As grandes batalhas exigem homens de verdade

Por Ronaldo Souza

“Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”

A luta pela presidência agora é entre dois candidatos.

Todo o tempo disponível é só para eles dois.

Imagina-se que irão confrontar ideias, projetos de governo, alternativas, perspectivas…

Temos para isso duas formas; maior tempo de TV e rádio para cada um e os debates.

Na propaganda eleitoral na TV e no rádio, o candidato diz o que quer. Ali não há confronto, não há o contraditório.

Ele pode, por exemplo, dizer inverdades que, na verdade, são mentiras.

Mentiras que agora são ditas em inglês, ‘fake news’, mais uma forma de embuste porque “ameniza” o sentido da palavra.

Mentira é mentira e em muitos casos, canalhice, aliás, o que ocorre nesse momento. Pura canalhice, acobertada por órgãos superiores.

Veja o que fez o TSE, o Tribunal Superior Eleitoral.

A primeira notícia abaixo diz que o TSE mandou remover da internet 35 ‘fake news’  contra Haddad.

Trinta e cinco.

Digno de parabéns o TSE, não é mesmo?

Bolsonaro e fake news 2

Mas por que só fez isso no dia 06/10? A população só começou a tomar conhecimento disso às 19:31 do dia 06/10 (veja a seta vermelha), ou seja, à noite. Quantos leram? E se leram, que importância tinha a aquela altura?

As eleições eram na manhã do dia seguinte, 07/10. O que tinham de espalhar sobre Haddad (kit gay, fotos de sexualização de crianças e muito mais coisa, já tinha sido feito). Aproveito o nome do jornal da Globo (mais um), Valor, para perguntar; que valor teve essa medida do TSE para as eleições? Nenhum, zero.

Haddad foi prejudicado do mesmo jeito.

Tem alguma dúvida de quem fabricou essas mentiras o tempo todo?

Como você pode ver na matéria abaixo, sob o comando da família Bolsonaro já na segunda-feira começou tudo outra vez, da mesma forma.

Repetiam-se a mesma coisa, as mesmas pessoas, a mesma notícia, o mesmo jornal.

E ao TSE, pressionado pela equipe de Haddad (só assim), não restou outra alternativa se não mandar tirar outra vez. E a notícia foi dada no dia 11/10 (veja também aqui a seta vermelha).

Bolsonaro e fake news 2'

Você acha que parou? O próprio candidato faz uso desse artifício nas entrevistas e no seu horário eleitoral.

E quem mais?

Os seus espertos e dignos seguidores.

Como tem sido dignificante o que fazem nas redes sociais e no whatsapp!

Se houvesse um judiciário sério neste país, haveria alguma punição ao candidato Bolsonaro por parte do TSE, se este também se respeitasse?

O que você acha?

Fica claro assim que isso torna capenga e frágil a campanha de um só.

O que é campanha de um só?

Isso que Bolsonaro faz.

À distância, nas entrevistas e no horário eleitoral, sem Haddad por perto, fica ameaçando, xingando, desqualificando, reclamando que Haddad está fabricando muita fake news (!!!) contra ele…

É nos debates, portanto, que a campanha ganha a sua importância, particularmente no segundo turno.

É ali onde tudo pode acontecer, onde o candidato mostra o que é e o que tem para oferecer ao país. É ali onde podem se confirmar ou se modificar os votos.

Conhecer o perfil de um homem não é tão difícil quanto pode parecer.

Quando escrevi Atestado de covardia abordei essa questão e disse;

Jamais sumirá na poeira da história o atestado de covardia que o homem se dá.

Da mesma forma, quando escrevi Quando a arrogância desaba e o fascismo tenta se disfarçar, encerrei o texto assim:

Agora, deputado, uma coisinha me deixou muito intrigado.

Quando você diz “e ficou e ainda continuo hospitalizado por aproximadamente 30 dias”, o que você quer dizer exatamente?

Será que é uma preparação de terreno para dizer que não vai…

Não, deixa pra lá.

Aliás, vou perguntar.

Será que é uma preparação de terreno para dizer que não vai participar dos debates?

Não, acho que estou imaginando coisas.

O ex-capitão confirmou as minhas suspeitas.

Disse que não irá participar dos debates por questões médicas.

Entretanto, nos últimos dias o ex-capitão já apareceu diversas vezes na TV, deu entrevistas longas, mostrou disposição física e entusiasmo no domingo das eleições e, para não fugir (opa) do compromisso com a ração diária da matilha, fica chamando Haddad de canalha.

Como sempre, valente.

Mas você reparou que é tudo à distância?

Na quinta-feira (11/10), passou o dia em diversas atividades, deu novas entrevistas, fez um “comício” num hotel.

Na sexta-feira (12/10), não houve debate porque, de posse de um atestado médico, ele já tinha dito que não tinha condições de ir.

No “comício” para imprensa e correligionários, porém, num ato falho deixou escapar.

Bolsonaro covarde'

Não tem nada a ver com a saúde. É outra coisa.

Assim, mais uma vez, o ex-capitão desmoralizou o atestado médico e os médicos.

