À procura de um povo, à procura de um tempo

Povo brasileiro

Por Ronaldo Souza

Lembro que havia algo no ar, irreconhecível, sem cheiro, sem cor, impalpável.

Naquela praça, sentados nas cadeiras que tinham trazido de suas próprias casas, todos sentiam aquela coisa que não se reconhecia, não tinha cheiro, nem cor e não se podia tocar porque não se via.

Sentiam.

E sentiam lá dentro, bem no fundo, no âmago, nas profundezas da alma, onde reina o amor.

Respiravam e sentiam o frescor das manhãs que costumam trazer consigo o alento para a vida.

Estavam todos na praça da Igreja, sentados do lado de fora. Lá dentro não caberia tanta gente.

Estavam todos na frente da Catedral.

Com sentimentos tão nobres e puros que víamos subir para se encontrar com as estrelas, que em nenhum outro lugar do mundo resplandecem como nas noites do Natal de Juazeiro.

Correndo e brincando pelos espaços entre as cadeiras, veias daquele organismo, estávamos nós, as crianças.

Correr e brincar ajudava a esquecer um pouco a hora esperada, a hora em que pela chaminé (que não existia) da minha casa, entraria Papai Noel e deixaria o tão sonhado e esperado presente.

Ah, como seria bom se pudesse ter outra vez um pouco daquelas noites.

Abraçaria a todos, inclusive aqueles que mesmo sob o manto divino do espírito que reina nesses dias condenam o indulto de Natal, mas o fazem pensando particularmente na possibilidade de alguém ser libertado, ainda que seja somente durante as festas.

Abraçaria a todos, inclusive aqueles que mesmo no Natal levantam suas taças e fazem brindes orgásticos pela manutenção de um homem na cadeia.

O meu esforço, em vão, me deixou cansado.

Não consigo abraçar essas pessoas.

Hoje desejei ser criança outra vez.

Só a criança, no seu mundo impenetrável e cheio de magia, conseguiria isso.

Só ela, por não ver, na sua inocência, no que nos transformamos.

Onde estão aquelas cadeiras?

Onde estão aquelas mulheres e homens?

Onde estão aqueles sentimentos tão nobres e puros que víamos subir para se encontrar…

Para onde estamos indo?

Feliz Natal!

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Assis Valente