Por Ronaldo Souza
Como sorrir para o canalha que sorri para mim, como apertar a mão do canalha
que aperta a minha, como abraçar o canalha que me abraça?
O ex-juiz Sérgio Conje Moro sempre se mostrou como o maior defensor da liberdade de imprensa.
Jamais negou a sua importância, pelo contrário, enalteceu-a sempre como algo fundamental para o sucesso da Lava Jato.
Por ela foi endeusado durante anos.
São incontáveis as matérias que Globo, Veja, Folha, Estadão, Band… fizeram ao longo desses anos, com capas e manchetes dizendo maravilhas do novo herói brasileiro; Sérgio Moro.
O vazamento de conversas, delações, ligações telefônicas ilegalmente gravadas e ilegalmente disponibilizadas para a imprensa tinha se transformado numa rotina promíscua na relação entre juiz, Lava Jato e imprensa.
Um casamento perfeito, no qual um dependia do outro.
Objetivo; destruir um partido e seus membros.
Se esse era o fim, todos os meios tornavam-se automaticamente válidos.
Não importava que entre as muitas ilegalidades cometidas estivessem absurdos como a gravação ilegal de uma conversa telefônica entre a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula.
O vazamento era, além de ilegal, conforme reconhecido, ainda que timidamente, pelo já acovardado e acanalhado STF, absurdamente indecente.
Mas não era assim que pensava o fervoroso defensor da liberdade de imprensa.
Para Moro não importava como o áudio tinha sido conseguido, o que importava era o conteúdo.
Os aplausos de sempre em apoio à atitude do ex-juiz ecoavam pelo Brasil.
Aplausos que eram, na verdade, automáticos para qualquer gesto, palavra ou atitude do herói nacional.
Nada mais interessava e tudo se justificava.
Afinal, estavam à frente do julgamento do maior escândalo de corrupção do Brasil, como eles próprios definiram.
Ficou célebre o show do Power Point apresentado pelo procurador Deltan Dallagnol, o pastor que tinha recebido diretamente de Deus a missão de acabar com a corrupção no Brasil.
No epicentro do maior escândalo de corrupção do Brasil estava, claro, ele, o chefe da quadrilha, o maior ladrão do país.
Lula.
E tudo corria bem, sob controle.
De repente, num belo dia de Sol, esse astro que nos dá não só a luz que ilumina e dá calor aos nossos dias, como também traz à luz do dia acontecimentos que ocorrem na calada da noite dos ambientes do poder, as placas tectônicas se moveram mais bruscamente e alteraram o curso da história.
E esse movimento das placas tectônicas parecia conspirar a favor de um jornalista americano radicado no Brasil, Glenn Greenwald, que no seu site, The Intercept Brasil, passava a divulgar uma série de diálogos entre o herói brasileiro e os auxiliares de herói, os procuradores da república de Curitiba.
Os diálogos traziam uma nova perspectiva para a Lava Jato e já de saída o reconhecimento de sua autenticidade por parte de Moro e Dallagnol.
Na sequência de publicação dos diálogos, alguns órgãos da imprensa brasileira se incorporaram à sua divulgação.
O ex-juiz Moro e o procurador Dallagnol, que no primeiro momento reconheceram como autênticas as conversas, passaram a questionar sua autenticidade.
Uma vez que já tinham reconhecido a autenticidade dos diálogos, como conseguiam agora nega-la tão descaradamente?
Para quem, como mostram os diálogos, mentira o tempo todo, não havia nenhuma novidade na tentativa de desdizer o que tinham dito no primeiro momento.
Inicialmente vítimas do inconsciente, quando a surpresa lhe pega desprevenido e a resposta sai do seu ser verdadeiro e não trabalhada, não foi difícil de perceber que se tratava tão somente de uma tentativa inútil de abafar o que já estava a caminho.
É que precisavam urgentemente de uma versão para apresentar ao seu público, mesmo sendo ridícula de tola que é.
Tola, mas não para esse público.
Já disse inúmeras vezes e repito; eles sabem para quem estão falando.
A verdade é que a máscara de Sergio Moro caiu e agora em definitivo.
Não há mais retorno, ele acabou e digo isso desde as primeiras postagens de Glenn Greenwald.
Como também Dallagnol.
Mas, independentemente disso, ainda há muita coisa por vir.
