A essência do ser professor

Professor

Por Ronaldo Souza

Sempre que ouço falar em sucesso, de alguma forma ele está atrelado ou é atribuído a materiais ou instrumentos.

Para usar como exemplo, o grande objetivo do tratamento de um dente com rizogênese incompleta deve ser permitir que ele complete a sua rizogênese.

O conhecimento e prática da Endodontia no tratamento de casos de rizogênese incompleta com polpa viva pedem que procedimentos que visem a preservação do tecido pulpar na sua plenitude ou o mais próximo possível disso sejam os escolhidos. 

Oferecer as condições mais favoráveis para que a polpa desempenhe o seu papel, no caso específico, formação de dentina radicular, é o grande papel do profissional da Odontologia, particularmente do endodontista.

Nos casos de rizogênese incompleta com polpa necrosada, a apicogênese não mais será possível.

O objetivo do tratamento deverá ser então o controle de infecção para que se dê a apicificação (fechamento apical), impossibilitada de ocorrer pela paralisação da rizogênese.

Dessa vez, isso se dará às expensas dos tecidos periodontais.

É da maior importância que o aluno de Odontologia aprenda que em uma ou na outra situação, tratamento da rizogênese incompleta com polpa viva ou polpa necrosada, cabe aos próprios tecidos do organismo desempenhar esses papeis.

Será da polpa o grande papel de permitir a continuação da rizogênese.

Nenhum material fará isso por ela.

Da mesma maneira, cabe aos tecidos periodontais promover o processo de reparo da patologia periapical.

Nenhum material fará isso por eles ou, pior ainda, melhor do que eles.

Tecidos do corpo humano são formados por células do corpo humano.

E em nenhum momento essas células deixam de existir e desempenhar seu papel; elas são continuamente formadas e não param de trabalhar.

Mas ainda que sejam continuamente formadas, elas podem ser “impedidas” de cumprir os seus papéis pelo trinômio -morte celular, necrose tecidual, infecção.

Cabe ao bom endodontista, ao remover o conteúdo necrótico através de um bom preparo do canal, exercer o controle de infecção

Tendo recuperado as melhores condições para que as suas células continuem formando os tecidos, será o organismo do paciente o grande responsável pela resolução da patologia instalada.   

Alguém poderá dizer que é assim que se ensina.

Não é.

De forma velada ou não, mecanismos de indução são acionados nesses momentos.

Não será, por exemplo, o MTA, ou qualquer outro material, o responsável pela formação de tecidos do corpo humano.

Não será, portanto, o MTA, ou qualquer outro material, o responsável pela formação do tecido que irá entrar em processo de mineralização e na sequência dos acontecimentos promover o fechamento apical.

Da mesma maneira, não será o cimento obturador, seja ele qual for, o responsável pelo reparo nos tratamentos endodônticos.

Não será.

A nenhum material cabe esse papel.

Determinados materiais podem, isso sim, contribuir, mas, deles, não depende esse processo.

Professores que viajam de um canto ao outro desse país deveriam ter mais cuidados.

Sair por aí, por esse Brasil afora fazendo a apologia de materiais e instrumentos não é conduta recomendável ao professor.

Afinal, eles são professores.

Por mais sedutor que seja o mundo que pode se descortinar à sua frente, o ser professor o torna diferente.

Referência, sem dúvida.

Mas é justamente o tornar-se referência que o deixa muito exposto, ainda que não o perceba.

Invertendo a ordem do que se costuma dizer, não há bônus sem ônus.

A apologia de materiais, sejam eles quais forem, não deveria ser a matéria prima do professor.

É o conhecimento técnico/científico que gera a boa informação.

Mas é o objetivo de vida de cada professor e de cada professora que gera a verdadeira formação.

Os nossos alunos são o que de melhor podemos oferecer à sociedade para a qual trabalhamos, nessa nobre missão de ser professor.

Sociedade que caminha para o aprendizado da observação mais astuta, como resposta às tantas vezes em que é enganada.

Não podemos perder isso de vista.

Se não tiverem alguns cuidados, professores, não demorará muito e serão identificados como mercadores.

E isso não será bom.