Pedras atiradas

Torcida de Ouro

Por Ronaldo Souza

Por razões nem sempre claras, é comum acontecer de alguém, ou um grupo, tornar-se alvo de ataques.

Por que razão não sei, mas talvez possa imaginar, Marcelo Santana, presidente do Bahia, tornou-se o alvo predileto de muitos.

De saída, o que preocupa muito, apesar de não surpreender, é que mais uma vez a imprensa é parte ativa nesse processo.

No caso, claro, a imprensa esportiva.

De modo geral, a da Bahia é fraca.

Muito fraca.

Um horror.

No recente episódio que envolve a transferência do jogador Vitor Ramos para o Vitória, acho que o presidente do Bahia cometeu um equívoco ao “se envolver”.

Não competia a ele qualquer ação mais direta. Faltou experiência outra vez.

Poderia ter sido mais discreto, digamos.

Errou e ponto final.

Pecado mortal?

Longe, muito longe disso.

Negar a ele interesse no episódio e atirar-lhe pedras, entretanto, reflete tão somente o que pode estar por trás e a hipocrisia que reina nos tempos atuais.

Não percamos de vista o fato de que ele é o presidente do Bahia.

Basta isso para gerar muitos sentimentos “anti”.

Já ouvi diversas vezes pessoas se definirem como anti-Bahia, postura bastante conhecida entre nós.

Nessas horas, a paixão sempre fala mais alto.

E não esqueçamos que paixão e ódio muitas vezes caminham lado a lado.

Consideremos alguns aspectos.

Por uma certa semelhança (dois times maiores e os demais com potencial bem menor, sem nenhum menosprezo), usemos os campeonatos do Rio Grande do Sul ou Minas Gerais como exemplos e imaginemos algumas situações.

  1. Se em qualquer um deles, Atlético ou Cruzeiro, Internacional ou Grêmio, estivesse na iminência de ser desclassificado do campeonato estadual, você acha que o outro, o rival, ficaria indiferente?
  1. Ele não estaria torcendo e com vivo interesse de que a eliminação se confirmasse?
  1. Pelo menos teoricamente, não seriam bem maiores as chances de conquista do campeonato sem o maior adversário?
  1. Um título de campeão estadual não conta pontos para o melhor posicionamento no ranking do futebol brasileiro e não significaria mais dinheiro para o clube, indiretamente ou não?
  1. Além disso, se a eliminação precoce também o afastasse mais uma vez da disputa de importante copa regional, não teria também nenhuma importância e não contaria na pontuação do ranking nacional?
  1. O afastamento dessa importante copa regional, ainda mais pela segunda vez consecutiva, não poderia enfraquecer o time ausente sob alguns aspectos, entre os quais o financeiro?
  1. Deseja-se isso por simples desejo ou porque o rival que permaneceu se fortaleceria de diversas formas, inclusive sob a ótica da questão financeira?

Deixemos de lado quaisquer outras considerações que possam existir.

Mas, como condenar o presidente de um clube por pensar nos interesses do clube?

Se o presidente do Bahia errou, e errou, não teria errado também o do Vitória?

Afinal, por estar diante de questão jurídica tão importante, não recairia sobre ele o peso maior, até pelo fato de ser reconhecido advogado?

Não recairiam sobre o departamento jurídico do Vitória importantes questionamentos sobre a real situação do jogador e o porque de tudo isso estar acontecendo, com eventuais claros prejuízos ao clube?

Não tendo uma coisa nada a ver com a outra, não foi irônico demais o presidente do Vitória ao falar que “só falta dizer que o Vitória deve sair da série A”.

Não seria passível de críticas por essa tentativa de fuga do real problema, que parece que já lhe incomodava, jogando uma cortina de fumaça com o que lhe pareceu ser interessante, jogar para a torcida “tripudiando” do intrometido adversário?

A quem ele se referia e por que com a citação à Série A?

Ora, ora.

No entanto, não vejo baterem no presidente do Vitória da mesma forma que fizeram e fazem com o do Bahia.

O que fizeram e estão fazendo com o presidente do Bahia dispensa comentários.

É tão somente mais um daqueles momentos que se aproveita para apontar o dedo acusador para um alvo já pré-determinado, quem sabe por motivos inconfessos.

A verdade é que a desimportância que aparentemente foi dada ao caso não se confirmou com o passar dos dias.

O julgamento incialmente marcado para o dia 30/03 (quarta-feira) foi adiado para 01/04 (sexta-feira) e na sequência para o dia 04/04 (segunda).

Alguém ainda tem dúvida de que realmente há algo errado?

Dispenso-me de comentários sobre a Federação Baiana de Futebol e seu presidente, por razões que me parecem óbvias, apesar de entender quem não as veja assim.

O que me é possível fazer é lamentar que o atual presidente da FBF ocupe o cargo há infindos anos e que lá permanecerá por outros tantos.

Pelas mesmas razões também me dispenso de qualquer comentário sobre a CBF.

Arrepia-me só o fato de a mencionar.

Sei que reportagens recentes da imprensa nacional já acusam e estranham a mudez e inércia dessas instituições do nosso pobre futebol.

Por tudo isso, não me surpreenderia nem um pouco se amanhã o jogador Vitor Ramos aparecer todo regularizado, como se nada tivesse ocorrido.

Seja, porém, qual for o resultado, todos, sem exceção, que bateram no presidente do Bahia perderam.

Falo sim para defende-lo, afinal ele é o presidente do meu time e ainda merecedor da minha confiança.

Mas falo muito mais como advertência à torcida tricolor.

Cuidado, muito cuidado com essas pessoas.

O seu time ainda é grande e o maior do Norte/Nordeste e por isso desperta muitos sentimentos.

Infelizmente, nem sempre os mais nobres.

E não se esqueça.

O Bahia sempre correrá riscos daqui em diante.

Há sempre um preço a pagar quando se enfrenta a vida com coragem.

Ao assumir a opção por alternativas que tentam sair das garras de quem patrocina a escuridão do futebol brasileiro, o Bahia vai pagar um preço.

E isso também me faz ficar do lado do presidente.