O inconsciente coletivo

Inconsciente Coletivo

Por Ronaldo Souza

Eu poderia começar este artigo dizendo algo como “não importa o que eles pensam…”, mas não vou.

A razão é bem simples; eles não pensam.

Assim, a frase “não importa o que eles pensam” não teria sentido.

Quem não pensa não toma conhecimento das coisas e aí tudo se torna bem mais difícil.

Pode parecer haver uma contradição em quem diz que a ignorância é uma benção e diz que na ignorância “tudo se torna bem mais difícil”.

Não há.

Explico.

A ignorância é uma benção para o ignorante.

Quem ignora não sabe o que desconhece e por desconhecer não consegue expandir a mente.

A mente pequena não é exigente.

Nela não há esforço, não há padecer.

Mas há outra categoria que ocupa um andar um pouco mais abaixo.

Já ouviu dizer que “o pior cego é aquele que não quer ver”?

É o caso deles; além de não pensar, eles não querem tomar conhecimento de nada.

A ignorância traz bloqueios enormes e um deles é o horizonte curto.

A pessoa muitas vezes não consegue compreender sequer o que foi dito ou escrito. Ir além disso, nem pensar.

Já que nos situamos, vamos ao assunto.

A campanha eleitoral de Bolsonaro, todos sabem, foi uma grande fraude.

Não há registro de algo parecido na recente história do país. Se houve antes, a minha leitura não alcançou.

Ocorre, porém, que a adoção da expressão fake news teve um efeito desastroso na vida do brasileiro.

A grande indignação que se teria como reação à mentira deslavada, ao cinismo e à canalhice foi tremendamente amenizada e muitas vezes sequer existiu, porque se transformou em fake news, expressão que só por ser ouvida e lida em inglês já se torna automaticamente aceita.

A mentira se incorporou de maneira absurda e inaceitável à vida das pessoas.

A campanha deslavadamente apoiada em mentiras feita pelo atual presidente, sob a coordenação e orientação de um dos seus gurus, o norte americano Steve Bannon (o mesmo que fez a campanha de Trump e por ele foi indicado a Bolsonaro), foi facilmente aceita porque entrou em perfeita sintonia com a forma de agir dos seus fieis seguidores.

Vamos lá.

Quantos robôs foram utilizados para enviar mensagens, disparos de whatsapp com mensagens escandalosamente falsas?

Quantos amarelinhos-CBF-padrão FIFA fazem o mesmo nas suas atividades profissionais?

Quantos “adotaram” a postura de exibir milhares de seguidores nas redes sociais, quando na verdade são robôs?

Será que eles, que vão para o Farol da Barra, Avenida Paulista… bradar contra a corrupção nos domingos de sol das manifestações, imaginam que ninguém sabe quem são os que fazem esse tipo de coisa e outras mais?

Será que eles, que passam por mim e por você nas faculdades, nos eventos, nas praias, nos shoppings, no futebol,  imaginam que nós estamos sempre olhando para a Lua?

Que não sabemos o que já fizeram e fazem, como disse, nas suas atividades profissionais?

Gente a quem eu e você damos bom dia, boa tarde, “oi, tudo bem?”, como impõe a convivência social e profissional.

O que explica essa estranha e “imperceptível” afinidade entre eles e instituições como CBF-FIFA, internacionalmente reconhecidas pela corrupção?

Tão espertos e tão tolos.

Fecho os olhos e vejo vários deles.

Achei emblemática essa frase de uma postagem do meu amigo, o Prof. Marcel Arriaga:

“Ressalto que conheço bem todos os que se pronunciaram”.

A breve matéria que vocês vão ler aqui embaixo foi publicada em um jornal português.

Ela mostra que Bolsonaro diz 1,1 mentira por dia.

Isso já era sabido.

Todos sabem que ele mente muito. 

Só não tínhamos esses números.

Mas sabe o que é o pior de tudo?

