Por algumas razões tenho evitado, e tenho conseguido, falar de política aqui no site, apesar de sempre imaginar que algum dia farei isso (no fundo acho que torço para que não demore muito). Acredito, porém, que ainda não chegou o momento. Algumas coisas, entretanto, estão acima, muito acima, da política, pelo menos da política partidária, ainda mais essa que temos presenciado. As questões ideológicas estão num plano superior.
O mundo passa por um momento de grandes dificuldades, graças à famosa crise. Todos os dias somos bombardeados por notícias que mostram que o fim do mundo está ali, na esquina.
Você sabe, de fato, o que aconteceu com Ronaldo, o fenômeno, na copa da França? Lembra aquela história de que ele teve convulsão? Você sabe, de fato, o que aconteceu com a defesa brasileira (Roberto Carlos, nosso lateral esquerdo, passando três dias para ajeitar o meião na hora em que a França cobrava uma falta frontal ao nosso gol, e o jogador francês foi por trás dele e tranquilamente fez o gol) na copa de 2006? Não, você não sabe, nem irá saber, por uma razão bem simples. Não nos é dado, pobres mortais, o direito de saber o que, de fato, ocorre em momentos como esses.
Mesmo para nós, pobres mortais, não é muito difícil entender o porque da crise. O difícil é entender o que está por trás dela.
O texto abaixo, publicado na imprensa há alguns dias, poderia ter sido tirado de qualquer jornal brasileiro, porque todos eles, isso mesmo, todos eles, da grande imprensa brasileira, vêm colocando matérias iguais a essa diariamente nas suas páginas. Leia o texto.
"O pacote de socorro à indústria automobilística que está em discussão nos Estados Unidos obrigará as três grandes montadoras americanas, General Motors, Ford e Chrysler, a aceitar um grau inédito de interferência do governo nos seus negócios em troca da ajuda financeira que elas precisam obter para enfrentar a crise que engolfou o setor.
Conforme o rascunho do projeto em discussão no Congresso, as empresas terão que rever as políticas de remuneração dos seus executivos, suspender o pagamento de dividendos aos acionistas e submeter seus investimentos à aprovação de um funcionário do governo que terá a missão de monitorar as empresas beneficiadas pelo plano.
Qualquer transação cujo valor seja superior a US$ 25 milhões terá que ser submetida à avaliação desse funcionário e poderá ser simplesmente vetada por ele. De acordo com o projeto, a restrição se aplica a vendas de ativos, investimentos, contratos e qualquer outro tipo de compromisso assumido pelas empresas".
Esquerda ou direita? Capitalismo ou socialismo? Discussões que, para muitos, tinham perdido qualquer sentido, pois imaginava-se que não havia mais espaço para os pensamentos mais alinhados à esquerda. Resistências aqui e ali, mas aquilo que é tido como direita avançou em todo o mundo.
O mundo deseja o capitalismo, isso é fato. Mas, esse “mundo” aí é principalmente representado pelas grandes empresas, inclusive de comunicação, multinacionais, grupos poderosos, o mundo que traça e determina o destino do outro mundo, o dos homens.
Diante da atual crise, tida como a maior dos últimos oitenta anos, surge com força estonteante a necessidade de um redirecionamento da ordem mundial, aliás, como os textos de toda a imprensa internacional têm mostrado. O que mostra o texto acima, retirado da imprensa brasileira? A necessidade da intervenção e controle do estado sobre a economia. Mas você viu a que país se refere o texto? Aos Estados Unidos da América, o maior país capitalista do mundo. Só tem uma coisa; está acontecendo no mundo todo, ou seja, todos os governos estão injetando dinheiro nas economias para salvar os seus países, e o mundo. Será que estou enganado ou isso quer dizer que o modelo atual faliu? Será que estou enganado ou isso é uma estatização? Não? Então, o que é isso, a estatização do maior grupo financeiro do mundo, o Citigroup? Clique e veja. Aproveite e veja aqui o vídeo de José Paulo Kupfer sôbre essa estatização e o capitalismo.
Você lembra do neoliberalismo, da economia de mercado? Foi esta a ideologia que reinou no Brasil até bem pouco tempo, época das privatizações, lembra? O projeto era privatizar tudo, inclusive a Petrobrás e o Banco do Brasil. A pressão da sociedade brasileira conseguiu preservar estes. Segundo o cientista político César Benjamin, “o neoliberalismo só conseguiu produzir menores taxas de crescimento, maior desigualdade social e crises recorrentes, que culminaram na grande crise atual”.
A figura do presidente da república, consequentemente dos ex-presidentes, pelo cargo que ocupa de maior mandatário do país, merece o respeito de todos, e assim deve ser nas sociedades civilizadas. Entretanto, não é muito fácil digerir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negando as políticas que ele adotou nos seus dois governos.
A entrevista dada por ele à BBC de Londres foi constrangedora. Falando em inglês, excelente oportunidade de alimentar a sua reconhecida vaidade, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso nega, sem nenhum pudor, posturas adotadas no seu governo e que são do conhecimento de todos.
Com o respeito que devo à sua condição de ex-presidente, foi triste ve-lo fraquejar em vários momentos da entrevista, pela pobreza e inconsistência das suas respostas, e nesse sentido, não fosse vergonhoso, seria cômico o seu comentário a respeito do seu Procurador Geral da República, o Sr. Geraldo Brindeiro, identificado por todos, inclusive pelo próprio entrevistador, como “Engavetador Geral da República”. Sempre blindado pela grande (não no sentido de digna, mas de tamanho) imprensa brasileira, parece que o ex-presidente não contava com um entrevistador mais qualificado e independente. Um erro fatal.
Para onde irá o mundo? O que trará esse realinhamento da ordem mundial? Muitas perguntas surgem e surgirão. Da mesma forma, muitas respostas surgem e surgirão. O provável é que, para o bem do homem,
um novo modelo seja adotado.
Qual?
PS. Se você quiser ler a entrevista (em português) do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à BBC de Londres, realizada em outubro de 2007 (portanto, bem antes da crise atual), clique aqui. Se desejar ver e ouvir a entrevista (com legenda), à direita da foto do ex-presidente tem uma foto dele menor e está escrito Entrevista
FHC diz que nunca foi neoliberal
clique em VEJA