Quando a arrogância desaba e o fascismo tenta se disfarçar

Bolsonaro ontem e hoje

Por Ronaldo Souza

Li algumas vezes que o ex-capitão Jair não teria nenhuma chance na campanha presidencial, pela absoluta ignorância sobre todos os temas, por não saber falar e porque não teria tempo de TV e rádio.

Confesso a minha perplexidade nos momentos em que lia coisas assim.

Eu não conseguia entender como as pessoas não viam que, para quem possui tamanha ignorância e não sabe falar, como o fato de não ter tempo na TV e no rádio podia ser ruim.

É completamente, exatamente, absolutamente, verdadeiramente, o contrário.

Foi um presente que ele recebeu dos deuses protetores da ignorância!

No debate em que foi, por exemplo, a sua participação provocou risos e o particular confronto com o cabo Daciolo, além de triste e vergonhoso pelo que se deve esperar de candidatos ao cargo máximo do país, foi um capítulo à parte.

Mas aí, em função do terrível episódio do atentado, condenável sob todos os aspectos, ele não compareceu aos outros debates.

Foi então que, já liberado pela equipe médica, resolveu não ir ao debate da Globo.

Quando os resultados das pesquisas chegam à população, os candidatos e suas equipes já sabem antes. Além disso, existem os trackings diários dos partidos.

Naquele momento, a onda Bolsonaro estava a todo vapor e já prenunciava a vitória no primeiro turno. A sua equipe decidiu então que o melhor era ele não ir ao debate.

Riscos?

Nenhum.

A convicção da vitória no primeiro turno que já se formava não dava margens para isso.

Só depois foi possível entender a postura desafiadora do ex-capitão Jair ao dar uma entrevista à Record, do bispo Edir Macedo, no mesmo horário do debate ao qual não iria.

Ele, que não fora ao debate protegido por um atestado médico, pisava no atestado e no pobre médico ao tomar aquela atitude.

Na sua cabeça, a certeza da vitória no primeiro turno lhe permitia fugir do debate sem nenhum risco.

Para quem amarelou, ser chamado de fujão, como foi, ou fazer jus a um merecido Atestado de covardia, em absolutamente nada seria afetado.

Ele já “estava” eleito.

Observar as reações das pessoas nos faz conhece-las melhor.

Observar as reações dos políticos pode nos permitir antever o que está prestes a acontecer.

Duas coisas me chamaram a atenção no domingo.

Na hora em que foi votar, naquele momento de gestos e palavras de efeito para microfones e câmeras, o ex-capitão Jair disse; “Acaba hoje”.

No mesmo momento, Haddad disse; “A alegria do povo na luta pela Democracia é o mais importante, independente de qual seja o resultado”.

Um parêntese.

Num momento tão decisivo para os candidatos e para o país, mesmo inspirado e motivado pela iminente vitória, o ex-capitão não consegue concatenar mais do que duas palavras.

Impressionante.

Fecha o parêntese.

Naquele momento, suspeitei do que estava por vir e que estava projetado no rosto do ex-capitão; a certeza da vitória no primeiro turno.

Os semblantes de um e de outro eram completamente diferentes.

Isso explica o indisfarçável abatimento na fala do ex-capitão Jair após a confirmação de que haveria segundo turno.

Foi enorme, impossível de esconder.

Ao seu lado estavam Paulo Guedes (Posto Ipiranga, como está sendo chamado porque é o guru de Bolsonaro, diz a ele o que deve fazer e será o seu grande ministro) e a tradutora de Libras.

Lendo no teleprompter o que escreveram para ele dizer, o ex-capitão não conseguia disfarçar a desilusão.

E ali, o desastre se exibia.

O texto que escreveram para ele ler é de uma pobreza fenomenal.

À altura do candidato, que agora, em alguns poucos minutos, tentava negar toda a sua vida de repetidos e agressivos ataques a tudo e a todos que passaram à sua frente, particularmente as minorias.

A sua desorientada equipe, ele mais ainda, além do discurso de derrotado para quem acabara de passar para o segundo turno com 46% dos votos, patrocinou um discurso patético como poucas vezes visto.

Fez lembrar Sergio Porto (mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta), no seu famoso FEBEAPA; Festival de Besteira que Assola o País.

Se oportunidade tivesse, naquele momento o ex-capitão sentaria à mesa com nordestinos jegues, negros promíscuos, “viados” asquerosos,  mulheres vagabundas… num grande jantar de confraternização em nome dos votos sobre os quais pisou a vida inteira.

E pelos quais agora faz qualquer negócio.

Agora, deputado, uma coisinha me deixou muito intrigado.

Quando você diz “e ficou e ainda continuo hospitalizado por aproximadamente 30 dias”, o que você quer dizer exatamente?

 

Será que é uma preparação de terreno para dizer que não vai…

Não, deixa pra lá.

Aliás, vou perguntar.

Será que é uma preparação de terreno para dizer que não vai participar dos debates?

Não, acho que estou imaginando coisas.