Por Ronaldo Souza
A nossa gloriosa imprensa bem que tentou minimizar o problema, dando um “placar” de 8 X 2.
Mas não foi.
A goleada foi maior ainda.
Os dois votos contabilizados para Moro, dos ministros Marco Aurélio Mello e Luiz Fux, foram quanto à manutenção da investigação sobre Lula continuar com Moro e não na outra votação.
Fácil de explicar.
Uma vez que Lula ainda não é ministro, não teria foro privilegiado. Sem foro privilegiado, não caberia ao STF julga-lo.
Sendo assim, a investigação seria mantida com o juiz da República de Curitiba.
Essa foi a interpretação dos dois ministros. Esses foram os seus votos.
Dois.
Mas, o julgamento do juiz Sérgio Moro foi quanto a ilegalidade da sua atuação.
No plenário do STF estavam presentes 10 ministros.
Todos votaram reconhecendo como atos ilegais os procedimentos do juiz Moro, o campeão do combate à corrupção.
Mesmo após o ministro Celso de Mello, do alto do seu pedantismo e arrogância, ter antecipado o seu voto a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff a uma militante pró-golpe em um shopping center no fim de semana passado, ele se viu forçado a endossar a unanimidade do plenário do STF.
Veja o que ele tinha dito na “entrevista” do shopping center, uma mancha irreparável na história do STF.
Como “o juiz Moro vem agindo de acordo com o que manda a legislação brasileira” se Vossa Excelência acabou de votar reconhecendo que ele desrespeitou a Constituição Brasileira?
Não é a Constituição Brasileira a legislação brasileira???
Esse é um dos problemas não percebidos nos tempos atuais.
A unanimidade é uma correnteza.
Ela arrasta os fracos, sejam eles pedantes e arrogantes ou não.
Ministro Celso de Mello, não tem como não relembrar do seu famoso diálogo com o jurista Saulo Ramos, retratado no livro dele, cujo título é ‘Código da Vida’.
Vamos à história:
“… Sorteado para relatar o processo, Marco Aurélio Mello concedeu no mesmo dia uma liminar favorável à manutenção da candidatura de Sarney pelo Amapá. O caso escalou o plenário do tribunal. Sarney prevaleceu no julgamento do mérito. Para surpresa de Saulo, Celso de Mello votou pela cassação da candidatura. A meia-volta deixou-o embatucado. A explicação viria num novo telefonema do dono do voto. O diálogo vai reproduzido abaixo tal como se encontra no livro:
— Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.
— Claro! O que deu em você?
— É que a Folha de S.Paulo, na véspera da votaçãoo, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S.Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.
— Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S.Paulo noticiou que você votaria a favor?
— Sim.
— E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
— Exatamente. O senhor entendeu?
— Entendi. Entendi que você é um juiz de merda.
Saulo conta que bateu o telefone e nunca mais dirigiu a palavra a Celso de Mello. Morreu em 28 de abril de 2013 sem que o livro escrito cinco anos antes merecesse nenhum desmentido público do neodesafeto. Por ora, os dois Celsos —o que desafia as multidões e o que treme ante uma notícia de jornal— continuam coabitando o mesmo corpo”.
Esta história pode ser lida na coluna de Josias de Souza aqui.
Portanto, se todos os 10 ministros votaram contra o Sr. Moro, o placar foi 10 X 0.
Não deixou qualquer margem de dúvida de que o juiz Sérgio Moro rasgou a Constituição Brasileira
Para desgosto e desespero da Globo.
Não que a Globo sinta qualquer arrepio pelo rasgar da Constituição.
Não.
O seu desgosto e desespero decorrem da exposição do seu herói de plantão, o “Homem que Faz Diferença”.
É uma pena que somente agora o STF tenha se dedicado a analisar a ilegalidade dos atos do capitão Moro e, no caso, numa situação bem específica; o absurdo grampo sobre as conversas telefônicas, por demais conhecidas, e o absurdo maior ainda da sua divulgação, através do coincidente vazamento para a… Globo.
Aliás, não é vazamento.
É linha direta.
O herói nacional se desnuda mais a cada dia.
E isso é um perigo.
Uma fera ferida é capaz de tudo para se salvar.