A subjetividade do homem

Desde a minha infância, ouvi dizer: “homem não tem medo, homem não chora”.

O homem foi criado para ser objetivo. Tenho a impressão de que não foi uma opção inteligente. O homem se trancou nos seus sentimentos, que ele imagina não ter, ou que não deveria. Como sofre.

Sensibilidade, emoção!!! Você está brincando. Pragmatismo, objetividade, essas são as palavras de ordem.

Esqueceram de dizer (esconderam ou não conhecem?) que existe uma coisa chamada subjetividade e esta o permite ter medo, chorar, porque não há outra maneira de ser homem, o homem que a mulher (de verdade) deseja ter ao seu lado; um homem pleno, também de verdade, que ri e chora.

Há alguns anos estava com três amigas na fazenda do pai de uma delas. Momentos maravilhosos de se lembrar. Fui por causa de uma delas, uma ex-namorada, que eu perdera por ser homem, e como tal, inseguro (acredite, o homem é inseguro nas coisas do amor). Apaixonados um pelo outro, mas, eu, homem, estúpido, perdera e tentava reconquistar.

Todos jovens, conversávamos sobre tudo e a certa altura surge a música Pai e mãe, de Gilberto Gil. Veja a letra:

Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei

Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe? Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo

Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger

Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Para me compreender

Não consegui convence-las de que Gil não era viado (o que, ficou chocado? talvez seja melhor dizer gay) por causa da música. Tempos depois, Gil lança Super-homem (clique aqui para ouvir). Aí ficou impossível.

Todos sabemos que homem e mulher são bem diferentes (que coisa boa). Sempre se atribuiu à mulher uma sensibilidade muito superior à do homem, uma verdade, até porque ele não só nega te-la como diz que não é coisa de homem, é coisa de viado, perdão, gay.

Mas, já na minha juventude, talvez pelas primeiras dores do amor (ou você pensa que tudo é um mar de rosas?), permitia que os meus sentimentos se manifestassem, mas também já começava a perceber que nem todas as mulheres estão preparadas para ter esse tipo de homem. Naquele momento, era compreensível, afinal, como disse, éramos todos muito jovens e há coisas que a juventude não permite saber. Muito natural.

Quando a mulher se queixa que o homem não lhe abre mais a porta do carro, ela lembra que já houve isso. Ele fazia quando ainda era o momento da conquista, e é interessante como nessa hora ele explora bem esse lado, a subjetividade aparece. Quantas mulheres devem existir que bem no fundo, se ressentem disso? Não era bem com aquele, ele não consegue entrar no mundo dela.

No sexo, momento de encontro e prazer absolutos, o velho macho latino-americano. Come a mulher. Dá duas, três, e o mundo está resolvido. Pobre homem. Não percebe que ao ser assim perde a mulher todos os dias. Vem alguém, e a faz sentir-se mulher. Não penetra na vagina, penetra na alma dela. Não deve ser fácil resistir. Ela sabe disso, ele não.

Está lembrado que falei lá em cima que o homem é inseguro nas coisas do amor? Custei a perceber (acho que na verdade a aceitar). A mulher é mais segura. Ela tem a subjetividade que ele não tem. O amor não conhece as coisas objetivas. Que o digam os poetas e filósofos.

Repito Nietzsche*, “somente sendo homem consegue um homem liberar a mulher em uma mulher”.

 

* Friedrich Nietzsche – (15/10/1844 – 25/08/1900) Filósofo, dos mais importantes do mundo, e filólogo alemão, que mais tarde adotou a nacionalidade suíça.