Por Ronaldo Souza
Senhor Cláudio Pracownik, imagino a excitação e o nível dos comentários que o senhor deve ter provocado nas redes sociais com a sua resposta por conta da imagem do senhor e sua família na internet que, segundo dizem, viralizou.
No entanto, mesmo dirigindo-se a um meio em que a previsibilidade do nível das comemorações não oferecia nenhum risco, o senhor foi tão raso que chocou.
Pela sua posição social, muito provavelmente seu nível de formação é aquele que se chama de superior, ou seja, o senhor tem diploma de faculdade, quem sabe daquelas estrangeiras cujo quadro fica pendurado na parede atrás da sua cadeira.
Senhor Pracownik, a vida não deveria simplesmente passar à nossa frente, nós é que passamos por ela. Mas percebi que ela fez isso com o senhor.
Vou me permitir transcrever o seu texto, na cor lilás, para que possamos trocar algumas ideias.
“Sí Pasarán!”
Ganho meu dinheiro honestamente, meus bens estão em meu nome, não recebi presentes de construtoras, pago impostos (não, propinas), emprego centenas de pessoas no meu trabalho e na minha casa mais 04 funcionários. Todos recebem em dia. Todos têm carteira assinada e para todos eu pago seus direitos sociais.
Meu comentário:
- Ninguém vai contesta-lo quanto ao senhor ganhar seu dinheiro honestamente, até porque não sabemos e não temos como saber detalhes da sua vida.
- Receber em dia é direito de todo assalariado e pagar com carteira assinada é dever de todo empregador.
- “não recebi presentes de construtoras, pago impostos (não, propinas)”. Certamente, aqui o senhor não se refere à presidenta Dilma Rousseff. Se o faz, não comete o mesmo pecado da ignorância política que cometem aqueles que fizeram jorrar nas redes sociais os orgasmos que tiveram com a sua resposta.
Cometeria, entretanto, algo pior. O pecado do cinismo, tendo em vista que, como eles, ignorante nesse nível o senhor não é.
Acredito então que faz alusão ao ex-presidente Lula. Se é assim, e é, o senhor derrapa feio. Aí a coisa toma outro rumo.
O senhor é banqueiro e empresário, o que explica a sua frase “emprego centenas de pessoas no meu trabalho e na minha casa mais 04 funcionários”. Aliás, uma frase que vomita a típica e incontida arrogância de pessoas na sua posição.
O senhor foi Vice-Presidente Financeiro das Empresas Brasif.
A Brasif é aquela empresa que, segundo Miriam Dutra, ex-amante de Fernando Henrique Cardoso, foi usada por ele, FHC, para enviar 3 mil dólares por mês durante quatro anos para ela ficar “exilada” na Espanha.
Uma concessionária do governo federal fazer aquilo foi vergonhoso.
A Brasif é a empresa que teve todos os documentos queimados num incêndio em Contagem três dias antes da eleição presidencial, conforme publicado neste blogue.
Sendo assim, falar de “presentes de construtoras e propinas” estando tão ligado a homens como Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves, para citar só dois, não parece recomendável ao senhor.
Não faço mais do que a minha obrigação! Se todos fizessem o mesmo, nosso país poderia estar em uma situação diferente
A babá da foto, só trabalha aos finais de semana e recebe a mais por isto. Na manifestação ela está usando sua roupa de trabalho e com dignidade ganhando seu dinheiro.
Comentário: Não tenho nenhuma dúvida de que “ela está usando sua roupa de trabalho e com dignidade ganhando seu dinheiro”. Nenhuma dúvida particularmente quanto ao “com dignidade ganhando seu dinheiro”.
No entanto, senhor Cláudio Pracownik, para falar da “sua roupa de trabalho” a história muda completamente e ela não caberia aqui, muito menos no seu mundo.
Ainda que o tempo disponível para “outras leituras” além da minha atividade profissional não permita muita coisa, nunca aceitei a desinformação, a alienação. Por essa razão sempre procurei ler o que caísse nas mãos sobre sociologia, filosofia, história, coisas assim.
Uma das sugestões que faria ao senhor é ler aquele que é considerado talvez a nossa maior obra de sociologia no Brasil, o livro “Casa-Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre.
