Um pouco lá atrás

Obturação de canais laterais

Por Ronaldo Souza

Hoje, manhã de sábado, 28 de janeiro de 2017, buscando um texto na internet vi algo que me chamou a atenção. Fui conferir e “caí” no meu site, www.endodontiaclinica.odo.br.

Em 07 de novembro de 2008, portanto, há pouco mais de 8 anos, respondi às questões colocadas por Vinicius Pires, um colega de alguma parte do Brasil que me honrou com a sua participação no Blog da Endodontia que, por falta de tempo, é uma seção atualmente desativada (os textos antigos, porém, continuam acessíveis).

Veja o “diálogo”.

Vinicius Pires: 

Colocando na balança a tecnica de obturaçao de condensaçao lateral e termoplastificada, devemos ficar com a técnica que nao extravasa material para o periápice mas nao obtura bem canais laterais ou a tecnica te geralmente extravasa material obturador ? Devemos priorizar o reparo biológico ou a obturaçao de canais acessórios ?

Vinicius, não está comprovada a relação da obturação de canais laterais com o reparo. Particularmente, acho que não existe essa relação.

Há 21 anos venho observando e estudando essa questão e posso lhe assegurar: o reparo não depende da obturação.

Hoje, outros autores já começam a dizer a mesma coisa.

Vou reproduzir um trecho do texto “Obturação do canal ou Root canal filling?” que publiquei aqui no blog. “Leia o artigo de Sabeti e colaboradores – Healing of Apical Periodontitis After Endodontic Treatment with and without Obturation in Dogs (Journal of Endodontics, julho de 2006, p. 628-633).

Após acompanhamento histopatológico de canais tratados, os autores dizem que “o achado digno de registro do estudo é que não houve nenhuma diferença na cura de lesões periapicais entre canais obturados e não obturados”.

Veja também no Journal of Endodontics de fevereiro de 2007, p. 96-105, (clique aqui), que em uma revisão sistemática e meta-análise, Shahravan e colaboradores afirmam que “a técnica de obturação ou o cimento obturador não influenciam na qualidade do selamento”.

No mesmo número, p. 106-109, (clique aqui), na conclusão de sua meta-análise, Peng e colaboradores dizem que “a comparação entre a técnica da guta percha plastificada e a condensação lateral mostra que o sucesso a longo prazo e a qualidade da obturação são similares”. 

Muitos equívocos têm sido cometidos com relação à obturação do canal e muita bobagem também tem sido dita. Após um bom preparo do canal, escolha a técnica que você dominar melhor, de preferência uma que não extravase material obturador, obture o canal e aguarde o reparo. Ele virá.

No segundo parágrafo da minha resposta, escrevi:

“Há 21 anos venho observando e estudando essa questão e posso lhe assegurar: o reparo não depende da obturação”.

Vinte e um anos se considerarmos somente até o ano de 2008, ano em que Vinicius Pires fez os questionamentos no Blog da Endodontia e do último controle radiográfico e tomográfico de um dos casos de um trabalho que fiz e sobre o qual em breve conversarei com você.

Portanto, estudo esse tema há 30 anos. Durante esse tempo também fiz algumas publicações sobre o assunto, algumas das quais você pode ver aqui no site na seção Publicações.

E venho afirmando há mais de 20 anos em todos os lugares onde vou:

O reparo não depende da obturação.

Se estivesse respondendo hoje às questões de Vinicius Pires, entre os trabalhos que referenciei colocaria também o de Ricucci e Siqueira, esse que vocês veem abaixo.

Veja o que eles disseram em 2010:

Nossas observações histopatológicas demonstraram claramente que os canais laterais nunca estavam completamente preenchidos por materiais obturadores.

Pegue a referência e leia esse artigo, vale a pena.

Ricucci e Siqueira