Antes, porém
Por Ronaldo Souza
Estava escrevendo um texto que nada tem a ver com política, quando parei um pouco para respirar e aí resolvi dar uma olhada na internet. Li então a matéria da Revista Fórum.
Não vi a “entrevista” de Haddad ao JN, como não vi nenhuma outra. São pelo menos 10 anos que deixei de assistir à Globo, particularmente ao seu “jornalismo”.
Vi, porém, alguns comentários em sites e blogs.
Bonner (aquele mesmo que disse que vê quem assiste ao Jornal Nacional como um Simpson, personagem medíocre em inteligência e sensibilidade de “Os Simpsons”, desenho animado da televisão) e Renata Vasconcellos fizeram da entrevista uma inquisição dos tempos da Idade Média.
Foram 62 interrupções às tentativas de respostas de Haddad (tinham sido 17 com Alckmin). De 27 minutos de inquisição, 16 ficaram com Bonner/Renata, sempre em tom agressivo. Somente 11 minutos com Haddad. Não foi uma entrevista bem conduzida?
Em uma das interrupções, Renata Vasconcellos se superou:
– O senhor já respondeu à pergunta de Bonner. Acho que ele já está satisfeito.
Ou seja, cale a boca!
Ao que Haddad respondeu:
– Mas eu não estou.
Segundo o jornalista Kiko Nogueira, a frase de Renata deve entrar para a antologia dos momentos mais vergonhosos da imprensa brasileira.
Quem conhece minimamente a obra de Nelson Rodrigues sabe de uma peça chamada “Bonitinha, mas ordinária”.
Veja o que disse Arcírio Gouvêa Neto, ex-jornalista do Globo e atual presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa):
“Me sinto envergonhado vendo o jornalismo brasileiro acabar de ser vilipendiado e ultrajado por Willian Bonner e Renata Vasconcellos nesta sessão de inquisição aos melhores moldes dos inquisidores da Idade Média. Isso não foi e jamais será jornalismo”.
Por que, de repente, às vésperas da eleição presidencial, a Globo resolveu massacrar Haddad?
Por que, de repente, às vésperas da eleição presidencial, resolveram ressuscitar coisas de até mais de três anos que já tinham sido abandonadas porque são inverdades comprovadas para tentar bater em Haddad?
Por que novamente a história de mais um “poste” de Lula???
Por uma razão bem simples; a Globo e os demais órgãos de imprensa estão em pânico.
É claro que ao dizer isso os coxinhas/bolsomicos não estão entendendo nada.
Não entendem porque da pesquisa DataFolha só mostraram a eles os números aparentemente favoráveis. Esconderam alguns gráficos, aqueles que mostram o crescimento assustador de Haddad.
Haddad estava crescendo a 1% ao dia (resultado da transferência de votos de Lula para ele), o que deve aumentar porque somente agora ele foi definido como o “cara” que vai ficar no lugar de Lula.
Isso só começou, porque é o próprio DataFolha quem diz que nada menos que 32% dos eleitores votarão com certeza no “candidato indicado por Lula”; além disso, outros 16% podem vir a votar, portanto, potencial de votos de 48%, que seria suficiente até para uma vitória em primeiro turno.
Esses dados só foram divulgados ontem, sábado, mas toda a imprensa já sabia.
Quer mais um dado?
Ainda de acordo com o DataFolha, a preferência partidária se mantém disparada no Partido dos Trabalhadores; a maioria dos eleitores não tem um partido de preferência (58%), mas entre os que citam uma legenda, 21% mencionam o PT, contra apenas 3% do segundo colocado, o PSDB; o MDB, de Temer, e PSL, de Bolsonaro, registram 2%, enquanto PDT e PSOL têm 1% cada”.
Por que será que a jornalista Eliane Cantanhede amanheceu o domingo dizendo que todos os candidatos deviam se unir contra o crescimento de Haddad?
