Bate outra vez com esperanças o meu coração
Pois, já vai terminando o verão, por fim
Volto ao jardim, com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente, as rosas exalam o perfume que roubam de ti
Ah! Devias vir para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas os meus sonhos por mim
O que nos vem à cabeça ao ver essa letra (muito melhor seria ouvir a música)? Alguém cantando a dor pela perda da mulher amada. Não é.
É praticamente certo que muitos não sabem quem é Cartola. Eu poderia dizer quem foi Cartola, mas determinados homens, mesmo depois da morte, não foram, são; Cartola é um deles. Determinados homens, e eles estão em todos os segmentos da sociedade, continuam vivos na sua obra.
Mas, o que então chora Cartola na sua música? A dor pela perda da juventude; é por ela, a juventude, que ele chora.
Lembram de Washington Pessoa, aquele grande amigo de João Pessoa? Ele me contou. Na mesma época do mestrado na USP, de onde veio também a históra do monólogo de Paulo Autran (leia O ator).
Washington contou que em um dos momentos de descontração durante o seu show, conversando com os alunos o próprio Cartola disse isso. Passara a vida toda com dificuldades financeiras e, reconhecido tardiamente o seu valor, agora começava a ter mais direito à coisas até então impensáveis. Já tinha comprado uma casinha… Segundo ele, porém, em um momento que a idade já não permitia o gozo pleno. Agora, volte, leia, sinta a música de Cartola e veja se, de fato, a juventude, ou a perda dela, está lá.
Está, não está? Está sim. Veja do que são capazes os poetas. Como conseguem transformar a dor, seja qual for e do tamanho que for, em algo de tamanha beleza