Na campanha para a presidência da república de 1955, o candidato do Partido Social Democrata (PSD) sofreu uma infinidade de pressões por parte das oposições, principalmente da União Democrática Nacional (UDN). Essas pressões, entretanto, não deram resultado e no dia 3 de outubro de 1955, o candidato daquele partido era eleito Presidente do Brasil.
Tratava-se de Juscelino Kubitschek*. Você que é muito jovem talvez não saiba; foi o homem que construiu Brasília. Ele e Getúlio Vargas são considerados os dois maiores Presidentes do Brasil.
Ficou famosa a frase de Roberto Marinho, fundador e proprietário da Rede Globo: “Juscelino não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito e se for eleito não pode governar”.
Foi eleito, governou o Brasil e atribui-se a ele um dos períodos de maior desenvolvimento do país.
A história contemporânea tem registrado a dificuldade que a Rede Globo sempre teve de conviver com governos tidos como progressistas. A sua própria história mostra o porque dessa dificuldade (se você quiser saber como ela se transformou rapidamente no império que é hoje, clique aqui. É um arquivo pesado [645.1 MB] e o nome é Cidadão Kane).
Outro episódio famoso ocorreu com a eleição de Leonel Brizola para governador do Rio de Janeiro. Naquela oportunidade, as ligações de sempre voltavam a acontecer mais uma vez e, entre elas, estava a união do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) com a Rede Globo. Foi um escândalo.
Você já deve ter percebido alguns exemplos de candidatos que “perdem” em todas as pesquisas, chegam às eleições como perdedores e ao final das apurações, saem eleitos. Um dos casos mais vergonhosos aconteceu na Bahia. Até o dia da eleição (03/10/2009), segundo o IBOPE, Paulo Souto (candidato de ACM) seria o vencedor no primeiro turno. Com as apurações, de fato a eleição foi decidida no primeiro turno, mas o eleito foi Jacques Wagner, candidato do PT.
Mas, provavelmente, o mais escandaloso foi a eleição de Brizola. Na sua reeleição o IBOPE (lá vem ele de novo) dava a derrota de Brizola como certa. Brizola ganhou (e ainda tentaram manipular os resultados). Em seu segundo mandato como governador do Rio de Janeiro (15/03/1991 a 02/04/1994), tantas foram as vezes em que os fatos foram manipulados e distorcidos, que ele obteve o famoso direito de resposta à Rede Globo (veja aqui).
Acusado de ter apresentado algumas pesquisas com resultados esquisitos para a atual campanha (juntamente com o Data Folha, do jornal Folha de São Paulo)**, o IBOPE está aí novamente. No ano passado, o Sr. Carlos Augusto Montenegro (presidente do IBOPE) disse que a candidata Dilma Roussef jamais passaria de 15% da intenção de votos na campanha para Presidente do Brasil. Parece que mudou de opinião. Veja o que ele diz em recente reportagem ao jornal O Globo (Rede Globo).
SÃO PAULO – O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, disse nesta terça-feira em São Paulo que a eleição presidencial deste ano pode ser decidida no primeiro turno, tanto em favor da candidata Dilma Rousseff (PT) quanto de José Serra (PSDB), que apresentaram empate em 37% das intenções de voto em pesquisa divulgada pelo instituto no último final de semana. Na sua avaliação, a candidata do PV, a senadora Marina Silva, que teve 9% na mesma pesquisa do Ibope, será decisiva para a realização do segundo turno.
– Marina é uma boa candidata, uma pessoa diferente. Não sei se vai ter estrutura, tempo de televisão, para chegar perto dos primeiros. Pode ser uma surpresa. Acho que ela pode crescer com a ajuda da internet, da juventude, com a ajuda de uma série de coisas. Ela certamente vai ter um papel importante, podendo levar a eleição para um segundo turno. Caso ela fique estacionada ou caia um pouco, as pessoas tentem aplicar um voto útil ou tentar resolver a eleição logo, essa eleição pode sim ser decidida no primeiro turno para um lado ou para o outro – disse Montenegro.
Em café da manhã com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o presidente do Ibope disse que dois terços do eleitorado já estão "radicalizados" e decididos entre Dilma e Serra, mas um terço ainda não definiu o voto, o que só deve acontecer depois da Copa do Mundo.