Enquanto isso, ficam forçando a barra com a nossa língua para manipular os coxinhas/bolsomicos e aí, claro, eles ficam, como sempre, ignorando tudo. Quem tudo ignora…
Esse erro foi intencional, para alimentar a manada. Fazem isso todos os dias. Perceberam o exagero da forçação de barra e o consequente ridículo e corrigiram.
Sabe quem oscilou?
Ele mesmo, o capitão. Esse sim, dentro da margem de erro.
O crescimento de Haddad pegou todo mundo com as calças na mão (aguardemos as próximas pesquisas, a não ser que “segurem” os resultados um pouquinho).
O Valor, jornal dos Marinho, e o senhor “mercado” já estão falando de Haddad e Bolsonaro no segundo turno, com grandes chances para o… primeiro.
De acordo com Ciro Gomes o capitão “é o cabra marcado para perder no segundo turno”.
O ambiente, aliás, está ótimo entre eles, com o general vice tentando dar outra facada no capitão (seria a terceira, porque a segunda ele já deu). Um general, diga-se de passagem, à altura do capitão, o que é um elogio, tendo em vista que este é um “jênio”.
Devo dizer que também não vi os comentários sobre o episódio nas redes, mas consigo imagina-los. Com certeza, os “jênios” acharam Haddad muito fraco.
Gosto muito dos comentários deles.
Vamos sintetizar numa frase dita por eles em um momento qualquer; “não haverá passeata da direita pra defesa de corruptos ladroes”.
É sério?
Quem foi que coloriu as avenidas paulistas de verde e amarelo na luta contra a corrupção ao lado de Aécio, Serra, Alckmin, Geddel, Aleluia, Imbassahy… (o que fizeram do Farol da Barra, um dos cartões de visita de Salvador, meu Deus!!!).
De que convento eles são?
Querem se fazer de que?
Eles assustam pela incapacidade de fazer uma simples e única ligação, piores do que eu imaginava.
Estão fazendo igualzinho a Alckmin, quando diz em seu programa político que “o PSDB não tem nada a ver com o governo Temer”.
Enquadram-se basicamente em uma das duas categorias:
- Absurdamente ignorantes por nada saberem
- Absurdamente cínicos (para não dizer outra coisa) por acharem que nada têm a ver com a corrupção de Aécio e companhia
Ou nas duas.
O bom de tudo isso para Haddad foi, sem dúvida, o encontro posterior com Chico.
Depois de encarar jornalistas com o padrão Globo/FIFA (Ave Maria, assunto pra três quilos de conversa) de qualidade, nada melhor do que um encontro com o talento e a leveza de Chico.
Prazer e honra concedidos a poucos.
Agora sim, veja a matéria do Fórum.
Após entrevista no JN, Haddad se encontra com Chico Buarque
“Depois da Globo, Chico, porque ninguém é de ferro”, escreveu o candidato
No Rio de Janeiro, o candidato à presidência pelo PT, Fernando Haddad, teve um encontro com o músico e compositor Chico Buarque, após ser entrevistado no Jornal Nacional na noite desta sexta-feira (14). “Depois da Globo, Chico, porque ninguém é de ferro”, escreveu o candidato.
A entrevista na emissora chamou a atenção pelo tom inquisitório e pela quantidade de interrupções dos apresentadores. O candidato petista foi interrompido 62 vezes, enquanto o presidenciável tucano, 17 vezes.
“Não sei o que mais me impressionou: se o sangue frio e o poder argumentativo de Haddad ou o se o ar e a postura inquisitoriais dos ‘entrevistadores’, que já tinham réplicas antes da elaboração completa da resposta”, disse o escritor Lira Neto, autor, entre outros livros, de Getúlio, a biografia do ex-presidente Getúlio Vargas.
A foto com Chico Buarque fez sucesso nas redes. Em apenas 2 horas, a publicação já somava mais de 1,7 mil compartilhamentos e 7 mil reações. “Enquanto uns são apoiados por Gustavo Lima, Felipe Melo, Danilo Gentili… outros são apoiados por Chico Buarque. A diferença é gigante”, disse um internauta.