A fatalidade nas nossas vidas

Batista 3

Por Ronaldo Souza

Desde 2000, ano em que iniciamos o Curso de Especialização em Endodontia da ABO-BA, Gilson Blitzkow Sydney, ou simplesmente Gilson, era um dos nossos professores convidados.

Foi muito além de ser um “simples” professor.

Tornou-se um amigo.

Um grande amigo.

Nunca pensei que a morte de alguém tão distante na convivência diária fosse machucar tanto.

A vida ensina sempre.

E ela me ensinou que, ainda que tenha importância inegável, as grandes amizades não dependem do se ver e se falar quase todos os dias.

Ali estava Gilson.

Ensinando-me com a sua ausência a força da sua presença.

No carnaval, com a minha mulher e as nossas filhas na avenida em Ondina, ligava para ele e brincava.

– Sabe quem passou aqui agora no trio elétrico e perguntou por você? Ivete Sangalo. Cobrou que era mais um ano que você enrolava e não vinha.

Vinham de lá as suas conhecidas gargalhadas como resposta e a promessa:

– Um dia eu vou.

Era assim.

Gilson

Como fazer agora que ele não poderia vir mais a Salvador?

Como fazer agora que ele não poderia vir mais para o nosso curso?

Confesso que fiquei um pouco perdido.

Não bastava que fosse um bom professor.

Era fundamental que fosse um amigo.

Consegui trazer como convidados de outros estados para o nosso curso grandes nomes da Endodontia; Estrela, Felippe, Figueiredo, Francisco Ribeiro e Gilson.

Na sequência, um pouco mais recentemente, Rielson, de maneira diferente. Ele não vem, vou com os alunos a Campinas.

Nesses 17 anos, sem exceção de um único aluno, todos aprovaram sem restrição a participação desses professores.

Mas havia um detalhe.

À competência deles, para minha enorme e confessa alegria, estava atrelada como característica fundamental a amizade.

Mesmo numa atividade profissional, confesso as minhas dificuldades quando não consigo juntar as duas coisas; competência e amizade. E não nego o peso desta.

Faço uma confissão.

Quando ele parecia estar em ascensão, já sondei um colega e cheguei a dizer a ele para vir dar aula no nosso curso.

Não levei adiante.

Apesar de, sob uma certa perspectiva, a ascensão se confirmar, percebi que faltava algo.

Definitivamente, não sou um cara pragmático.

Como fazer então tendo em vista que Gilson não viria mais?

Professor Antônio Batista.

Membro da equipe de Gilson e seu amigo, foi ele que me veio à mente.

Já conhecia o seu trabalho e o próprio Gilson já me falara bem dele. E tive a alegria de dar aula no mesmo evento que ele no ano passado.

Foram 16 horas de muita qualidade, tanto nas aulas teóricas quanto na prática.

Pude ver, agora com um tempo maior, a qualidade do trabalho de Batista e o seu conhecimento.

Os alunos adoraram e enquanto escrevia este texto recebi uma mensagem deles, da qual trago um pequeno trecho:

“A turma gostou muito das aulas (teóricas e práticas)”.

Batista, foi muito legal, tudo foi bom, tudo valeu a pena.

Aproveitando as suas palavras quando disse que a fatalidade trouxe você ao nosso curso, eu me permito dizer.

A fatalidade que nos fez chorar mostra que há sempre algo de bom que se pode tirar mesmo de acontecimentos que deixam muita tristeza.

Apesar da ausência, Gilson continua presente.

Mas agora ganhamos mais um amigo.

E ainda que nem todos estejam na foto lá em cima, que uma aluna me enviou, valeu como registro.

Não deixa de ser um registro da saudade de Gilson.

Mas é também um seja bem-vindo a Batista.