A casa que virou rua

Por Ronaldo Souza

Acheia-a diferente, muito diferente.

Tinha outra aparência, a começar pela maçaneta.

Tudo imponente!

Abri e vi a casa como jamais a tinha visto.

Colorida, alegre.

Não sei porque, saí, fui à minha casa, ali ao lado, voltei e entrei novamente.

Contemplei-a outra vez.

Saí novamente.

Quando voltei, já mais familiarizado, ia entrando quando alguém, que do lado de fora conversava com outras pessoas que pareciam esperar por uma inauguração, começou a gritar; “ei, não entre, não pode entrar aí não, vai atrapalhar…”.

Mas eu já estava entrando.

Só aí me dei conta de que a casa não era mais uma casa.

Era uma rua!

Larga, muito mais larga do que a rua que jamais existira ali.

Casas, muitas casas, coloridas e alegres como jamais existiram, de um lado e do outro, faziam uma rua comprida como também jamais fora a rua anterior, que jamais existira.

Mas ela tinha uma coisa familiar.

Lembrava muito as ruas que nos levavam aos alagadiços, assim chamado, creio eu (não tive tempo na infância para saber), porque era o lugar das famosas e “saudosas” enchentes que aconteceram naquele local. Uma delas, vi chegar por essas ruas.

Na rua Antônio Pedro, rua-sonho da minha infância, agora tinha uma casa que não era mais uma casa.

Era uma rua.

Será que aquelas pessoas que estavam ali estavam aguardando a sua inauguração?

Era mais um sonho?

A casa de Dito, o maior amigo de minha infância, não era mais uma casa.

Era um portal!

Um portal que me dava acesso a uma rua cheia de casas coloridas e alegres.

Será que meus pais e irmãos passeiam por ela?

Um sonho vivo e lindo dentro do sonho que foi a minha infância.

Um sonho vivo e lindo que a minha infância permite que o adulto que ela construiu continue sonhando.

Dito está vivo.

Juazeiro! Jamais morrerá.