Para um soldado valente como ele, o debate de sexta-feira (12/10) não teria sido uma grande oportunidade de luta, de confronto, de olhar no olho e dizer o que ele quisesse a Haddad e principalmente ao povo brasileiro?

Por que não o fez?

Porque sendo somente dois candidatos, é claro que o confronto direto é inevitável. E o tempo para cada um “atacar” e ser “atacado” é maior.

O grande soldado farejou o perigo.

Mas não vai adiantar se ele “recuar” e disser que vai ver se participa de pelo menos um ou dois, o que seja.

Diante da enorme pressão, talvez esteja pensando nessa alternativa, porque assim Haddad terá menos debates e tempo para desmascara-lo.

E tem outra coisinha aí. Se ele fizer dois debates serão os da Record e da Globo, cada uma mais empenhada que a outra em eleger o candidato.

Como será, por exemplo, o formato desses debates?

Sei que você é um cara inteligente e sabe que essas coisas podem ser, como já foram, bem “arrumadinhas”.

E a condução do debate se torna uma armadilha.

Ou ninguém lembra mais do famoso debate entre Lula e Collor, só para citar um?

Não seria interessante se o povo brasileiro pudesse conhecer mais aquele que pode ser o seu futuro presidente?

Mas o soldado não quer. Está morrendo de medo.

Como Haddad pode falar e defender princípios, se Bolsonaro foge?

Como Haddad pode mostrar as suas ideias e lutar por elas, se Bolsonaro foge?

Como Haddad pode discutir e defender programas de governo, se Bolsonaro foge?

Como o eleitor brasileiro brasileiro pode conhecer os candidatos que desejam ser Presidente do Brasil se um deles não se apresenta, a não ser à distância, xingando e agora falando de vasectomia (!!!) e… chorando?

E no outro dia tome xingamento de novo nas entrevistas, no horário político e no twitter.

Programa de governo que é bom, nada.

O que viria nessa sequência era inevitável e nem mesmo mil palavras conseguiriam expressar isso com a mesma força que o humor ferino de cartunistas como Latuff.

Bolsonaro fujão''

Bolsonaro conseguiu o que parecia impossível; ficar menor que Aécio. Este, pelo menos, não fugia.

Jamais sumirá na poeira da história o atestado de covardia que o homem se dá.

Só nos resta recorrer à frase lá de cima.

“Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”.

Você sabe de quem é essa frase?

Dele.

O autor dessa frase é o ex-capitão do Exército Brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, cuja imagem é vendida como a de um soldado exemplar.

Não é essa a opinião do Exército Brasileiro.

Bolsonaro covarde

Bolsonaro e desvio de personalidade

Num relatório militar com 96 páginas, recentemente divulgado pelo DCM, o perfil do ex-capitão é apresentado em detalhes. 

Aqui, uma breve apresentação do relatório.

No link que coloquei logo em seguida, a imagem abaixo com o número 1 é a primeira que você vai ver; ‘passe’ por ela. É só a capa. “Desça” mais na página e encontrará o 2, esse à direita aqui embaixo. Observe que na parte inferior dele tem a numeração 1 of 96.  É nesse que você pode ver o relatório.

Bolsonaro e relatório do exército'''

Para ver o relatório na íntegra, clique neste link Canalha, covarde e contrabandista; relatórios expõem reputação de Bolsonaro no exército dos anos 80.

O homem e o medo

O medo é o pior inimigo do homem.

O homem tem medo do seu medo e, por não conseguir vence-lo, cria e veste capas para se vestir de “outro” homem. Nesse “outro” ele se vê mais forte, mais destemido, mais poderoso.

Perceba a valentia, a coragem e o poder que as togas dão a juízes e ministros.

Togados, homens podres se veem imaculados. Os eleitos dos deuses.

Mediocridade e canalhice se misturam e adquirem esse odor fétido que se espalha pelo país.

Qual será a sensação de quem veste capas e becas em solenidades?

Por que capas, becas e togas exercem tanto fascínio nas pessoas?

Ao apagar das luzes, voltamos a ser todos iguais.

Muitas vezes, à noite, estarão de volta os nossos medos.

Nessas horas, quando nos fortalecemos, ao amanhecer seremos homens e mulheres, simplesmente isso.

Mas é nessa coisa simples, sermos nós, que reside a nossa força.

Quando não nos fortalecemos, ao amanhecer iremos precisar de capas, becas e togas.

E, incrível, “brigaremos” por elas.

Há mundos em que se vive na violência e aí os nossos escudos são as armas.

Mas há mundos ainda piores, em que se vive a violência.

Ela se instala e finca raízes no ser.

Presa na nossa alma pela história de vida de cada um, nos tornamos amargurados, inseguros e violentos.

Nesses mundos, predominam as balas.

Tudo se resolve à força.

Como togas, para alguns as balas trazem o destemor, a valentia, a coragem, o poder.

Do mesmo jeito, vai-se o medo.

Que voltará à noite.

