Por Ronaldo Souza
“A vida é bela. Viram? Então, com toda certeza, riram e choraram. Mais uma vez, a arte tenta mostrar como, às vezes, fazem a vida. Quem poderia, nas nossas vidas, gerar atos de tamanha violência, mesmo que disfarçada. Quem, pelo poder, poderia esquecer os mais elementares direitos à vida, através da arrogância e da prepotência. Mas, sobretudo, quem, como a personagem do filme, tem procurado dar vida à vida?
Mesmo assim, a vida é bela”.
Estes são os dois últimos parágrafos de A vida é bela, um texto que publiquei em março de 2008, no site endodontiaclinica.odo.br, aproveitando o título do filme que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro naquele ano.
Assim que digitei o título deste que escrevo agora, ele me veio à mente.
Fui ao site, reli e vi que, pouco mais de dez anos depois o modo como encerrei aquele texto não poderia ser mais atual.
Ninguém deveria precisar escrever sobre a beleza da vida.
Ela está aí para ser curtida, sentida, protegida.
Vivida.
Só “olhos bem mortos e apavorantes” não a veem.
Só “olhos bem mortos e apavorantes”, angustiados por não conseguirem ver que a vida é bela, veem-na sob o estigma das trevas, o estigma das noites onde não chega o amor.
As dificuldades com as quais convivemos no nosso dia-a-dia nunca nos fez ter a morte como companheira, como alguém que caminha ao nosso lado.
Não, nunca foi assim.
“Cor, riqueza, diversidade, simpatia espantosa e cordialidade” são a nossa marca.
Foi o “espírito brasileiro de inclusão, aceitação, amor e puro prazer na variedade” que nos fez ser vistos como o último povo feliz que ainda habitava a Terra.
Nós, que já perdemos tanto, não podemos perder a nossa alma.
Não podemos negar a vida.
Que soubemos viver como nenhum outro povo.
Assim reconhece o mundo, como bem descreve o ator britânico Stephen Fry, num depoimento emocionante.