No Rio de Janeiro, há alguns anos, lendo o Jornal do Brasil, vi que Márcia Peltier estava à frente da sua coluna social. Confesso, fiquei desapontado. Sempre gostei dela como jornalista (quem lembra, uma loura bonita do Jornal da Manchete, faz tempo, não?). Por que o desapontamento?
Sempre tive uma certa dificuldade para encarar coluna social. Para mim é o espelho das almas vazias. Concordo que alguns colunistas têm tentado dar um ar um pouco diferente, trazendo inclusive algumas informações mais “relevantes”, mas não me parece que estes sejam a tônica.
Ibrahim Sued, um clássico do colunismo social, era um homem de óbvias limitações culturais. Preencheu a vida de muita gente. Dizem que na verdade era um tremendo gozador e que, no fundo, gozava todos, ou quase todos, que ele colocava na coluna.
Zózimo Barroso do Amaral, outro bastante conhecido (confesso que não sei se ainda está vivo), talvez tenha mostrado todo o seu brilho ao fazer um comentário bastante pejorativo, de uma estupidez sem limites, a respeito de Bobô (lembra dele, jogador do Bahia, a elegância sutil de Bobô, segundo Caetano Veloso?).
Há alguns anos, o Bahia e o Flamengo foram campeões no mesmo ano, na Bahia e no Rio de Janeiro respectivamente. Lembro de uma coisa bem interessante que, tenho certeza, passou despercebido.
O presidente do Flamengo era Márcio Braga e noticiou-se que ele teria assistido a um determinado filme, não lembro qual, mas desses clássicos elogiados por todos, como parte das comemorações do título conquistado. Uma colunista social, muito conhecida na Bahia, fez um comentário na sua coluna sobre o então presidente do Bahia (aquele que chamam de eterno presidente e que com a conivência de parte importante da imprensa fez do Bahia o que ele é hoje, um arremedo de time). Mais ou menos assim o comentário: “Certamente Márcio Braga é um homem sofisticado. Se fosse o presidente do Bahia teria ido assistir ao Último Tango em Paris*”.
Não sei se ela era torcedora do Vitória e não estava conseguindo se conter. O mais importante, porém, é a tentativa de ridicularizar alguém, deixando fluir todo o seu provincianismo e absoluta falta de um grau mínimo de conhecimento, particularmente sobre o mundo do cinema.
Pelo contrário. O “então ontem hoje sempre eterno” presidente do Bahia jamais iria assistir a aquele filme, por uma razão bem simples; ele não ia entender nada. E ela, achando que ele iria assistir porque deve ter imaginado que era um simples filme de sexo, mostrou que também não entendia de nada.
Já viu essas revistas que você não tem o que ler? Só tem foto das pessoas mostrando aquele sorriso de uma vida feliz e plena (dizem as más línguas que elas brigam para sair na revista; será que é verdade?). Até vaso sanitário mostram. Não é um novo estilo de colunismo social?
Quem estava certo era Ziraldo ao lançar o slogan de sua revista Bundas: Quem mostrou a bunda em Caras, não mostra a cara em Bundas.
Meu pai era amigo de Enádio Morais (trabalharam juntos no Banco do Brasil), um dos diretores do Jornal da Bahia (aquele mesmo que o protetor da Bahia destruiu ‘não deixe essa chama se apagar’, lembra?). Não, não é da época de vocês. Aos 21 anos de idade, quando estava me formando em Odontologia, meu pai, um homem bastante simples do interior, me falou que Enádio Morais tinha oferecido a coluna social do jornal para colocar uma nota sobre aquele momento tão importante para a nossa família. Não, meu pai, na coluna social não.
Hoje, olho para trás e penso: aos 21 anos eu não sabia um bocado de coisa (ainda não sei), mas já tinha noções do que não queria.
* Último Tango em Paris – Filme de Bernardo Bertolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider. Um bom filme, polêmico, de um diretor consagrado, com um dos monstros sagrados do cinema, Marlon Brando, que retrata a decadência da burguesia.