Existem duas cidades fortemente marcadas pela presença do negro no Brasil; Salvador e Rio de Janeiro. Não se pode ter nenhuma dúvida que graças a esse detalhe, elas se destacam em vários setores e chegam a ser únicas. A riqueza na culinária, religiosidade, dança, música, só para citar alguns, dessas cidades salta aos olhos. Salvador, a cidade mais negra do Brasil.
Os historiadores confirmam as diferenças existentes entre os negros que vieram da África para Salvador e Rio de Janeiro. Famílias diferentes, costumes, traços pessoais e até condições financeiras diferentes.
Nessas cidades nasceu o samba (a origem primeira é Salvador), “o ritmo nacional por excelência”, a música mais universal brasileira. A presença, a batida, o gingado, a musicalidade do negro, exercendo influência em vários dos maiores músicos do mundo.
O carnaval sempre foi definido como festa de intensa participação popular. Nessas duas cidades, os carnavais mais fortes do Brasil, e como tal uma enorme força para atrair os grandes interesses comerciais. Foram se modificando com o tempo.
O carnaval de Salvador, como aliás as coisas de Salvador, não é estático, tem uma dinâmica muito própria. Sofre críticas, entre elas a ausência de participação popular, já que os blocos ocupariam as ruas, impedindo que o povo brinque. Grande bobagem, uma crítica com outras intenções e qualquer hora falaremos mais especificamente sobre isso.
Carnaval do Rio, samba do início ao fim, ótimo. A cada ano, novas sambistas se destacando. Chego na sala e vejo uma reportagem da Rede Globo mostrando a Miss Brasil, uma nova sambista que pintava no pedaço, sambando. Uma das cenas mais grotescas que pude ver, absoluta, flagrante, completa ausência de sintonia entre ela e o samba. Para quem? Por que?
Todos cedem à presença de figuras que nunca tiveram, não teem (a nova ortografia diz que deve ser assim) e jamais terão qualquer ligação, por menor que seja, com o samba, com o negro, ou com os brancos/negros. A serviço de quem?
Abro um parêntese. Olá pessoal do Filhos de Gandhi, está a mesma coisa aí, uma brincadeira de mau gosto, gente que não tem nada a ver com o afoxé, um horror. Convidem logo Brad Pitt, George Clooney, Beckhan, é melhor e entra mais dinheiro.
Luma de Oliveira, Adriane Galisteu, Luiza Brunet, Juliana Paes, e tantas outras (parece que também até os intelectuais do Big Brother Brasil, ou é Brazil? sempre esqueço) de menor importância. O que teem a ver com o carnaval? Absolutamente nada. Para elas, uma belíssima oportunidade para aparecer. Chegam a ser rainha de uma escola em um carnaval e de outra em outro, numa grande demonstração da ligação umbilical com a escola. O espaço que antes era dos passistas, mestres sala, do homem e da mulher do morro, esses sim, com o amor pela escola de samba correndo sem controle pelas veias, agora é delas.
O morro passa o ano entregue ao trabalho da escola. Você vai lá? Muito menos elas. Chegou janeiro, verão, academia, ensaio das escolas, televisão em cima, as grandes sambistas aparecem e sobem o morro, outra vez numa grande demonstração da ligação umbilical com a escola. E tome aula de como sambar.
Chegou o carnaval. Os melhores momentos das câmeras da televisão agora são dispensados a ela, a grande sambista do Brasil; Luma Galisteu Brunet de Paes. Com sua roupa (?) deslumbrante e o samba no pé como ninguém mais, encanta a todos.
Quase esqueço. Onde está o povo? Onde está a intensa participação popular? Nas arquibancadas, aplaudindo.
Deveria causar estranheza a grande mídia alardeando aos quatro ventos a originalidade do carnaval carioca. Há muito tempo a grande mídia brasileira não surpreende mais ninguém que tenha mais de dois neurônios funcionando.