A fratura exposta da estupidez

“Sergio Moro é a exata régua moral da nossa classe média:
Desonesto com postura moralista, corrupto com discurso edificante”
Nelson Lagoa

Por Ronaldo Souza

Há de tudo.

Em apenas 13 dias de governo, nunca foram vistos tantos erros, desmentidos, contradições e bobagens ditas e feitas.

Até secretário desmente o presidente da república, que teve mais uma vez que voltar atrás no que disse, como foi no caso com Marcos Cintra.

Bolsonaro perdido

Quem devia conduzir é conduzido.

Sob o “comando” de quem nada se podia esperar, ministros se mostram absurdamente incapacitados.

Leonardo Boff disse que o novo governo é o triunfo da ignorância e da estupidez.

Irretocável.

Ainda que a corrupção esteja correndo solta e envolva desde ministros a assessores, ex-assessores, motoristas, ex-motoristas, dinheiro depositado em contas da família presidencial, não há como não ficar surpreso com a ignorância e a estupidez em doses cavalares.

Com trocadilhos.

Nesse universo, chama a atenção o comportamento do ministro da justiça, Sérgio Moro.

Ressalve-se, não surpreende, chama a atenção, pelo cinismo aberto e escancarado.

Dizem que somos um povo de memória fraca, mas mesmo para essa fraqueza há limites. Afinal, o passado de Moro na república de Curitiba foi ontem, ou “onti”, como diz o nosso presidente.

Uma pequena correção.

Nosso presidente, não, uma vez que, aborrecido com os governadores nordestinos, ele próprio disse que não é presidente do Nordeste.

Sem problema, afinal, em se tratando de governo, o povo nordestino sempre foi órfão de pai e mãe.

Conta-se até que há um ex-presidente preso por ter ousado tentar tirar esse povo da orfandade.

Mas não vem ao caso.

Pois não é que o Moro, mesmo sem provas, até poucos dias acusava a todos de corruptos e já autorizava de imediato a prisão preventiva (que depois se tornava temporária, depois definitiva e agora quem sabe, como ministro da justiça, se transforme em pena de morte – mas só para um homem) agora deu pra perdoar todo mundo!

Uma simples explicação e um simples pedido de desculpas são suficientes para deixar livres e soltos homens envolvidos em corrupção. Corrupção comprovada com documentos e, meu Deus!!!, até pela confissão do próprio corrupto. Sem nenhuma necessidade de se recorrer à ferramenta de trabalho mais utilizada pelo atual judiciário brasileiro; a delação!!!

Tudo bem que Moro para conseguir executar o tripé do moderno juiz brasileiro – prender – julgar – condenar – estava apoiado num fantástico Power Point do brilhante procurador que só procura e acha o que quer e palestrante evangélico que tem linha direta com Deus (ele já disse que recebeu diretamente de Deus a missão de combater a corrupção; um predestinado).

Por falar nisso, por onde anda Dallagnol?

Deve estar procurando alguma coisa ou numa conversa reservada com o Pai do Filho.

O que terá acontecido para o ex-juiz Moro mudar tão brusca e repentinamente o seu jeito de ser?

Porque vamos e venhamos, é necessária uma grande “fraquejada” para gerar uma filha… não, não, para gerar uma postura dessa na cara de todo mundo.

Será que devemos encaminhar a pergunta ao juiz Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira?

Foi esse juiz quem assim definiu Sérgio Moro, o atual ministro da justiça; “doce, manso e cínico” (clique aqui para ler Cínico demais, diz juiz sobre Moro).

Do que o ministro foi capaz de dizer sobre Bolsonaro?

“Sobre o relatório do Coaf sobre movimentação financeira atípica do sr. Queiroz, o sr. presidente eleito já esclareceu a parte que lhe cabe no episódio. O restante dos fatos deve ser esclarecido pelas demais pessoas envolvidas, especialmente o ex-assessor, ou por apuração”.

Sensacional, não é mesmo?

E aí, na sequência, Moro conseguiu ficar com o controle de que?

Do Coaf!

Veja o decreto do presidente eleito que, entre outras coisas, estabelece o seguinte:

Decreto do presidente Jair Bolsonaro confirmou a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da estrutura do agora extinto Ministério da Fazenda para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Agora sob a responsabilidade do ministro Sérgio Moro, o órgão que, entre as atribuições, identifica operações financeiras suspeitas teve a estrutura alterada…

O que dirão os sábios eleitores do mito?

Ah, agora com Moro tomando conta da coisa, quero ver quem vai fazer mais corrupção!!! Pago pra ver!

A esses iluminados, só uma perguntinha.

Por que vocês acham que a família que jogou o ministério público brasileiro, polícia federal e os tribunais federais, incluindo o stf, mais uma vez no esgoto está tão alegre?

https://www.youtube.com/watch?v=LOJpga62Pow

Como o homem que não tinha condições de ir aos depoimentos alegando problemas de saúde, apresentando atestados médicos e até se internando (opa, já vi esse filme), de repente aparece dançando desse jeito, feliz da vida com a família?

