Já tive oportunidade de dizer aqui o quanto a grande (?) imprensa manipula o noticiário no Brasil. Para alguns talvez seja difícil acreditar, mas quem acompanha essas questões de perto já sabe disso há muito tempo. A Rede Globo, Veja, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo… esqueceram as regras do bom jornalismo. Isso não é de agora, muito pelo contrário.
Não sei para que falei isso, sabia que você não ia acreditar.
Outra coisa que você não vai acreditar, mas é por demais sabido que o Sr. José Serra é um homem que, politicamente, como devo dizer, é barra pesada. Antes que você ache que estou exagerando, vou dar um exemplo bem prático. Vamos a fatos recentes.
Em 2009, quando ainda havia a “briga” entre Aécio Neves e José Serra para ver quem seria o candidato do PSDB à presidência da república, houve uma guerra interna. Veja o que escreveu então Mauro Chaves, do Estadão (como é conhecido o jornal Estado de São Paulo), um dos jornalistas apontados como integrante da tropa de choque de José Serra.
Pó pará, governador?
Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março – "nem um dia a mais". Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos – o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma "exigência" a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de… De quê, mesmo?
O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior – já que os menores acabou de conquistar.
Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos – supondo-se que estes fossem os eleitores das "exigidas" prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser -, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?
Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou "exigido"?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas "propostas" de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques "prévios", para obter o voto do eleitor "prévio" cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de "boa pinta", só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja – quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.
Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques "prévios" diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias – que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.
Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.
O caso do "mensalão tucano" só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado – e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineir
a (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.
O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo – a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey… Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário."
E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?
Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor.
Agora vamos entender. Vamos começar pelo título. Por que a maldade e covardia do Pó pará, governador? Simples. A palavra pó entra aqui porque atribuem a Aécio Neves hábito, digamos, não convencional. Era um aviso: se você insistir na sua candidatura nós vamos jogar pesado. Viram a data? 28 de fevereiro de 2009.
Abro um parêntese para dizer que, como recebo quase que diariamente e-mails com muita bobagem atribuída a alguém famoso, se você quiser ver o texto original clique em Pó pará, governador?
Foram muitas iguais a essa. Vejamos o momento atual.
Nessa guerra interna no ano de 2009, Aécio Neves foi avisado de que pessoas ligadas a José Serra estavam investigando a sua vida pessoal. O deputado Marcelo Itagiba*, ex-secretário de segurança do Rio de Janeiro, braço direito de José Serra, estaria à frente dessa operação.
Minas Gerais se mobilizou. Aécio Neves e o jornal Estado de Minas puseram o jornalista Amaury Ribeiro Jr., ganhador de vários prêmios nacionais de reportagens, para fazer a contra-espionagem. Amaury viajou a vários lugares coletando material sobre José Serra e as pessoas ligadas a ele. O famoso caso do superfaturamento das ambulâncias feito por José Serra (será que conhecem essa história?), como tinham ocorrido as privatizações, tudo, inclusive sigilos fiscais.
Quando se decidiu que José Serra seria o candidato do PSDB, “acabou” a guerra. “Dispensaram” os serviços de Amaury. Ele então percebeu que tinha muito material nas mãos para simplesmente descartar. Resolveu escrever um livro, Nos Porões da Privataria.
Moral da história: essa questão que está sendo bastante explorada e amplificada há cerca de três semanas por toda a grande (?) imprensa já é conhecida há mais de um ano e nada tem a ver com a atual eleição (até agora são pelo menos 140 pessoas que tiveram seus sigilos violados). Parece que os caminhos levam a Minas Gerais.
Ou seja, todo dia dizendo que é coisa de bandido, do partido dos trabalhadores, da Sra. Dilma Roussef, Serra já sabia que o sigilo da filha foi violado há muito tempo. E achou normal, reagiu com a maior tranquilidade do mundo, como você pode ver nessa reportagem de 2009 do SBT Serra já sabia
Qual é a preocupação agora? Segundo alguns analistas, José Serra, o PSDB e a grande (?) imprensa já sabem que a eleição está perdida. Estão tratando de cortar a mata em volta para conter o desastre que o incêndio está provocando. O livro Nos Porões da Privataria disseca as privatizações no Brasil. Ia ser lançado antes das eleições, mas, Amaury Ribeiro Jr, recém contratado pela TV Record, parece que acatou o pedido da emissora para que só o fizesse depois. Os que já tiveram acesso a partes dele dizem que está todo documentado e que a coisa vai pegar para muita gente que fez parte das privatizações.
Você não está achando estranho demais a mesma reportagem, o mesmo do mesmo, por vários dias seguidos. Dizem que toda essa guerra da violação dos sigilos fiscais, além do desejo de levar as eleições para o segundo turno, já é para esvaziar o livro. Quando ele for lançado, dirão: é um livro apoiado em dossiês ilegais e falsos.
Você já percebeu que agora toda eleição tem dossiê?
Ah, ia esquecendo. Todos estão se perguntando qual vai ser a bala de prata dessa vez. Aquela que, como já fez antes, o Jornal Nacional vai soltar às vésperas da eleição, sexta-feira, quando não dá mais tempo para desmascarar, destruindo Dilma Roussef. Estão apostando que vai ser um vídeo com ela metralhando alguém.
*Marcelo Itagiba – Deputado Federal (PSDB), assessor de José Serra no Ministério da Saúde, Superintendente Regional da Polícia Federal do Estado do Rio de Janeiro e Secretário de Segurança Pública.