputa pela prefeitura de Salvador.
O neto de Antônio Carlos Magalhães será sempre o neto de Antônio Carlos Magalhães, nada mais.
Esse é um dos problemas que podem ter alguns filhos e netos que carregam os nomes dos pais e avós; passar a vida sem ser.
Não estou dizendo que é sempre assim e, além disso, falo daqueles que recebem o prenome, nome, sobrenome, tudo, completo, acompanhados do Filho, Júnior ou Neto.
O filho, ou o neto, pode não ter o tamanho do pai, ou do avô, e em algumas circunstâncias isso pode representar um fardo muito pesado.
É o caso.
O avô, apesar do histórico, foi quem fez, ele próprio, o homem que era.
O seu neto, não.
Não tem brilho próprio.
Jamais terá.
Não tem nome.
É o neto.
E, para azar dele, será sempre comparado ao avô.
Mas o seu adversário na “corrida pela prefeitura de Salvador”, o deputado Nelson Pelegrino, mais afeito ao mundo legislativo, não tinha, como demonstrou, a devida competência para uma disputa para o executivo.
Diria, portanto, que, mais do que pelos seus próprios méritos, o neto de ACM ganhou a disputa pelo despreparo do adversário para aquele tipo de eleição.
A maior prova disso se evidenciou durante o debate e o deputado parece não ter percebido.
Tudo bem que Pelegrino tem como atenuante o fato de que o “argumento” que o neto de ACM usou, com alguma frequência, durante o debate era usado pela primeira vez nas campanhas pelo Brasil, porque foi produzido justamente para isso.
Veja o que disse o neto de ACM.
“Não são meus companheiros de partido que estão condenados por corrupção, são os seus”.
Ao dizer isso, o neto de ACM quis dizer a Salvador que havia um partido corrupto com políticos corruptos.
E que ele, o corrupto PT com seus corruptos membros, era o único partido corrupto com políticos corruptos do Brasil sem corrupção em que vive o neto de ACM.
Essa tática foi empregada por todos os candidatos em campanha Brasil afora.
E o neto de ACM disse isso mesmo sabendo que não é difícil mostrar como é o seu mundo sem corrupção.
O que ocorre é que no mundo habitado pelo neto de ACM os políticos não são condenados, muito menos presos.
“O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Blaise Pascal
Você deve conhecer essa frase.
Podemos modifica-la um pouco e trazer para a política.
O mundo político tem razões que só o mundo político conhece.
E é isso que faz a diferença entre político comprovadamente corrupto que não está preso e político de quem não conseguem provar a corrupção, mas está preso.
Se eles conseguissem entender isso, entenderiam para que servem algumas condenações e prisões; para botar minions no bolso da estupidez e da mediocridade e assim transforma-los em bolsominions.
Também conhecidos como miquinhos amestrados.
Essa questão das condenações e prisões tem sido utilizada com competência nas campanhas eleitorais nos últimos anos.
Mas o deputado Nelson Pelegrino não conseguiu entender a armadilha que estava em curso ou não soube se desvencilhar dela.
O mensalão, como ficou conhecida a tentativa de destruir o PT, foi produzido com alguns objetivos, um dos quais esse; o de jogar na lama os seus políticos mais importantes.
Um deles, José Dirceu, tem passado pelas maiores humilhações nesse processo.
Ives Gandra, um dos juristas mais respeitados do Brasil, um homem de direita e integrante da Opus Dei (para muitos uma seita católica de direita), portanto, nada a ver com o PT, disse o seguinte à época:
Era o resultado da farsa do Domínio do Fato, orquestrada por Joaquim Barbosa, o bagaço de fruta jogado pela janela da Globo, como previ aqui inúmeras vezes à época.
Aliás, como também venho fazendo há algum tempo com o próximo, que deverá acontecer um pouco antes do que se imaginava.
A partir dali, PSDB, DEM… e imprensa disseminavam a ideia de que os membros do PT tinham tido direito a julgamento e a condenação se respaldava na lei e na justiça, porque tinha o endosso do Supremo Tribunal Federal (STF).
Quem poderia por em dúvida julgamentos endossados pela corte máxima do país, constituída de homens e mulheres probos e dignos?
Poucas vezes falei sobre esse tema, mas em março de 2016 resolvi aborda-lo, sob o título “Encontro marcado”, pois já há alguns anos não tinha mais nenhuma dúvida sobre o que de fato estava acontecendo e publiquei no jornal GGN, de Luis Nassif.
Veja a parte inicial da publicação.
Conheço gente boa que acreditou que o STF fosse realmente constituído por homens e mulheres probos e dignos.
Mas era perceptível que a grande farsa estava institucionalizada e lá estava atolado o stf.
A condenação já seria suficiente, mas o objetivo sempre foi a prisão.
Naquele panorama, a prisão sempre teve por objetivo a destruição moral dos homens que estavam à frente do PT, particularmente José Dirceu e Lula.
Mesmo lhe antecipando que não vai achar, procure no PSDB, DEM e todos os demais partidos um político que tenha condições de enfrentar José Dirceu em um debate.
José Dirceu é um dos políticos mais preparados da atual política brasileira e eles sabem disso.
Era preciso afasta-lo.
O único que poderia debater com ele é Ciro Gomes.
Não entram aqui o PSOL e PCdoB, por razões que me parecem óbvias, até porque nesses partidos tem gente competente e séria.
O contrário disso.
Mesmo lhe antecipando que não vai achar, procure no PSDB, DEM e todos os demais partidos um político que consiga perder um debate com Jair Messias Bolsonaro, o mico.
Nem no PSL você vai encontrar.