Não há ilusões quanto a muitas coisas que estão acontecendo e ainda estão por acontecer. Agora, mais do que nunca, sabemos disso.

A eventual eleição de um homem reconhecidamente inepto passa por muito mais coisas do que se pode imaginar, inclusive pelo medo de pessoas com muito medo dentro de si.

Essas pessoas, muitas inocentemente, são levadas a crer que a arma lhes trará proteção.

Difícil acreditar que pensamentos tão primários quanto esse são capazes de seduzir classes privilegiadas pelo acesso à informação, informação programada para se transformar em conhecimento, como os professores.

Poucas categorias poderiam se sentir tão orgulhosas, afinal, quem tem a missão de formar o homem e a mulher e com eles caminhar para o futuro?

Vamos lá.

Fernando Haddad, todos sabem, é professor.

E olha que coincidência, sua esposa, Ana Estela Haddad, também é professora. Professora de Odontopediatria de uma importante universidade brasileira, a USP.

O bom senso nos leva a imaginar que ela deve ser bastante conhecida na sua cidade e no seu estado.

Será que os professores colegas de universidade e os que pelo menos a conhecem um pouco e seus alunos sabem, já ouviram falar que ela, a professora Ana Estela Haddad, da área de pediatria, apresenta algum tipo de perversão sexual infantil?

Será que têm conhecimento de que o casal de professores apresenta esse perfil?

Talvez esses diversos professores que os conhecem, não devem ser poucos, possam ajudar a esclarecer esse episódio de livros de erotização de crianças que o professor Fernando Haddad teria mandado distribuir nas escolas.

Por sua vez, que professoras e professores são esses que passivamente aceitam esses livros nas suas escolas? Se não percebessem a aberração como professores, nenhum deles é pai ou mãe para imaginar as eventuais consequências nos seus filhos que, imagina-se, também são alunos?

Então, só para ficar nesse episódio, os professores não conseguem perceber que coisas assim só podem nascer de mentes doentes?

Só para ficar nesse episódio, os professores não conseguem perceber que quem recorre a esses artifícios para se eleger representa o que há de pior na escória da sociedade?

Repito, só para ficar nesse episódio, porque outros existem tão ou mais escabrosos.

Como ajudam a disseminar coisas como o patético kit gay, ou, indiferentes, se calam?

Como puderam descer a nível tão baixo e desonrar o ser professor?

Deixemos de lado o lucro com as armas, as ações da indústria de armas que disparam nas bolsas de valores, como está acontecendo agora. Isso é com os donos do dinheiro, não conosco.

Somos somente aqueles que, manipulados, tornam-se vítimas dos interesses e lucros.

Somos aqueles que, manipulados, serão os primeiros a sentir na pele e depois na alma as consequências do que está por vir, pelo fato de que quem dispõe do conhecimento, mesmo com a mente ocasionalmente dopada, deverá ser o primeiro a identificar o desastre, assim que recuperar a consciência.

Como diz o jornalista Ricardo Kotscho ao avaliar a situação do País, à beira do fascismo; “os eleitores [de Bolsonaro] não querem ler nem ouvir mais nada, já estão com suas sólidas certezas consolidadas. Não há mais espaço para diálogos minimamente civilizados… “.

Só perguntaria a Ricardo Kotscho.

Quando eles leram?

Se lessem, conheceriam minimamente a história.

Se conhecessem a história, saberiam o que bate à nossa porta.

Quando eles ouviram?

Se ouvissem, teriam ouvido o toc toc das primeiras batidas à porta.

Se ouvissem, já teriam ouvido os gritos de socorro de quem está sendo ofendido, agredido, violentado e o choro daqueles que já perderam alguém.

Imaginou-se inicialmente que eram só desprovidos de conhecimento, mas não.

Há carências muito mais sérias.

Há o alheamento dos omissos, numa pretensa neutralidade, na verdade tão covardes quanto os que fogem.

Há os que na sua ignorância doutorada e com o peito carregado de preconceito e ódio vomitam sobre os inocentes e tolos que insistem em falar de valores e direitos humanos.

Como já disse o general, vice do ex-capitão (que agora todos sabem como foi “saído” do exército); “Direitos humanos são para humanos direitos”.

Não demorou muito para vermos os humanos direitos agindo no país, sob a complacência de todos eles.

Perderam-se completamente e na ignorância ativa, sem perceber (direito dado somente aos ignorantes) que estão tirando o futuro dos seus próprios filhos e netos.

O mundo todo está perplexo e países como França, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra, só para citar alguns e pelo nível de civilidade que alcançaram, já enviaram sinais de alerta e manifestaram enorme preocupação com o que estão vendo.

O que mais pode haver onde não há dignidade?

Tantas coisas já estão acontecendo longe dos olhos e do olfato do povo brasileiro, mas é na violência que se manifesta a cada dia que temos uma noção mais precisa do que veremos atingir o coração desse país.

E não era esse mundo, tenho certeza, que existia em você.

Como também não acredito, sinceramente, que é esse o mundo que você deseja para aqueles que virão depois de você.

Seus filhos e netos.