Amigo

amigo

Por Ronaldo Souza

“E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”

Esse é um trecho do poema “Amigos”, de Vinícius de Morais.

Do verso anterior a esse, esta é a primeira frase:

“A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor…”

Confesso a dificuldade em acreditar quando alguém diz que tem muitos amigos.

Não o amigo comum, o de convivência mais próxima, diária, o da festa, redes sociais nem pensar.

Amigo.

Acredito que é desse que Vinícius fala.

Aí sim.

De alguém que tenha, de fato, muitos amigos desse tipo, tenho inveja.

Mas, perdoe-me a franqueza, se existirem, não são muitos esses privilegiados.

Somente quando um amigo lhe nega é que você percebe, quase que enlouquecendo, como diz Vinícius, como dói.

E na dor vem a revelação; ele não era seu amigo.

Qual será a dor maior, a da negação ou a da percepção de que ele não era seu amigo?

O amigo que lhe nega jamais saberá a dor que causou.

Quem sabe até fique se perguntando, ou a outros:

Por que ele se afastou?

E você, que sente e chora a dor, não vai desabafar falando de sentimentos profundos com quem não é mais… amigo.

Nem aos amigos em comum você diz “o que aconteceu”, porque mesmo eles talvez não entendam a real dimensão, o quanto doeu.

Somente o cristal sente o quanto lhe é profunda a rachadura.

A dor nem sempre é proporcional ao tamanho que parece ter o gesto que a provocou.

Dor é individual.

É limiar.

É percepção.

É sua.

A chaga que se abre na seção “amigos”, a maior do seu coração, jamais se fechará.

Mas ele, o seu coração, sempre abrirá a porta para uma nova amizade.

Independente da dor.

O coração não tem jeito, ele é assim.

Apanhando, mas sempre abrindo as portas e janelas da casa.

Essa é a beleza da vida.

Por isso dizem que vale a pena ser vivida.

Pelos que ficam.