Nem políticos do (des)nível de Alexandre Frota e Joyce Hasselman perdem para ele.
Até porque ele não vai comparecer.
Irá apresentar um atestado médico para justificar a fuga e irá dar uma entrevista na Record.
Mesmo sabendo que não é tão simples, incomodou a dificuldade de Pelegrino em se desvencilhar do fato de que alguns dos seus companheiros de partido de fato tinham sido condenados. Mas a jogada era clara.
Não se pode falar que Joaquim Barbosa era um desonesto, muito menos um homem sem dignidade e honra.
Canalha, nem pensar.
Mas, algumas coisas entraram em cena para leva-lo a determinadas posturas e talvez todas possam ser explicadas em um único sentimento; vaidade.
O deslumbramento fez com que ele se perdesse.
A Globo conhece esse sentimento como poucos e foi com ele que a Vênus platinada “pegou” não só Joaquim Barbosa, como a pobre e infeliz Carmen Lúcia e o homem da lei que mais agiu e age fora da lei, o juiz Sérgio Conje Moro, sobre quem falarei um pouco mais tarde.
O prêmio Faz Diferença da Globo e outras “homenagens” destruíram Joaquim Barbosa.
Os holofotes fizeram muito mal a ele.
Pelo seu despreparo, o canto da sereia do Faz Diferença não era necessário para Carmem Lúcia. Um prêmio de consolação teria sido suficiente. Ela se contentaria.
Como dito aí em cima, se não se deve traçar com tintas muito pesadas o perfil do ex-ministro Joaquim Barbosa, isso não se aplica ao Conje.
Sérgio Conje Moro é o que de pior surgiu e existe no cenário judicial-político-midiático do Brasil. Mas não perderei muito tempo falando dele.
Assim o definiu o jornalista Leandro Fortes, no texto O conje fujão.
“Seria só ridículo, não fosse extremamente covarde.
Na comparação, Moro é um rato diante de Dilma Rousseff e Lula, pessoas a quem ajudou a perseguir e destruir pessoal e politicamente.
Dilma aguentou, de cabeça erguida, sem afinar a voz, o suplício das câmaras de tortura da ditadura. Depois, manteve-se íntegra durante o longo, cruel e injusto processo de impeachment a que foi submetida pelos golpistas de 2016″.
A “valentia” que o Conje exibe é somente reflexo da sua arrogância.
O ex-juiz e agora ministro da justiça e sua tropa de choque estão recorrendo a todos os artifícios que lhes oferece o poder para difamar, investigar ilegalmente, perseguir, afrontando princípios básicos da Democracia, para desqualificar o jornalista Glenn Greenwald e o seu site The Intercept Brasil, agora associado ao jornalista Reinaldo Azevedo (BandNews), à Folha e Veja.
Os diálogos escandalosos que fazem parte da trama armada por essa turma da pesada, “homens da lei”, estão sendo divulgados por Glenn Greenwald no Brasil e no mundo, mostrando a corrupção que os envolve.
Como diria Eduardo Galeano, escritor uruguaio, “as veias abertas” da corrupção de parte do judiciário e ministério público na missão de “julgar”, condenar e prender um homem sem provas estão sendo trazidas à luz com a clareza dos dias de sol no verão de Juazeiro da Bahia, a terra de João Gilberto.
Inicialmente esquivando-se e agora fugindo, inclusive da imprensa que tanto lhes ajudou nos famosos vazamentos seletivos, o ex-juiz e o procurador que tinha recebido diretamente de Deus a divina missão de acabar com a corrupção no Brasil, mostram os covardes que são diante das evidências, que surgirão cada vez mais fortes a mostrar quem eles são.
Assim se escreve a história recente do país em que homens da lei “julgaram” e condenaram pessoas sem prova com a ajuda fundamental da imprensa, como eles próprios sempre fizeram questão de afirmar, e agora condenam parte dessa mesma imprensa por divulgar os atos de corrupção do judiciário e ministério público perpetrados por eles.
“Lula tá preso babaca”
Vamos corrigir a história no tempo presente, porque ela está acontecendo diante dos nossos olhos.
Começando com a pontuação da frase com a vírgula que, por não saberem para que serve, não usam.
Lula está preso, babaca.
Está preso porque tinha e tem que estar preso.
Solto, ele põe todos em pânico.
Talvez vocês consigam entender agora porque músicas como essa são feitas.
Lula é o pesadelo de vocês.
Lula é ele.
Lula somos nós.
Lula é música.
Lula é um projeto.
Lula é uma ideia.
E, pelo lado negativo, Lula é a razão de viver de vocês.
Posso passar o dia inteiro falando sobre isso mas vocês jamais irão entender.
A ignorância e a burrice dos miquinhos amestrados, completos idiotas, não vão permitir que eles entendam o que isso significa.
Saiam ameaçando e agredindo a todos e blindem à vontade gente como Moro, Dallagnol e Cia. e continuem, nessa perdoável ignorância, pensando (!) que a Lava Jato foi montada para combater a corrupção.
Continuem, nessa perdoável ignorância, pensando (!) que o pacote anticorrupção do ex-juiz é realmente um pacote anti-corrupção.
Continuem pensando que a briga pelo controle do Coaf tinha razões nobres por parte do ex-juiz e sua troupe a explica-la.
Nas suas mentes nada mais do que ideias pobres e estúpidas como essas podem entrar, por falta de espaço.
Mas continuem felizes e confortáveis. Saibam que “Deus protege os bêbados e os inocentes”.
Por extensão, torçamos para que o faça também com os ignorantes.
A ignorância é uma benção.
Mas não saiam ao Sol.
A luz que ele traz para alguns pode cegar.