Não nego que estou particularmente curioso para ver o que vai acontecer quando for postado um áudio sobre o que diz o ex-juiz e agora ministro da justiça do mico a respeito da eleição do… mico.
Esse eu aguardo com expectativa maior ainda.
Aguardemos.
Ao se incorporarem à divulgação dos diálogos entre o herói nacional e os promotores da Lava Jato (inicialmente feita pelo jornalista Glenn Greenwald e o site The Intercept), Veja, Folha e BandNews (Reinaldo Azevedo) entraram em rota de colisão com os miquinhos amestrados e passaram a ser vistos como comunistas.
Não tá com eles, é comunista.
Uma dedução lógica, ainda mais partindo de brilhantes pensadores que nos brindam todos os dias com pensamentos (!) e ideias (!!) que, fosse vivo Stanislaw Ponte Preta, seria forçado a escrever nova edição de seu livro FEBEAPA (Festival de Besteira que Assola o País).
E não há nada pior no mundo dos camisas amarelas de padrão FIFA do que ser comunista.
A reação deles é absolutamente normal, compatível com o universo do qual fazem parte. Não há nenhuma surpresa no comportamento dos bolsominions.
Um breve parêntese.
Ilude-se quem pensa que a manipulação do julgamento de Lula não era conhecida.
Condenação em primeira instância, segunda instância, instâncias superiores, STJ, STF, tudo isso sempre foi uma farsa, necessária para a “comprovação” de que o “julgamento” não apresentava nenhum desvio da Constituição.
Sim, tudo é uma grande farsa.
Desde sempre o comportamento do ex-juiz e de sua Lava Jato não deixava dúvidas quanto a isso.
Mas como querer “mostrar” aqui que era uma farsa, quando o poder judiciário, ministério público, imprensa, todos diziam o contrário?
Sabendo do poder deles, facilmente comprovado pela lavagem cerebral coletiva que fizeram neste lindo e maravilhoso país tropical, como diz o jurista Claudio Lembo no vídeo abaixo, “combater neste momento a luta judicial é uma quase ingenuidade, uma quase loucura, um quase suicídio”.
Neste vídeo de 1 minuto, ele também diz que tudo é uma farsa, inclusive o STF.
Não fiz a luta aberta.
Por uma razão bem simples; não seria inteligente.
Na minha Oração ao Tempo, deixei que ele, o tempo, se encarregasse disso.
Fiz a luta dos que reconhecem quando o inimigo é forte.
A luta de todos os dias.
Todos os dias acendia uma pequena luz, para que a claridade chegasse aos poucos e fosse mínimo o risco de cegueira por exposição brusca ao dia de claridade muito intensa, ainda que imaginasse que esse dia demoraria a chegar.
Mesmo evitando falar de algo que todos tinham como verdade e eu via e vejo como de fato sempre foi, farsa, não foram poucas as vezes que toquei nesse tema indiretamente, através dos meus textos sobre Joaquim Barbosa, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Deltan Dallagnol e Sergio Moro (como o próximo bagaço de fruta a ser jogado pela janela).
Era uma maneira de dizer que a charada da farsa da condenação de Lula passava por ali.
O que ocorre agora é que existem evidências claras e irrefutáveis que mostram isso e que seriam suficientes para afastar Moro, Dallagnol, os outros procuradores e também os desembargadores do TRF4, do julgamento de Lula.
Esse afastamento, entretanto, não deverá ocorrer porque o país está contaminado pela corrupção das togas, que diziam combater a corrupção. Ainda que os atos de corrupção deles estejam sendo expostos, nada deverá acontecer.
Mesmo agora, quando o país, estarrecido, toma conhecimento de que Moro, Dallagnol e os procuradores estavam montando uma empresa para ganhar dinheiro com as palestras que fazem sobre a Lava Jato.
“Nos diálogos, Dallagnol diz ter recebido cerca de R$ 400 mil líquidos em um ano. As revelações também dão nova carga ao debate em torno da criação de uma fundação administrada pelo MPF com R$ 2,5 bilhões recuperados da Petrobras”.
Para que não houvesse problemas pela indecência e imoralidade que estavam realizando, essa empresa seria criada em nome das esposas.
Um país contaminado
Escândalos por toda a parte.
