A tristeza que me deu

Carlos Heitor Cony

Numa das maiores baixarias de sua história, a Folha de S. Paulo permite que um de seus colunistas, o escritor Carlos Heitor Cony, aproveite o domingo de Páscoa para mandar a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula se f…; “Agnóstico por convicção, gosto de comemorar as duas páscoas. Evito o terrível cativeiro de me tornar refém de Dilma e Lula. Desejo que ambos se f…”, escreveu Cony; com a coluna deste domingo, clima de ódio incitado pelos meios de comunicação chega ao paroxismo Brasil 247

Por Ronaldo Souza

“A gente nasce primeiro para os outros. Há um dia em que você nasce para você mesmo”.

Mais do que nunca, estamos diante de um momento em que se criam estereótipos com imensa facilidade.

           Todos os… são corruptos.

A generalização toma conta, é a regra.

Querendo-se ou não, é a pura verdade. 

Manter-se prudentemente distante dessa tendência de estereotipar as coisas é necessário.

Mante-la em níveis aceitáveis é sábio.

Já sabia do conservadorismo de direita de Cony, mas relativizava em nome da sua inteligência e competência como escritor e jornalista.

Da mesma forma que o faço com Nelson Rodrigues.

Faço, não nego, algumas “concessões” em nome da inteligência.

A frase que começa esse texto “A gente nasce primeiro para os outros. Há um dia em que você nasce para você mesmo”, é do romance ‘Antes, o verão’, de Carlos Heitor Cony.

Li há cerca de 15 anos.

Acho a frase sensacional e dela fiz uma analogia com a vida que muito me agrada.

Um dia falo sobre isso.

Mas ela está aqui por outra razão.

Indo para a Fonte Nova no domingo de Páscoa, li a notícia acima em que Cony manifesta o seu desejo.

Referindo-se a Lula e Dilma, diz; “Desejo que ambos se f…”

É inexplicável e preocupante o ódio que hoje corre pelas veias da sociedade.

Um ódio que não poupa nem mentes privilegiadas como a de Carlos Heitor Cony.

Como entender que determinados homens e mulheres, ainda mais com o passar dos anos que costumam trazer mais serenidade, manifestem tanto ódio? 

Essas horas me fazem refletir mais. 

Se mentes como a de Cony não conseguem trabalhar as diferenças para tornar mais amenas as relações humanas, como esperar que mentes primárias o façam?

Ainda que despreze determinadas manifestações de homens menores, procuro entende-las justamente por virem dessas mentes.

Não posso negar, entretanto, que faço algum esforço para isso.

As nossas veias estão abertas e  vemos por elas correrem o preconceito e o ódio.

“Hoje ele manda Dilma e Lula se fu… na Folha. A velhice não lhe fez aprender nada. Continua o mesmo velho babão da elite e dos patrões que era na juventude”, disse o jornalista e blogueiro Renato Rovai.

Foi grande a tristeza.

Quando voltei da Fonte Nova, comentei com a minha mulher.

Era uma forma de desabafar.

Prevenção de complicações coronarianas.

Ódio faz mal.

Muito mal.