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Por Ronaldo Souza
Éramos muitos, todos sentados à mesa
Pessoas, vozes, sons, uma coisa só
Em determinado momento, todas as pessoas, vozes, sons, haviam desaparecido
Estavam ali, presentes, mas haviam desaparecido
Estávamos sós
Eu e ela
Uma mulher
Linda, ouvinte, paciente
Enigmática
Encantadora
Quando dei por mim, estava me entregando
No seu silêncio, ela me envolvia
Naquele momento, o meu ser era tudo que eu tinha para dar
Ela percebia e me envolvia mais ainda
Meus medos, inseguranças, fantasmas… tudo ia sendo mostrado, como se ela já não os conhecesse
Fui me vendo, o homem
Nada mais, nem ninguém, estava ali
Só eu e ela
Irresistivelmente, sem pudor, o meu “eu” se mostrava, como se o Sol tivesse me invadido e, sob a sua luz, tudo estivesse exposto
Parecia não haver nenhuma parte da minha alma que não estivesse à mostra
E então, serenamente, ela debruçou o seu rosto sobre a mesa
Assustei-me um pouco quando vi que uma lágrima lhe correu pela face
Mas, antes de qualquer reação da minha parte, abriu-se um sorriso
Um discreto sorriso, belo e acolhedor, como eu jamais tinha visto
Só aí me dei conta de que estivera conversando com a Vida
Com a minha vida
Fazendo-se representar pela alma feminina, ela resolvera conversar comigo
E, só aí, também percebi que aquela lágrima e aquele sorriso eram uma mensagem
– Tenha calma, fique em paz. Está tudo bem
Sorri
E me pareceu ser o meu melhor sorriso
E uma paz enorme tomou conta de mim.