É saber que vocês são cópias dele.

Ou jamais se percebeu a quantidade de mentiras que são postadas nas redes sociais diariamente?

Por quem?

Vocês o repetem nos gestos, nas palavras, nas ações, nas ofensas.

As afinidades explicam a explosão do preconceito, ódio e violência em vocês.

Eleger um mito é se ver nele.

O mito é reflexo do inconsciente coletivo.

Sabe o que é sedutor no inconsciente coletivo?

É que, sem que se perceba, por isso é “inconsciente”, ele traz um grande conforto às mentes menos exigentes.

O conforto da correnteza; deixar-se levar.

Manada

Deixar-se levar elimina o esforço do pensar.

A correnteza faz uma massa única onde iguais agem por instinto.

Macaco vê, macaco faz.

Vocês não têm e por isso não usam outras armas que não sejam as dele.

“Eu olho-os com olhos lassos
Há nos meus olhos ironias e cansaços”.
José Régio

Há sim, ironias e cansaços que quisera eu não existissem.

Ironias como forma de reagir a tanto preconceito, a tanto ódio, a tanta violência.

Ironias para enfrentar a covardia de homens e mulheres pequenos, que encontram na ofensa uma forma de viver.

Cansaços por tanto dispêndio de energia.

Cansaços do corpo e da alma no enfrentamento de seres tão abjetos.

“Ressalto que conheço bem todos os que se pronunciaram”.

A canalhice ultrapassou todas as fronteiras.

E hoje anda ao nosso lado.

Bolso mentira

Diário de Notícias

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro prestou 2054 declarações falsas ou distorcidas nos primeiros 184 dias do seu mandato, concluiu o site digital Aos Fatos, dedicada à verificação do rigor das informações divulgadas pelos media do país.

Esse resultado dá uma média diária de 1,1 declarações falsas ou distorcidas feitas por Bolsonaro entre a posse, a 1 de janeiro deste ano, e o dia 4 de julho.

Com verificações feitas semanalmente pelos jornalistas do Aos Fatos, algumas das “afirmações mais repetidas” por Bolsonaro e que carecem de rigor são “Nós devemos a nossa democracia às Forças Armadas” ou “Montamos nossa equipe [governamental] de forma técnica, sem o tradicional viés político…”.

Com vários observadores a apontarem semelhanças na ação política de Bolsonaro e Donald Trump, outra dessas afirmações dúbias foi: “Pela primeira vez em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington.”

A mais recente afirmação questionável de Bolsonaro identificada pelo Aos Fatos foi no próprio dia 4 de julho: tendo o presidente dito que trabalhara “com nove, dez anos de idade na fazenda” da família, o site comparou-as com declarações em sentido contrário feitas em 2015 pelo seu irmão Renato.

Em entrevista à revista Crescer, “Renato disse que o pai ‘[…] nunca deixou nenhum filho trabalhar, porque achava que filho tinha que estudar’. Isso torna CONTRADITÓRIA a declaração feita pelo presidente”, afirma aquele site de verificação de notícias.

Outra das declarações falsas mais repetidas por Bolsonaro é a que “Israel é menor que o menor estado do Brasil, Sergipe”. Basta comparar as áreas para se aferir a verdade. Israel tem 22 070 quilómetros quadrados e Sirgipe tem 21 927 quilómetros quadrados. Esta declaração foi repetida três vezes por Bolsonaro, desde que tomou posse.

O Aos Fatos, sediado no Rio de Janeiro e São Paulo, nasceu em 2015 e foi fundado pela jornalista Tai Nalon e pelo especialista informático Rômulo Collopy. Este é um dos sites nascidos nos últimos anos no meio jornalístico para combater as chamadas fake news – de que o mais conhecido será o Fact Checker do jornal Washington Post, que já identificou mais de 10 mil afirmações falsas ou dúbias feitas pelo presidente Donald Trump.