Por Ronaldo Souza (modificado em 05/04)
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cór
Já conheço as pedras do caminho…
Chico Buarque
Tenho ouvido que o Bahia está oscilando muito; goleia em um jogo, perde no seguinte.
Uma goleada pode ser reflexo de um acidente. Naquele dia, tudo deu certo para um time e errado para o outro. Quando a goleada se repete mais duas ou três vezes, fica mais difícil “não reconhecer” que o time está muito bem, obrigado.
Mas…
Observe bem e você verá que o Bahia tem goleado times fracos.
Quando enfrentou situações diferentes, foi um desastre.
No BaVi, o Bahia enfrentou um time muito limitado, mas, covarde, jogou se escondendo e clássico é clássico (você nunca ouviu falar isso). O time do Vitória sentiu que podia ganhar, foi pra cima e o Bahia se apequenou.
Perdeu!
Contra CSA e Fortaleza, dois times mais bem armados, também perdeu.
O time está jogando muito mal!
Vamos lá.
Cair ora por um lado, ora por outro e fazer isso bem, torna diferenciado o atacante, entretanto, o que o caracteriza como centroavante é saber jogar particularmente pelo meio, na área.
Aquela posição ele conhece como poucos e é jogar dessa forma que o torna um dos bons existentes, entre os melhores.
Gilberto, atacante do Bahia, é assim.
Caindo pela direita ou pela esquerda do ataque, ele é capaz de fazer jogadas/lançamentos, mas que não o caracterizam como jogador. Em outras palavras, fazer essas jogadas/lançamentos eventualmente confirmam sua qualidade, mas não fazem dele um exímio lançador, um “enfiador” de bolas nos espaços vazios.
Querem um exemplo? A enfiada de bola que, da esquerda, ele fez para Rodriguinho no meio dos zagueiros, que redundou num gol contra o Sport, se não me engano.
Por conta disso, o treinador competente contará com um centroavante de qualidade, com mobilidade, importante para o futebol de hoje, mas não o fará, dali em diante, jogar pela esquerda e Rodriguinho pelo meio.
Dado fez!
No jogo contra o Fortaleza, o mais recente (03/04), o Bahia começou jogando com Rossi, Rodriguinho e Gilberto, este pela esquerda.
Funcionou?
Da metade do primeiro tempo até o seu final, quando estava tomando 1 a 0, o Bahia já era uma desarrumação só.
Rossi, que não tinha entrado no jogo (estava fazendo aquecimento dentro do campo, ali pelo lado direito, mas não jogando), já estava discutindo com Gilberto, que por sua vez estava de calundu (será que se aborreceu porque viu que estava tudo errado?).
A essa altura, o Bahia, como diz a sabedoria popular, jogava pedra em santo.
Aí, sem merecer, fez um belo gol, fruto da qualidade dos jogadores, nada mais.
Desceu para os vestiários com um bom resultado e um futebol lamentável.
Imaginei que haveria alguma mudança no time.
Não foi necessária.
Dado achou que o time estava jogando bem.
Lembra do jogo contra o Vitória, em que o Bahia desceu para os vestiários jogando um “grande” futebol contra meninos de 15 anos em média?
Voltou para o segundo tempo com o mesmo time!
Tomou o gol e de imediato mudou o time. O errado que ele não viu, apareceu na hora em que tomou o gol.
No sábado, tomou o segundo gol do Fortaleza e, outra vez, de imediato, mudou o time!
Só relembrando, o mesmo time que desceu para os vestiários feliz da vida com o gol de empate e achando que jogara um belo futebol.
Tirou Chico, botou Zé, tirou João, botou Pedro, tirou Osvaldo, botou Arnaldo e na sequência tirou Josualdo e Pereira e botou Romualdo e Parreira. Alguém tinha que entrar, alguém tinha que sair. Parecia não importar quem.
Ficou aquele amontoado de jogadores correndo atrás da bola, lutando, tentando… Apesar da maior movimentação dada pelos jogadores que entraram, alguns dos quais deverão ser titulares, a qualidade do jogo não se modificou. Tanto que não houve nenhuma chance real de gol.
Nas entrevistas pós-jogo, Dado e Rodriguinho acharam que o time jogou bem e está evoluindo.
Só há dois títulos em que seriam reais as nossas chances de conquista; Campeonato Baiano e Copa do Nordeste. No horizonte não há nenhum indício de que chegaremos lá. E podemos acrescentar aqui tranquilamente um “e olhe lá!”.
Não há como saber quais são as pretensões da diretoria do Bahia, mas, parece que no seu horizonte há, isso sim, uma ilusão postada. O seu nome é Dado.
No tão curto espaço de tempo entre as duas temporadas (2020-2021), outra vez não é pequena a inquietação.
Se no final da temporada passada o universo conspirou a favor do Bahia e ele não caiu, nada nos diz que deveremos contar com o mesmo fenômeno novamente.
Independente disso, a preocupação com esse futuro bem próximo, batendo já à porta, hoje toma conta da torcida tricolor.
A diretoria está contratando e parece que bem. A tendência é que o time melhore com os jogadores que chegaram.
Alguns deles, no entanto, já estavam à disposição do treinador. Thaciano, por exemplo, que vinha jogando normalmente no Grêmio, portanto, com ritmo de jogo, só entrou aos 26 minutos do segundo tempo. Ficou todo o primeiro tempo e mais da metade do segundo vendo um meio de campo sem produzir nada. Galdezani entrou quando faltavam 10 minutos para terminar o jogo.
Dado já deixou claro que quem o orienta a fazer as substituições não é o futebol apresentado, mas o gol tomado.
A qualidade de Germán Conti já se evidencia, mas a defesa continua dando espaços inacreditáveis para que os atacantes adversários se movimentem à vontade. David deitou e rolou.
É jogador que está faltando ou treinamento e orientação de posicionamento?
E o outro zagueiro, Luiz Otávio, por que não joga?
O Campeonato Brasileiro começa no próximo mês e as regras para contratação de treinadores mudaram de maneira significativa. Tenha o Bahia concordado ou não com elas, a margem de erro na escolha do técnico sofreu uma redução drástica.
Sob as novas condições em relação à mudança de técnicos, começaremos o campeonato esperando as coisas acontecerem por obra do destino?
Depois do reconhecimento do próprio presidente Bellintani, teremos esquecido o erro cometido na demora da substituição de Roger Machado?
Não mudaremos a trilha a seguir?
Ficaremos aguardando a confirmação da perda dos “dois títulos em que ainda seriam reais as nossas chances de conquista” para então agir?