Por Ronaldo Souza
O dia a dia é capaz de nos embrutecer, ainda mais quando vivemos num país em que a maior parte da população encontra grandes dificuldades para sobreviver.
As condições socioeconômicas geradas por muitos dos nossos dirigentes têm sido a grande causa dessa condição.
Nesse sentido, entretanto, não se pode esquecer do papel desempenhado pelas elites de nosso país. Tradicionalmente, elas têm exibido uma postura selvagemente cruel e destruidora das mínimas condições de sobrevivência para boa parte da nossa sociedade.
No entanto, apesar desse casamento duradouro entre elites e políticos, não se tem registro de outro momento igual ao que vivemos.
Há algum tempo, não se trata mais de política.
Inegavelmente, e somente a história nos mostrará isso com mais clareza, vive-se a bestialização da sociedade brasileira.
Entre outras coisas, momentos como o atual se caracterizam pelas seguidas tentativas de destruição da cultura do povo.
A inteligência, a sensibilidade e o conhecimento são os primeiros e mais importantes alvos. A ignorância sai à caça de intelectuais, artistas, pensadores, poetas, professores…
E são justamente eles que nos salvam.
Comemorando os 80 anos de Caetano, parte da família Veloso se reuniu ontem à noite, domingo, 07 de agosto de 2022, em um show que não foi um show.
Mesmo aos olhos de um anônimo perdido entre os mais de 200 milhões de brasileiros, não houve um espetáculo impecável, de consagração artística.
Via-se, por exemplo, uma Betânia mais contida e tímida e não aquela que tem nos arrebatado pelos palcos do país ao longo dos anos. O próprio Caetano parecia demonstrar uma certa timidez que não lhe é peculiar.
Mas foi, sim, uma noite de estrelas.
Não as do palco, mas as que brilharam no nosso Céu.
Foi destaque algo que sempre mereceu destaque; a genialidade do artista, com a força da irmã e a musicalidade dos filhos.
Mas também estava lá, a contundência do poeta.
“E o povo negro entendeu que o grande vencedor se ergue além da dor”.
No entanto, muito mais do que isso, estavam no palco a leveza e a sensibilidade, tão ausentes de nossas vidas nesses últimos tempos.
Pelo menos por uma noite, voltamos aos tempos da delicadeza.
Obrigado, Caetano.