“Primeiro a gente tira a Dilma, depois põe o Michel (Temer)… com o Supremo e tudo”.
Não vamos perder tempo repetindo e detalhando coisas como a corrupção de Onyx Lorenzoni, aceita por Moro porque Lorenzoni reconheceu e pediu desculpas. Logo em seguida ao pedido de desculpas, mais corrupção dele foi descoberta.
Mas não vem ao caso.
Também não vamos falar de Queiroz, que sumiu há sete meses e Moro e Bolsonaro não querem nem ouvir falar.
Laranjas e laranjais, esqueça.
Milicianos, esqueça.
Cocaína no avião presidencial, esqueça.
Promessas de acabar o toma lá, dá cá…
Por falar nisso, você faz ideia de quanto o governo gastou no toma lá, dá cá para aprovar a reforma da previdência?
Esqueça.
Sabe que agora vai começar a pagar a segunda parte do que foi prometido?
São tantas e tantas coisas…
E o que dizem e fazem os adoradores do mico e do ministro da justiça, de férias nos Estados Unidos?
Viver socialmente é se violentar todos os dias
Como se surpreender com pessoas que transformaram suas vidas no primeiro ato de uma peça que deveria evoluir e não evoluiu.
Vidas em que a ausência de luz trouxe a consequente sombra da irrealização.
Aparentemente pacatos, pelas vidas vazias de grandes e verdadeiras lutas e conquistas que enobrecem a raça humana, ao se perceberem carentes de tudo e diante de um fundamentalista desprovido de um sentido para a própria vida, deixaram-se levar por instintos primitivos adormecidos e, como que por combustão espontânea, explodiram num fundamentalismo até então desconhecido, mas que residia no âmago de suas almas.
Talvez sem perceber, porque está acima da sua capacidade de percepção, incorporaram ao seu modo de viver sentimentos de negação da vida e por isso o seu universo se resume a ameaçar, ofender, agredir, desqualificar… Enfim, diante de qualquer perspectiva que não seja a deles, usam todos os artifícios para destruir, seja quem for, seja o que for.
A Globo e a Veja, particularmente esses veículos, fizeram deles autômatos, seres que se movem por comandos externos, sem autonomia. E encontraram no atual governo o terreno mais fértil para a libertação dos instintos mais primitivos.
Não percebem, porém, que não são mais “anônimos”, aqueles que dizem coisas que depois caem no esquecimento conveniente e necessário para o convívio pessoal, que faz parecer que tudo vai continuar como era.
Não vai.
Como se permitir sorrir para aquele canalha cujo sorriso invade e agride a sua alma no inescapável e “inocente” gesto do cumprimento social?
Como apertar a sua mão no inescapável e “inocente” gesto do aperto de mãos?
Como abraçar, o mais autêntico dos cumprimentos, o canalha que, ao tocar seu corpo, provoca o arrepio do desprezo?
Sempre existirão as pessoas que lhes sorrirão, apertarão a mão e darão quem sabe até um abraço fraterno.
Mas eles estão no “consciente” das pessoas que os veem todos os dias destilar veneno e por isso, podem ter certeza, haverá também aqueles que chegarão com o “mesmo” sorriso e talvez eles percebam que o “mesmo” sorriso já não é o mesmo sorriso e sim um sorriso amarelo (a redundância é intencional) de quem os despreza, mas ainda permite o aperto de mão, o cumprimento universal e inevitável. Um abraço, também às vezes inevitável, não será o abraço, porque talvez não consiga abafar o desprezo que o convívio social impõe engolir.
Eles perceberão, pelo menos alguns deles.
E quando não perceberem isso com clareza, talvez tenham como companheira a dúvida de quem não percebe por não saber o que é de fato um abraço.
Tudo isso por uma razão; há limite para tudo.
E ele foi atingido.
Muitos já perceberam, e muitos mais o farão, do que é capaz esse governo absolutamente ridículo, medíocre e promíscuo, que eles continuam defendendo e protegendo da maneira que todos estão vendo.
As consequências de tudo que está ocorrendo são imprevisíveis, mas o custo será alto.
E essa conta irá para os nossos filhos e netos.
Quando todos perceberem que seus filhos e netos pagarão essa conta, o que nos restará fazer?
Não será necessário delata-los.
Há muito já saíram do armário e estão se exibindo.
E isso também terá um custo.