Por Ronaldo Souza
“É impossível o diálogo entre o extremamente forte e o extremamente fraco”.
D. Hélder Câmara
Há, sem dúvidas, diálogos impossíveis.
E há, portanto, discussões que não podem acontecer.
Elas se tornam impossíveis quando há, por exemplo, diferenças flagrantes entre os interlocutores.
Entretanto, mesmo acentuadas, essas diferenças muitas vezes não são percebidas e não parece difícil entender porque.
“Quanto menos alguém entende, mais quer discordar”.
Galileu Galilei
As diferenças de percepção envolvem alguns aspectos.
Já dizia Ralph Valdo Emerson que “é o olho que faz o horizonte”.
São os horizontes de cada um que determinam a possibilidade do diálogo.
Nesse sentido, poucas são as atitudes que igualam a da senadora Ana Amélia, a mulher que defendeu o uso do relho no lombo “daquele povo” da caravana de Lula, certamente um povo inferior, no Rio Grande do Sul.
A capacidade de mostrar o quanto os políticos golpistas conhecem os seus eleitores parece ter ficado patente.
Há pelo menos dois aspectos a considerar.
Ou a senadora Ana Amélia é muito burra, tapada mesmo, como dizem alguns, ou muito esperta (por favor, não confunda com inteligente).
A alternativa da burrice, claro, é plenamente aceita, não está descartada.
Mas é também possível que seja uma grande esperteza, que ela teria aperfeiçoado com a imprensa brasileira.
Conhecedores que são da inteligência e sensibilidade dos seus leitores/telespectadores, a imprensa tira proveito de um público criado por ela própria à sua semelhança.
Quando William Bonner comparou o telespectador do Jornal Nacional a Homer Simpson ele estava dizendo exatamente isso.
O que fez agora a mulher do relho?
Ao confundir Al Jazeera com Al Qaeda é possível que tenha vindo à tona a ignorância da senadora pelo Rio Grande do Sul, mas também é possível que tenha sido uma grande jogada.
Afinal, as eleições estão aí e ela acabou de garantir a sua reeleição ao alimentar as mentes profícuas dos seus eleitores.
Esses predestinados lhe garantirão a reeleição, como outros o fariam em qualquer estado do Brasil.
No Farol da Barra, por exemplo, aqui em Salvador, fascinados com os conhecimentos geo-políticos dela, os camisas amarelas ovacionariam a senadora na manhã de um belo domingo de sol.
Al ckmin consta, são todos assim, poços de inteligência e cultura.
Al Moro nem se fala.
O que diria, por exemplo, o grande mentor e guru deles, o nobre juiz que, desmoralizado, desMorona a cada dia?
Ele diria que adoraria se na “Câmera” dos Deputados existissem mais políticos como a senadora do relho.
A senadora Ana Amélia é uma mulher tosca, grosseira e grotesca.
Até aí nada demais, porque as pessoas não são iguais e devemos respeitar as diferenças.
Mas ela é sobretudo uma mulher violenta e isso sim é um desastre.
Desastre porque em tempos de incompreensível e injustificável violência, quando ela, a violência, parte da mulher tornam-se mais evidentes os sinais dos perigos que nos rondam.
Ana Amélia é uma mulher branca, de olhos claros, de uma região privilegiada do país, jornalista, senadora da república e que, portanto, é parte da elite brasileira, o que quer que isso signifique.
“Eu não tenho provas contra Zé Dirceu, mas vou condena-lo porque a literatura me permite”.
“Sou contra a prisão antes do trânsito em julgado, mas vou votar com o colegiado, a favor da manutenção da prisão do ex-presidente Lula”.
A autora dessas duas frases acima, Rosa Weber, é uma mulher branca, de olhos claros, de uma região privilegiada do país, ministra do Supremo Tribunal Federal, portanto, também membro da elite brasileira, foi capaz de cometer essa enorme violência contra dois brasileiros ao lhes negar um direito básico de todos os cidadão brasileiros, a presunção de inocência. Que por acaso constitui cláusula pétrea da Constituição do Brasil.
“Outro dia eu falei com um juiz do trabalho, que disse: ministra, mas a senhora não acha… Primeiro, eu não acho, eu voto, eu decido. Ele disse: eu estava falando para florear, para a senhora não ficar de mandona. Não, meu filho, eu obedeci a Madre Superior, minha mãe, meu pai, namorado, professor, agora eu mando. Adoro mandar. Eu mandei, cumpra. Mulheres, depois que passa dos 50, a gente gosta mesmo é do sim senhora, não é do eu te amo. Se tiver o eu te amo junto, aí isso é um Deus. Sim senhora e eu te amo, aí é realização total”.
Esta pérola é da ministra Carmen Lúcia, presidenta do Supremo Tribunal Federal.
Do que é capaz uma mulher mal amada e de mal com a vida?
Que tipo de sentimento passa pela cabeça de uma pessoa assim?
Estamos sujeitos às leis da Constituição do Brasil ou aos humores de ministros de tribunais que de superiores nada têm?
Al Queda do Brasil é flagrante.
A queda, o tombo, o desastre brasileiro, como queiram chamar, é enorme e de difícil reversibilidade no curto e médio prazo.
Em todos os sentidos e direções.
Como é possível haver diálogo com pessoas que, em nome do preconceito e do ódio, tornaram tão pequenos seus horizontes?