Era uma vez uma jovem que morava em uma terra distante. Naqueles tempos difíceis na terra em que morava, ela teve um sonho. Sonhou que a vida dos homens, mulheres e crianças daquele povo podia ser melhor, algo que beirasse a uma vida digna.
Jovem, muito jovem, e diante de uma conjuntura que nada permitia, mesmo aos jovens, saiu noite adentro na luta pela conquista dos seus ideais (alguns jovens costumam ter esses sonhos malucos). Abdicou do que ao jovem é dado ter; barzinho da moda, o último lançamento, a bolsa nova, e foi brigar pelo ar que lhe era negado.
Louca, não percebeu que nem sempre é permitido sonhar (só mesmo um jovem para não perceber isso). Não sei se você já percebeu, mas os jovens fazem muitas bobagens. É só o coração que conta. Razão, nem um pingo. É paixão, ímpeto, desejo, típicos deles (ah, como me lembro).
Consta que nessa loucura por coisas tão banais, como princípios e ideais, juntou-se a outros e enveredou por caminhos que pareciam à época, se não a única, uma das alternativas mais viáveis. Foi presa e torturada.
Dizia-se de tudo: guerrilheiros, assassinos cruéis, destruidores da família, comiam criancinhas, verdadeiros monstros. Imperdoável. Vamos acabar com essa raça. Onde já se viu, comer criancinhas. Aí todos ficaram com raiva deles. Para piorar as coisas, um país irmão, sempre preocupado em proteger os povos em perigo, também ficou zangado e passou a ajudar a caçar aqueles terroristas. Muitos amigos, filhos, irmãos, pais, maridos, desapareceram ou morreram.
Um dos defeitos do jovem é tornar-se adulto, quando geralmente o coração deixa de dar as ordens. A razão dita as ações. E a jovem, já adulta, tomou outros rumos, na verdade, os mesmos, só que de outra forma, mas fiel ao seu passado. Para o bem e para o mal, o adulto é a continuação do jovem, com outros gestos.
Estava traçado. Aquela mulher tinha que estar ligada a funções que, de alguma maneira, fossem reflexo do seu passado. Começa a ocupar postos que lhe permitiriam chamar a atenção pelo caráter forte e competência naquilo que fazia: entrara na política.
Em momento de grande desvario, aceita a indicação do seu nome como candidata ao mais alto posto de comando daquela terra, tendo como avalista um conhecido sapo barbudo, reverenciado pela grande maioria da população, mas odiado por forte setor dela. Afinal, era um sapo. Começaram então a surgir “fatos” que denegriam a sua imagem.
Daqueles tempos, qualquer ligação com eventual trajetória de luta (certa ou errada) que pudesse espelhar uma mulher de fibra, revolucionária (palavra que ganhou contornos condenáveis), foi esquecida. Só ficou o que pudesse ser manipulado e permitisse chama-la de terrorista assassina.
Um dos momentos marcantes foi quando um grande jornal de uma das províncias daquela terra publicou, em destaque na primeira página, a sua ficha de terrorista, com foto e tudo. Outros importantes órgãos de imprensa, inclusive grandes redes de televisão, destacaram mais ainda em letras garrafais e muitos decibéis acima do suportável pelos sensíveis ouvidos humanos.
Tratavam-na mais uma vez como sapa (e eles estavam certos, afinal sapa é sapa, sapa não é princesa). O mundo parecia ruir sobre os seus ombros.
Ocorre que em todo conto de fadas há os maus e os bons. Àquela época, outros meios de comunicação já estavam bastante disseminados na sociedade daquela terra, e jornalistas independentes mostraram, através dos diversos blogs existentes, que aquilo era um documento falso. A falsidade do “documento” foi comprovada pelo próprio órgão de onde se dizia ter ele saído. Por aquele documento falso, que tinha merecido destaque na primeira página daquele velho e decadente órgão da imprensa, o seu dono limitou-se a um pedido de desculpas que ninguém viu, porque foi publicado em poucas palavras em um canto qualquer daquele jornal. O problema é que não era a primeira vez que eles faziam aquilo, nem seria a última.
Se eu acreditasse em contos de fadas diria que a história tinha reservado dias especiais para aquela sapa. Uma senhora da alta sociedade daquela terra, viúva de um mega empresário das comunicações, achou que ela não parecia ser aquilo que diziam. Desconfiando disso, quis conhece-la mais de perto e em um belo dia resolveu convida-la para um almoço.
É evidente que essa senhora não estava gozando de boa saúde mental, afinal, onde já se viu, pessoa tão fina, da alta sociedade, convidar uma sapa para o almoço? E o pior de tudo, também convidou cinquenta das suas mais importantes amigas, o jet set do mundo feminino daquelas plagas.
É claro que não concordaram com aquilo, mas, como recusar ao convite da grande dama? Seria o fim das suas carreiras de amigas dela (dizem que naquele meio é muito comum a prática do alpinismo social). “A Lily (Marinho) estava um pouco ansiosa porque muitas têm até medo de chegar perto do PT e da Dilma. Mas todo mundo está chegando, graças a Deus”, dizia uma amiga da anfitriã.
Muitos comentários após o almoço: “Ela é uma política e tanto, tudo que ela falou está certo. Ela está preparada para governar o Brasil”. Alguns mais profundos: “Me surpreendeu positivamente. Acho que posso convidá-la para minha clínica de estética, que não vai fazer feio” (veja aqui).
Muitos jornalistas e fotógrafos presentes. Perguntada sobre o conhecido sapo barbudo (muito amigo da sapa e uma espécie de protetor dela), a grande dama respondeu: “Ele é muito inteligente. Ele conseguiu nesses anos se fazer apreciar na Europa, nos Estados Unidos, é um encanto. Não o conheço pessoalmente, mas acho ele fantástico”. Era a maior demonstração da sua insanidade mental.
A partir daquele dia, como que num passe de mágica, a terrorista, perdão, a sapa
se transformou em uma bela princesa. Mesmo jornalistas e colunistas sociais dos decadentes jornais se renderam a aquela metamorfose (veja aqui e aqui).
Estou quase acreditando em contos de fadas.