Conhecido nas redes sociais por seus depoimentos polêmicos, o cantor e compositor Lobão surpreendeu após publicar, neste domingo de Páscoa (27/3), uma carta aberta de perdão a Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil. O trio participou do programa “Altas Horas”, da TV Globo, exibido neste sábado (26/3), e opinou sobre o atual cenário político brasileiro, além das passeatas e manifestações, que ocorrem por todo o país.
“Se estou eu, lutando pela verdade dos fatos, por alguma razoabilidade nos gestos, por justiça, honestidade intelectual, tolerância e entendimento, cabe a mim adotar esse rigor, antes de mais nada, a mim mesmo e por isso mesmo venho a público pedir minhas desculpas por ter sido, durante todos esses anos, desonesto a diminuir o talento de vocês três por pura birra, competição, autoafirmação ou até, vá lá, uma discordância genuína quanto a princípios ideológicos, políticos e metodológicos”, justificou Lobão.
Na carta, o músico convocou o trio para uma conversa de “pessoas crescidas, que estão nessa luta por um Brasil mais justo, cada um a sua maneira, com toda disposição para melhorar as condições do país em todos os sentidos”. Ele também escreveu sobre a admiração que tem pelos três cantores: “Vocês fazem parte, queira eu ou não, do meu DNA artístico e afetivo, do meu imaginário poético e são sim, artistas muito fora da curva ,tanto na excelência das canções com na criatividade ,na beleza e na inspiração de seus versos”.
Lobão encerra o texto dizendo que cooperará “com humildade e dedicação” por um Brasil melhor,e que não há razão nem espaço para conflitos,convulsões sociais nem revoluções. “A transformação se dá através do crédito moral, do afeto e de uma nova aliança, que permeará esse novo e maravilhoso Brasil que se vislumbra. Topam?”, convocou.
Leia a carta de Lobão na íntegra:
Carta Aberta para Caetano, Gil e Chico
Caros amigos ,
Decidi escrever uma carta aberta a vocês por inúmeros motivos, mas confesso que dentre todos esses tais motivos que me moveram ,estava lá ,para minha surpresa, no fundo do meu peito a me gritar, o maior e mais importante deles todos: O meu amor por vocês.
Não poderia haver momento mais emblemático, um domingo de Páscoa, me permitir( não sem alguma resistência) ser flagrado em minhas próprias contradições.
Pois bem: na madrugada de hoje ,tomei fôlego e sintonizei o programa do Serginho Groissmann no intuito(um tanto beligerante) de verificar as declarações do Caetano que vazaram na imprensa sobre as passeatas, a situação política etc e tal, imaginando colher não somente o que foi dito, mas como foi dito ,gesticulado e contextualizado.
Até então, o clima era de afiar unhas e dentes.
Contudo, algo muito possante tomou conta de mim, uma força estranha foi me conduzindo para áreas da minha memória afetiva e quando dei por mim, estava lá eu olhando para a TV inundado de carinho e amor , com um enorme sentimento de parentesco por aquelas duas figuras( Caetano e Gil) que há tantos anos venho me digladiando e divergindo.
Essa tal força estranha também dragou uma outra figura, na tela ausente, para a ribalta do meu coração, o Chico.
E a partir daquele instante me vi numa tremenda sinuca de bico: Se estou eu, lutando pela verdade dos fatos, por alguma razoabilidade nos gestos, por justiça, honestidade intelectual, tolerância e entendimento, cabe a mim adotar esse rigor, antes de mais nada, a mim mesmo e por isso mesmo venho a público pedir minhas desculpas por ter sido durante todos esses anos ,desonesto a diminuir o talento de vocês três por pura birra, competição, autoafirmação ou até, vá lá, uma discordância genuína quanto a princípios ideológicos ,políticos e metodológicos.