Entre as muitas histórias que ouvi de Washington Pessoa, um professor de Radiologia da Faculdade de Odontologia da UFPB e um grande amigo (não está mais entre nós e, quem sabe um dia fale um pouco dele), a pelo menos duas vou me reportar, uma delas agora.
Durante o seu mestrado, há alguns anos, em um evento na FOUSP houve uma apresentação, um monólogo, de Paulo Autran. Durante cerca de 1 hora e meia, como sempre faz Paulo Autran deu um show.
Após a apresentação, ele se sentou à mesa do Prof. Arão Rumel, seu amigo e respeitadíssimo professor de Radiologia da FOUSP, de quem recebeu muitos elogios pelo seu talento, chamando a atenção para um detalhe; a capacidade do ator de gravar e reproduzir um texto tão extenso.
Washington, que já se sentia o mais importante dos homens por estar à mesa do Prof. Rumel, agora não cabia em si; Paulo Autran estava ali, pertinho dele. E foi por estar tão perto que ele pode ouvir a resposta dele; Arão, vocês professores fazem a mesma coisa, dão longas aulas de um determinado tema, ou de assuntos diversos, e então arrematou; a sala de aula é o seu palco.
É sim. A sala de aula é o palco do professor. Ali, ele fala, emociona-se, envolve-se, representa. O artista é um profissional da arte, de alguma arte; o ator é o profissional da arte de representar. O professor, da arte de ensinar.
Já ouviram falar de dom? Certamente. O ator precisa ter dom para ser um bom ator. Outra semelhança? O professor tem que ter dom para ser um bom professor. Paulo Autran estava certo. Os dois, ator e professor, são muito parecidos.
Representar não é só profissão, é arte. Conhecem algum grande ator que não tenha declarado o seu amor pela arte de representar? Em outras palavras, conhecem algum grande ator que não ame a sua profissão? É sentimento, na mais profunda acepção da palavra.
Aí está um dos grandes segredos dessa profissão, quem sabe o mais importante; ama-se muito o que se faz. A sabedoria popular diz que quando se gosta do que se faz, faz-se melhor. É evidente que o ator consagrado ganha e muito bem, mas não é assim com todos. Mas, independente disso, há no artista “algo mais” que o dinheiro. Que bom viver sem sobressaltos financeiros, melhor ainda com uma boa folga financeira; quem renunciaria a isso? Porém, para o artista, o poeta, o pintor, o autor, muito mais importante é a sua arte.
Tão parecidos nas suas artes, ator e professor, tavez esteja faltando a este mais amor pela arte de ensinar.
Não, não é verdade. Tal qual o verdadeiro artista, não falta ao verdadeiro professor o amor pelo que faz. Se falta, não é um bom professor.