Soberbos e humilhados

Escudo do Bahia

Por Ronaldo Souza

Ainda que considerássemos possível e aceitável um eventual empate, todos contávamos com a vitória.

Por que então esse amargo sabor de derrota se o possível e aceitável empate aconteceu?

A idolatria que o torcedor de futebol dedica ao jogador de seu time é fugaz e dependente de alguns aspectos. Para ele o que importa é que o seu time ganhe.

Pelo menos assim parece.

Mas não é.

Tanto não é que não são tão poucas as vezes em que os jogadores saem de campo aplaudidos mesmo diante de uma derrota.

Recomenda-se que ninguém imagine que a capacidade do torcedor não vai além de gritar e torcer pelo seu time nas arquibancadas; ele tem a sua sabedoria.

Será que ainda existem torcedores que veem em seus jogadores alguma possibilidade de amor pela camisa?

Ainda se anseia que tenham amor pela camisa?

É no mínimo muito pouco provável. Como tantas outras coisas, o futebol mudou muito.

Mas, respeito sim.

O respeito ao clube e aos seus torcedores deveria ser o mínimo do que se deve esperar do jogador de futebol.

O Bahia e a sua torcida têm sido desrespeitados com alguma frequência nesses últimos tempos.

O que vimos ontem (24/09) no jogo contra o CRB foi um desses momentos, que se transformou num desastre monumental.

Um desastre que extrapola os limites do campo.

Alguém precisa dizer a aqueles jogadores que, se de fato são, ainda não demonstraram ser o que imaginam ser.

Se fossem, ganhariam mais jogos, principalmente fora de casa, quando não contam com a força da torcida e as vitórias têm que sair dos seus próprios méritos e força.

E elas simplesmente não acontecem.

Se fossem, respeitados como são pela diretoria e pela torcida (por esta, até idolatrados), não deixariam o time na situação em que se encontra.

Se fossem, com todos os salários e obrigações do clube cumpridos como poucos outros conseguem fazer, o Bahia seria um dos primeiros colocados.

E por favor, não digam que pagar salários em dia é obrigação do clube.

Não poderíamos, nós torcedores, responder com a mesma moeda, isto é, dizer que ganhar os jogos também seria obrigação deles.

Sabemos que não podemos dizer isso. Não consta em nenhum contrato que os jogadores são obrigados a ganhar os jogos.

Sequer consta que eles são obrigados a ter respeito ao clube e à torcida.

Deveria constar, isso sim, no “contrato” que cada jogador tem consigo mesmo, no contrato que cada um deveria ter com a sua honra pessoal, o respeito por ele próprio.

O que ocorreu ontem em Maceió foi a demonstração clara da falta de amor próprio.

Independente dos erros do técnico Guto Ferreira, já assumidos por ele, o que ocorreu ontem em Maceió foi a demonstração clara de que determinados momentos da vida exigem que, além do profissional, entre em cena o homem.

Uma partida de futebol em que o time joga com um a mais desde o final do primeiro tempo e todo o segundo tempo, ganhando de dois a zero e permite aquilo, deixa de ser um simples jogo de futebol.

Ontem poderia ter sido considerado um acidente de futebol, mas não foi.

Ontem, alguns jogadores do Bahia, mas me dirijo a todo o grupo, foram soberbos.

Entrou em campo somente o profissional que, mesmo diante de circunstâncias inteiramente favoráveis, permitiu que o resultado fosse alterado daquela forma.

Não entrou o homem.

Faltou a consciência típica de quem traz consigo a humildade que identifica que a vitória construída sem base sólida não se sustenta por muito tempo.

Quem não viu que o time não estava jogando bem e se apequenara mesmo diante de um placar favorável, mas que não refletia o jogo?

Quem não viu que o time não estava jogando bem e se apequenara ao ficar esperando pelo final da partida ao invés de, pela sua superioridade técnica, impor o ritmo do jogo?

Não, não foi um empate. Foi uma derrota humilhante.

Se não pareceu ao profissional que esteve em campo, foi para o homem que sequer esteve perto dele.

Para cada um daqueles homens que não entraram em campo, há de ficar uma derrota humilhante.

E não há nada pior do que a derrota pessoal quando esta decorre da falta de amor próprio, do compromisso consigo mesmo.

Os jogadores do Bahia foram merecidamente humilhados pelos jogadores do CRB e isso os fez pequenos.

Se serão homens para reconhecer e transformar isso num aprendizado só o tempo dirá.