Mas há autores contemporâneos da maior importância que também podem nos ajudar nesse sentido. Citaria pelo menos um deles; Darcy Ribeiro, que formou uma bela parceria com o ex-governador do Rio, Leonel Brizola, em quem provavelmente o senhor não votou, e deu frutos interessantes, como os CIEPS, que a Globo fez de tudo para destruir.
O senhor já ouviu falar das “famílias quatrocentonas”?
Conhecer um pouco essa história explica em parte o que é isso que acontece nas avenidas paulistas do Brasil.
De qualquer forma deixo aqui uma brevíssima “aula” de sociologia de Gilberto Gil, aquele ‘pretinho’ da Bahia. Como alguém pode brigar comigo, e com razão, por não colocar toda a música de Gil, deixo o link para quem quiser ouvi-la na íntegra https://www.youtube.com/watch?v=0tcstokDe-w.
O baiano de quem Gil fala, na verdade é o Clube Bahiano de Tênis, à época o mais tradicional da Bahia. Deve ser por isso que o nome da música é Tradição.
Os negros só entravam no Bahiano como serviçais, como as babás, usando sua roupa de trabalho. As roupas servem para identifica-las, para que não houvesse a menor possibilidade de mistura, como se isso fosse possível.
Sei que isso é tradição, mas essa “distinção”, senhor Pracownik, sempre foi uma forma de humilhação e não precisa ser sociólogo para entender questões como essa. Basta um pouco de sensibilidade e bom senso.
Nós, brancos, é que não percebemos isso.
E tradição tem muito a ver com famílias quatrocentonas, escravidão no Brasil, quilombos, Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre, Gilberto Gil…
Mas, reconheço que querer que o senhor entenda isso é querer demais.
A profissão dela é regulamentada. Trata-se de uma ótima funcionária de quem, a propósito, gostamos muito.
O senhor não sabe, tenho certeza, do trabalho que deu para regulamentar profissões como empregadas domésticas e aí podemos incluir as babás. Espero, aliás, torço para que o senhor seja capaz de deduzir que essa conquista não teve nenhuma participação dos patrões. Teve, isso sim, participação decisiva desses sindicatos desgraçados que existem por aí.
Quanto ao gostamos muito, não discuto.
Ela é, no entanto, livre para pedir demissão se achar que prefere outra ocupação ou empregador. Não a trato como vítima, nem como se fosse da minha família. Trato-a com o respeito e ofereço a dignidade que qualquer trabalhador faz jus.
Sinto-me feliz em gerar empregos em um país que, graças a incapacidade de seus governantes, sua classe política e de toda uma cultura baseada na corrupção vive uma de suas piores crises econômicas do século.
Comentário: Só um lembrete.
Lembra dos governos FHC, aquele que a Brasif ajudou a mandar dinheiro para… aquela história. Quantos empregos foram gerados naquele período? Vamos relembrar?
Governo FHC – 627 mil/ano
Governos Lula e Dilma – 1,79 milhões/ano
O senhor esqueceu isso quando escreveu esse brilhante texto?
Agora, se querem mais uma vez fazer de contas que desconhecem as causas do desemprego que está acontecendo neste momento, só tenho a lamentar.
Os que soltaram fogos nas redes sociais com a sua resposta dando na cara desses esquerdopatas com luva de pelica não, eles nada sabem. Mas o senhor eu tenho quase certeza que sabe do que estou falando.
Triste, só me sinto quando percebo a limitação da minha privacidade em detrimento de um pensamento mesquinho, limitado, parcial cujo único objetivo é servir de factoide diversionista da fática e intolerável situação que vivemos.
Comentário: Fico imaginando o que devem pensar Lula e Dilma vendo o senhor chorar sobre limitação de privacidade.
Para estas pessoas que julgam outras que sequer conhecem com base em uma fotografia distante, entrego apenas a minha esperança que um novo país, traga uma nova visão para a nossa gente. Uma visão sem preconceitos, sem extremismos e unitária.
O ódio? A revolta? Estas, deixo para eles.”
Comentário: é impressionante o cinismo. Eu riria se não fosse tão dramaticamente medíocre e ridículo.
Falar para nós de “Uma visão sem preconceitos, sem extremismos e unitária ódio e revolta?”
Cê tá de brincadeira, Senhor Cláudio Pracownik!