A Endodontia Invisível. 2ª parte

Por Ronaldo Souza

Nos últimos 20 anos, quantos artigos foram publicados em periódicos importantes falando das virtudes dos materiais obturadores, particularmente dos cimentos, e consequentemente da obturação?

É impossível dizer, de tantos que já foram!

No mesmo período, quantos artigos foram publicados em periódicos importantes falando algo como “o insucesso não ocorre pela falha da obturação, mas pela falha do preparo do canal.”?

Quantos além do de Sabeti MA, Nekofar M, Motahhary P, Ghandi M, Simon JH. J Endod. Jul 2006, que citei no texto anterior (http://localhost/wp/endo2/a-endodontia-invisivel/)?

Dessa forma, parece haver quantidade abundante de evidências dando suporte à concepção de que a obturação do canal é o fator determinante para o sucesso do tratamento endodôntico e, ao contrário, praticamente nada sobre a possibilidade de que esse papel caberia ao preparo do canal.

Sendo assim, uma pergunta se impõe: há espaço para uma discussão desse tema?

Sob a perspectiva de que as evidências existem em quantidade absurdamente maior a favor da obturação, não parece haver.

Tanto é que essa discussão não existe!

Recordo e trago de volta um pouco de Dave Holmes et al. (Int J Evid Based Healthc 2006; 4: 180–186):

Isso torna difícil para os estudiosos expressarem novas e diferentes ideias em um círculo intelectual onde a normalização e padronização são privilegiadas no desenvolvimento do conhecimento.

 O indivíduo crítico deve então recorrer a estratégias de resistência diante de tais discursos hegemônicos dentro dos quais há pouca liberdade para expressar pensamentos.”

O que são “estratégias de resistência”?

Que estratégias são essas que permitiriam resistir e falar do que não parece haver interesse em ver e por isso se torna… invisível?

Ora, o que é invisível não existe!

Por que e para quem falar do que não existe?

Aqui, eu abro um parêntese para trazer uma história.

Vejam o artigo abaixo que publiquei em 2011. Observem no retângulo vermelho que ele foi submetido à publicação em 21 de dezembro de 2010 e aceito em 06 de janeiro de 2011.

Portanto, entre o Natal e Réveillon de 2010/2011 (duas semanas) ele foi submetido e aceito. Este pode ser considerado um prazo rápido entre submissão e aprovação, porque não é incomum levar meses para isso acontecer.

Em pleno Natal-Réveillon!

Devo imaginar que Lars Spangberg (editor científico do periódico) e revisores não devem ter encontrado erros no trabalho e, por isso, aprovaram “de imediato”.

No entanto, dois professores de Endodontia brasileiros não viram assim o artigo e carregaram nas críticas. Jogaram pesado. Apesar da rápida aprovação por Spangberg, a deduzir pelas críticas dos dois professores estávamos diante de um artigo de baixa qualidade!

Leia o artigo na íntegra clicando aqui e faça seu julgamento.

As críticas foram feitas no site do Fórum Brasileiro de Endodontia, que tinha à época (não sei como está hoje) centenas (milhares?) de participantes.

Fiquei sem entender aquela postura. E, diante da batalha entre os anjinhos e capetinhas da mente, fiquei com os anjinhos e adotei o famoso “deixa pra lá”. Fiz a vida continuar.

Por que não?

Sabe aqueles momentos que lhe pegam meio alheio às coisas, “viajando”?

Cinco anos depois, um deles me pegou e me atirou um questionamento na cara! Por que deixar passar em “brancas nuvens”?

E aí, não faço a menor ideia do porquê, exatamente 5 anos depois escrevi alguns textos sobre o ocorrido, que postei entre 08 e 17 de janeiro de 2016. Agora, 6 anos depois (sempre começo de ano), trago de volta os textos, porque eles se encaixam bem no assunto sobre o qual estamos falando: A Endodontia Invisível.

Mas, agora, com algo a mais. Detalhes ditos aí em cima não estavam naquele momento entre 08 e 17 de janeiro de 2016.

Os textos estão exatamente da mesma maneira como foram postados na época. Peguei cada crítica feita, uma a uma, e respondi contrapondo a agressividade dos comentários com respostas bem humoradas.

Vou dar um tempo para que vocês possam ler os textos (abaixo), para eu voltar a postar os atuais na sequência que estamos fazendo.

Clique nos links para ler.