– Um terço já se posicionou a favor da Dilma, um terço a favor do Serra e acho que tem um terço, menos radical, mais tranquilo, que já votou no Fernando Henrique, já votou no Lula, que está atento a todos esses detalhes, a currículo, a postura, a carisma, credibilidade, propostas de governo, continuidade do governo. Esse pessoal vai analisar depois da Copa do Mundo e é esse pessoal que vai decidir a eleição.
Candidato precisa mostrar "preparo", diz Montenegro
Montenegro, que havia declarado à revista "Veja" no final do ano passado que o Brasil não elegeria um "poste" e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não faria seu sucessor e, ainda, que Serra era o favorito, reformulou sua afirmação dizendo que o candidato precisa, além do apoio presidencial, "mostrar preparo".
– Disse que ele não elegeria um poste. E continuo achando isso. O que é eleger um poste? O Brasil, antes da reeleição, tinha mandatos de quatro anos – justificou, explicando ainda mais: – Quando falava que não elegeria um poste, era até acreditando no povo brasileiro. Acho que o Lula pegar qualquer pessoa, por mais que ele tenha 80% de aprovação e dizer: "Olha, você vai ser o presidente", não acredito nisso. Acho que a pessoa tem que mostrar preparo. A pessoa tem que mostrar liderança, programa de governo, que está preparada para governar um país como o Brasil – disse afirmando que a entrevista à revista "saiu truncada&quo
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A pessoa tem que mostrar liderança, programa de governo, que está preparada para governar um país como o Brasil
Carlos Montenegro ainda voltou atrás na previsão de que Dilma Rousseff não passaria dos 15% de intenção de votos e que Lula não transferiria votos para a candidata petista.
– Acho que a Dilma está ocupando muito bem o espaço que estava vazio e alguém ia ocupar, fosse a Dilma, fosse o Tarso Genro, fosse o Fernando Haddad, fosse qualquer um candidato do presidente Lula iria ocupar esse espaço. Acho, por exemplo, que nos 37% a 37% divulgados você não tem só transferência de votos – disse, remetendo a sua opinião de que a eleição está "radicalizada" entre os dois principais candidatos.
De acordo com o presidente do Ibope, uma das partes de sua entrevista à "Veja" que foi "descartada" foi a sua previsão de que Lula deixará a presidência da República no ano que vem como "um dos maiores presidentes da história".
– A parte principal que foi descartada foi a minha percepção de que o presidente Lula vai sair como uma dos maiores presidentes da história do Brasil. O presidente Lula hoje talvez esteja no mesmo patamar que o presidente Getúlio Vargas e o presidente Juscelino. Mas só que como esses dois presidentes a maior parte dos brasileiros não tive oportunidade de conhecer, o Lula certamente vai sair como o maior presidente da história do Brasil. Isso as pesquisas estão constatando e me parece claro – disse.
O grifo da última frase não é meu.
É bastante conhecido o tipo de jornalismo da revista Veja ao longo desses pelo menos 20 anos. Apesar de já ter perdido parte considerável dos seus leitores (por isso ela faz tantas promoções de assinatura), ainda é a de maior tiragem (não é a mesma coisa que vendagem) no Brasil e a coisa mais fácil do mundo é explicar isso. Entretanto, não cabe aqui agora.
Observe, porém, que um dos homens que sempre se valeu das ligações com a revista e com outros órgãos de imprensa, como a Rede Globo, Folha de São Paulo, Jornal Estado de São Paulo (Estadão) e outros (há quem chame de PIG – Partido da Imprensa Golpista), ele próprio é quem diz que a revista só publicou a parte que parecia não favorecer ao Presidente da República e à sua candidata. A parte que o Sr. Carlos Augusto Montenegro, mesmo contrariado, elogia o presidente, a Veja “descartou”.
Viva a nossa elite.
* Juscelino Kubitschek (1902-1976) – Médico e político mineiro, Presidente do Brasil de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961.
** É possível que você não saiba que há alguns meses o Jornal Nacional declarou, por razões que desconheço, que só ia divulgar os resultados das pesquisas do IBOPE e do Data Folha (da Folha de São Paulo). Deve haver alguma razão para isso.
Obs. Abaixo está o link que dava acesso à reportagem com Carlos Augusto Montenegro em O Globo. Também por razões que desconheço, a reportagem foi tirada do site já no dia seguinte à sua publicação, em 09/06/2010 (tente ver aqui).