Mesmo sabendo que o processo de estupidificação foi bem elaborado e bem executado e por isso “eles” não conseguem sequer fazer ideia do que está acontecendo no país, há sempre uma esperança de que, com o tempo, alguns percebam.

Mas, tudo bem.

Impunes, os Queiroz não deram a menor importância para os depoimentos para os quais foram convocados pelo judiciário e fizeram ridículos o judiciário brasileiro e os superiores tribunais federais.

E aí não tem como não fazer uma pergunta.

Os Queiroz estão confiando em que para humilhar, tripudiar e ridicularizar todo o judiciário do país?

De onde vem tanta força e confiança?

Ou a pergunta deve ser em quem estão confiando?

A caneta Bic, que tantos orgasmos provocou, está em mãos que lhes asseguram a tranquilidade para fazer festa.

A família Queiroz sabe que está protegida e jamais será incomodada.

Que fizessem isso, afinal o judiciário brasileiro e os superiores tribunais federais não merecem respeito há muito tempo.

Tudo bem, mas com o povo brasileiro!!!

Esse vídeo é uma afronta vergonhosa à dignidade do povo.

Advogado denuncia: Decreto de Bolsonaro suprime atribuições do Coaf, que não tem mais como prosseguir na investigação do “caso Queiroz”

Mas entenda porque tanta alegria na entrevista (aqui está só um trecho dela) com o advogado Carlos Cleto, que chamou a atenção para o decreto do presidente eleito.

Viomundo — Se o decreto de Bolsonaro já estivesse em vigor, como seriam descobertas as movimentações atípicas na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho mais velho do presidente, o deputado estadual eleito senador Flávio Bolsonaro (PSL)?

Carlos Cleto — O centro dos poderes do Coaf estava no inciso III – ”receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas, nos termos do art. 1º da Lei nº 9.613, de 1998”.

Perdida essa competência, o Coaf é privado de sua própria razão de existir…

ViomundoOu seja…

Carlos Cleto — Se na época da investigação sobre as movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz já tivesse ocorrido a supressão dos incisos III, VII, VIII e IX das competências do Plenário do Coaf, aquelas movimentações dele não poderiam nem ser investigadas.

ViomundoO decreto impõe a censura aos servidores do Coaf?

Carlos Cleto A proibição de “manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento”, além de já constar do decreto de FHC, é uma conduta inerente a qualquer órgão que trabalhe com apuração de questões sigilosas.

O problema do decreto não é este, mas a supressão dos poderes investigativos mais essenciais, o que as pessoas ainda não perceberam.

ViomundoOntem, 03/01, em entrevista ao SBT, Bolsonaro disse: ‘’ Falando aqui [bem] claro, quebraram o sigilo bancário dele sem autorização judicial. Cometeram um erro gravíssimo”. Foi mesmo um erro gravíssimo?

Carlos Cleto — Antes de Bolsonaro mexer no estatuto do Coaf, não havia nada de ilegal. O artigo  8º do estatuto que vigia possuía o inciso I, que autoriza o envio ao Coaf de informações de “movimento de valores considerados suspeitos”.

O inciso I do artigo 8º, vale relembrar, dizia que competia à secretaria-executiva

I – receber das instituições discriminadas no art. 9º da Lei nº 9.613, de 1998, diretamente ou por intermédio dos órgãos fiscalizadores ou reguladores, as informações cadastrais e de movimento de valores considerados suspeitos, em conformidade com os arts. 10 e 11 da referida Lei

Afinal, a lei nº 9.613/1998 criou o Coaf exatamente como instrumento de Identificação e Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro.

Portanto, ao investigar as movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, o Coaf não fez nada de ilegal.  Afinal, estava agindo dentro de suas competências legais.

ViomundoConsiderando que o Coaf foi criado como instrumento de Identificação e Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro, quais as implicações das mudanças feitas no estatuto por Bolsonaro?

Carlos Cleto –Lamentavelmente, significam enorme redução da capacidade de repressão aos crimes de lavagem de dinheiro e de ocultação de bens e valores por parte do Coaf.

Viomundo –  E o ”caso Fabrício Queiroz” como fica?

Carlos Cleto Sem as atribuições suprimidas por Bolsonaro, o Coaf não tem mais como prosseguir na investigação do “caso Fabrício Queiroz”.

Conclusão: a primeira medida de Bolsonaro, que se autointitula ‘’governo anticorrupção” foi enfraquecer o órgão anticorrupção.

O decreto acima foi assinado pelo presidente no dia 1º de janeiro, dia da posse do novo governo, e à noite já estava na edição extra do Diário Oficial.

O governo estava realmente com muita pressa.

“O empobrecimento subjetivo, que também leva à regressão do Eu, faz com que o brasileiro busque identificação com políticos, artistas, pastores, padres, comediantes e outras figuras públicas a partir daquilo que os une: a ignorância. Perdeu-se a vergonha de ser ignorante ou burro”
Magistrado Rubens Casara