Sob o comando do intestino

Bolso ensacando cocô

Por Ronaldo Souza

Vejamos um breve currículo de Dilma Rousseff.

Economista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, secretária da Fazenda de Porto Alegre (1986-1988), presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (1991-1993) e secretária de Estado de Energia, Minas e Comunicações (1993-1994 e 1999-2002). Em 2002, coordenou a equipe de Infraestrutura do Governo de Transição, instituída pelo Presidente Lula. Foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e junho de 2005.

O seu conhecimento no setor de energia é reconhecido, o que se pode confirmar e entender ao observar alguns cargos ocupados por ela.

No episódio da estocagem de vento, fizeram parecer que ela recomendara algo como estocar vento em sacos e guardar no armário.

Foi uma festa.

De tudo se disse.

Ao mesmo tempo em que choviam ironias, sarcasmos e ofensas, alguns foram pesquisar sobre o tema e tiveram surpresas.

Algumas publicações já falavam do tema e a Europa já estava com projetos avançados nesse sentido.

Dilma estava certa; era possível sim estocar vento.

É claro que a grande imprensa, aquela que controla o país (e vocês, miquinhos amestrados), não quis divulgar; mais importante que o dever de informar a sociedade era destruir o governo dela.

Mas já havia um entendimento do que ela disse e isso foi divulgado por jornalistas e pela imprensa independente e séria do país.

Dilma estoca vento

Fonte: www.dm.com.br/opiniao/2015/10/dilma-esta-certa-ciencia-mostra-que-ja-e-possivel-estocar-vento/

É claro também que além da desinformação, que impera em alguns segmentos da sociedade (aqueles “bem informados”), o fato de que nunca tiveram nem têm o menor interesse em saber.

Além de alguns poucos órgãos de imprensa, matérias sobre o tema podiam ser vistas em sites dedicados à Engenharia, como neste abaixo.

Estocando vento

Estocando vento'

Fonte: www.engenharia360.com/e-possivel-estocar-vento/

Em outras palavras, mais uma vez a presidenta Dilma Rousseff se dirigia à nação brasileira com informações técnicas relevantes e com a mesma seriedade e dignidade que sempre foram e são suas características e dever de um presidente da república.

Ignorância e molecagem

“É só você deixar de comer menos um pouquinho. Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também”.

Esta foi a resposta do presidente Jair Bolsonaro à imprensa diante de uma pergunta sobre política ambiental.

Mereceu este comentário abaixo do jornalista Fernando Brito.

“Além de um idiota, um porco… Até desperta dúvidas se os competentes médicos que o atenderam religaram corretamente os intestinos.

Pode ser que em algo ele tenha razão: se o presidente falasse apenas dia sim, dia não, melhoraria “bastante a nossa vida também”. 

Deixemos de lado a absoluta incapacidade do senhor presidente em construir uma simples frase.

Não parece lógico a você que “deixar de comer menos” significa passar a comer… mais?

Quem deixa de comer muito, passa a comer menos.

Quem deixa de comer pouco, passa a comer mais.

Seria interessante procurar alguém na equipe do governo que entenda algumas coisas, entre elas a nossa língua, para orientar o presidente.

Ainda que fezes mentais não guardem relação direta com a alimentação das pessoas, passar a comer mais certamente tornaria mais difícil cumprir a sugestão do presidente de “fazer cocô dia sim, dia não”, tendo em vista que a alimentação tem, isso sim, relação direta com a necessidade fisiológica em questão, que de maneira sutil, inteligente e delicada foi trazida para a conversa do presidente com seu povo.

Assim, como proposta peculiar e sui generis para a preservação do meio ambiente, é possível que a do presidente (que já passou a fazer parte dos anais da literatura da fisiologia humana e sua relação com a questão ambiental), tenha que ser repensada.

A lamentar, o tempo e esforço intelectual despendidos pelo presidente na elaboração de teoria tão rica, mas quem está acostumado a militar nessa área (atenção, presidente, o verbo em questão, militar, nada tem a ver com o adjetivo. Por favor), sabe que teorias podem ser aceitas ou não.

Mestre na arte de agredir e ofender, o presidente da república já não exerce mais essa sua qualidade somente com mulheres, negros, nordestinos e homossexuais, mas com todo o povo brasileiro, pela forma como se dirige a ele.

Juntos e misturados, a ignorância e o desrespeito acima de tudo e de todos.

Tudo dito, correm sempre para desdizer, com as escusas (como diria Sérgio “Conje” Moro) de sempre, ou tentar dar uma interpretação mais amena.

Não cola mais porque já foram tantas e outras mais ocorrerão, que ninguém duvida mais do que é capaz esse homem quando se trata de dizer asneira e ser primitivo.

Tentar minimizar mais um desarranjo intestinal, cuja manifestação oral já se tornou uma tônica no presidente, dizendo que foi uma ironia e criticar os que “levaram a sério a história do cocô” (como ensaiaram fazer) seria muito pior.

Se eles não têm noção (e não têm) de que se dirigir à nação de maneira irônica e esculachada seria muito pior do que se fosse simplesmente mais uma estupidez fruto da ignorância dele, só mostra os completos sem noção que são. Falar dessa maneira ao povo brasileiro é um desrespeito absurdo, com nítidos contornos de molecagem.

Mesmo percebendo hoje o seu desequilíbrio mental e comportamento bárbaro, como muitos já o fazem, um povo não pode se acostumar a ser desrespeitado pelo seu presidente.

Consta no folclore político da Bahia que Antônio Carlos Magalhães desejava nomear alguém para a Secretaria de Saneamento do Estado.

Em dúvida diante dos nomes sugeridos por sua equipe, teria escolhido um determinado político com esse argumento; “como é para ser secretário de saneamento, que lida com merda e ele só faz merda, ponham o…” e deu o nome do seu escolhido.

A sugestão de Bolsonaro na luta para preservar o ambiente me fez lembrar dessa analogia feita por ACM.

Tendo em vista que a questão é cocô, quem você acha que seria a pessoa mais adequada para conduzir essa luta contra a poluição ambiental?

Acertou.